Os ônibus livres das emissões poluentes

Na visão da ZEBRA, o transporte público coletivo é um modo essencial de mobilidade urbana, acessível, economicamente viável e de baixo carbono

Ao propor a aceleração da implementação dos ônibus urbanos zero emissões na América Latina, a parceria ZEBRA (Zero Emission Bus Rapid-deployment Accelerator), formada pela P4G (financiadora), liderada pelo grupo C40 de Grandes Cidades para a Liderança Climática e pelo ICCT (Conselho Internacional pelo Transporte Limpo), e com suporte adicional do Centro Mario Molina-Chile e do World Resources Institute (WRI), ressalta os esforços para superar as barreiras políticas, técnicas, financeiras e de mercado.

A atuação desse grupo elegeu alguns pontos para fomentar a maior presença de veículos tracionados por tecnologias limpas, como a garantia de compromissos políticos de Cidade do México, Medellín, Santiago e São Paulo para ônibus zero emissões e traduzi-los em estratégias para introdução em toda a frota e modelos de negócio inovadores; a disponibilização da tecnologia ao assegurar compromissos públicos dos fabricantes de ônibus e fornecedores da indústria em adaptar as tecnologias de ônibus zero emissões às condições locais; garantir 1 bilhão de dólares para o financiamento de ônibus zero emissões das principais instituições financeiras e investidores e dar suporte à criação de um pipeline de projetos na região e o compartilhamento das melhores práticas de eletrificação de ônibus entre as grandes cidades latino-americanas líderes na transição através de grupo de trabalho regional e eventos anuais.

Na visão da ZEBRA, o transporte público coletivo é um modo essencial de mobilidade urbana, acessível, economicamente viável e de baixo carbono. Mas as frotas de ônibus urbanos usadas por centenas de milhões de cidadãos ainda são movidas a diesel, uma tecnologia antiga e altamente poluente. Para enfrentar o duplo desafio imposto à qualidade do ar e ao clima pelos motores a diesel, as cidades devem fazer uma transição energética e tecnológica para ônibus que não sejam movidos a combustíveis fósseis.

E a introdução de ônibus elétricos nos ambientes urbanos é uma escolha feita pela iniciativa por não gerar emissões de escapamento e por sua eficiência energética ser até quatro vezes maior que a de um ônibus a diesel. A revista AutoBus fez três perguntas para Gabriel Tenenbaum de Oliveira, gerente do Programa ZEBRA pelo C40.

Revista AutoBus – Sobre a introdução dos ônibus elétricos nas frotas do transporte coletivo, principalmente na América Latina, ainda há algumas dúvidas quanto ao desempenho dos modelos e de suas baterias, em virtude da região exigir veículos com alta capacidade de transporte. Como a iniciativa Zebra está vendo isso?

Gabriel Tenenbaum de Oliveira – Na América Latina já há mais de 550 ônibus elétricos a bateria rodando e a previsão é que este número aumente exponencialmente ainda este ano e nos anos a vir. Em Santiago (Chile), onde os veículos já rodaram mais de dois milhões de km, a disponibilidade deles alcança patamares de 99,6%, segundo relatado pelo operador Metbus. O operador não teve nenhum problema de desempenho e, com base em seu sucesso e economia operacional (custos operacionais e de manutenção de mo-tor 70% inferiores), afirma que nunca mais compraria um ônibus movido a diesel.

Revista AutoBus – Vemos que os ônibus elétricos estão em constante desenvolvimento e são, numa relação Europa e América Latina, bem diferentes em suas configurações. É possível afirmar que necessitamos conhecer melhor a tecnologia por meio de um amplo programa de avaliação de cada conceito? É isso que a parceria Zebra propõe?

Gabriel – Vivemos uma crise climática sem precedentes e precisamos acelerar a transição rumo a frotas zero emissões. Existem tecnologias zero emissões com desempenho comprovado, custos reduzidos ao longo da vida útil do veículo e viabilidade econômica financeira e o projeto ZEBRA se propõe a acelerar sua introdução nas frotas das cidades latino-americanas. A tecnologia está pronta e sendo implantada com sucesso e em um ritmo acelerado, tanto na União Europeia, quanto na América Latina. Configurações diferentes são esperadas, dependendo das necessidades específicas. Por exemplo, carregamento de oportunidade e baterias menores foram usadas na Europa, mas esse não foi o caso na América Latina, onde a recarga elétrica em garagem é predominante.

AutoBus – E quanto a custos operacionais e de aquisição, bem como a continuidade do compromisso por parte do poder público municipal no que tange a manter em operação esse tipo de veículo, como a iniciativa vê essas questões? Sabemos muito bem que as vontades políticas mudam conforme um novo agente assume um mandato, correto?

Gabriel – A rede C40 de grandes cidades para liderança climática busca promover e manter compromissos políticos ambiciosos de ação de enfrentamento à crise climática em setores como transporte, energia, resíduos e alimentação. Hoje, cinco cidades da América Latina (Rio de Janeiro, Medellín, Cidade do México, Quito e Santiago) já se comprometeram a somente introduzir ônibus zero emissões em suas frotas a partir de 2025. Outras cidades seguirão o mesmo caminho. A crise que estamos vivendo pode oferecer a conjuntura para acelerar a substituição da frota, especialmente se levarmos em conta a já comprovada relação entre poluição do ar e índices de mortalidade devido ao Covid-19. Há mudanças visíveis na qualidade do ar (céu azul em Pequim!) que as cidades estão vendo devido à menor atividade de veículos. Os modelos de emissão zero oferecem a perspectiva de ter o mesmo céu azul quando esses níveis de atividade voltarem ao normal. Os políticos encarregados de políticas e investimentos para recuperar a economia devem ter isso em mente em seus planos de recuperação.

As cidades referidas no início deste texto concentram uma frota com quase 50 mil ônibus, seguidas por outras, também localizadas na América Latina, totalizando quase 91 mil unidades. de acordo com a iniciativa ZEBRS, há uma mobilização em torno de um objetivo comum de proporcionar planos e metas para a renovação dessas frotas, com a aquisição de apenas veículos com tração elétrica nos próximos 10 anos.

Imagem – Divulgação

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