A resistência do aço sueco

A viagem, na precursora rota entre as principais capitais brasileiras, era sem pressa

Há muitos e muitos anos

Se hoje uma viagem rodoviária entre as capitais São Paulo e Rio de Janeiro leva até seis horas para ser cumprida por ônibus de última geração, numa estrada com boa qualidade, pavimentada e com belas paisagens, imagine você, caro leitor, esse aspecto há 84 anos, quando a conexão entre as duas cidades era por um traçado nada privilegiado em termos de conforto e segurança, onde a poeira, os buracos e a lama foram constantes no caminho de quem se aventurava em ônibus, que aliás, não eram nada favoráveis quanto a suas configurações internas.

A rodovia Presidente Dutra ainda não existia, e a estrada Rio – São Paulo, com seus 508 quilômetros, fora, desde 1928, o elo entre as principais cidades brasileiras, permitindo que automóveis, ônibus e caminhões realizassem suas viagens, apesar do trem também cumprir com o seu papel de transportar pessoas e mercadorias (Central do Brasil).

Para impulsionar a mobilidade e o trânsito de pessoas, o Governo Federal resolveu reforçar os serviços de ônibus e, em 1939, a Empresa Pássaro Marron, existente até hoje, passou a operar a mencionada rota, com ônibus Volvo (chassis) e Grassi (carroçarias), fazendo o percurso em 12 horas.

Essa parceria mereceu destaque nas duas peças publicitárias desta nota histórica. A Volvo trazia seus chassis de caminhão diretamente da Suécia, enquanto a fabricante brasileira de carroçarias para ônibus, Grassi, dava conta de transformar esses veículos em modelos para o transporte de pessoas.

Para a operadora paulista, a estrutura do chassi Volvo (resistência do aço sueco), bem como o sistema de freio hidráulico, a suspensão reforçada e o motor com grande durabilidade foram itens essenciais em sua escolha pela marca para enfrentar os desafios da época.

A Cidade Maravilhosa e a Terra de Piratininga, assim associadas nesta publicidade da operadora paulista, estavam unidas por terra, evocando o potencial brasileiro para o rodoviarismo e suas consequências no desenvolvimento econômico do País.

O Vale do Paraíba (com suas belezas naturais) daquele tempo, por onde os ônibus da transportadora passavam, teve um momento questionado e nada animador, quando, então, foi retratado pelo importante escritor brasileiro, Monteiro Lobato, em seu livro “Cidades Mortas” (pela decadência do café). 

Contudo, quando um novo traçado nessa referida ligação rodoviária foi projetado e construído, com a inauguração da rodovia Presidente Dutra, recebendo pavimentação asfáltica, isso em 1951, a região foi beneficiada por meio de sua reafirmação no contexto da contribuição no crescimento brasileiro, com o avanço de importantes atividades econômicas.

Mas, esse fato não produziu benefícios para a Pássaro Marron, sendo que seu domínio caíra, literalmente, por terra na ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro, acabando substituída por outras duas grandes operadoras – Expresso Brasileiro de Viação e Viação Cometa -, ficando somente com as linhas intermunicipais. Hoje, a empresa é reconhecida pela eficiência, com alta capacidade técnica, unindo muitas cidades do Vale do Paraíba à capital paulista.

Imagens – Acervo Tony Belviso

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *