Abrindo a tampa do baú

Nesta viagem pelo tempo, vamos resgatar um pouco do início da operação dos ônibus monoblocos da Mercedes-Benz

O ano era 1958, quando então a Mercedes-Benz passou a produzir o seu modelo de ônibus integral O-321, também conhecido como monobloco. A montadora, recém-instalada no Brasil, trouxe um conceito inédito para aquela época, por meio de um veículo com construção que unia a parte mecânica à estrutura da carroçaria, sem a necessidade de um chassi.

Naquele tempo, o transporte de passageiros era realizado por muitos caminhões transformados em ônibus. Desse modo, a marca alemã quis distinguir-se no segmento com um modelo que apresentava um conjunto de uma peça só, como era reconhecido, tendo acabamento interno refinado, com poltronas reclináveis e estofadas, revestimento e layout em padrão que ampliava a qualidade. A suspensão (na dianteira era com molas helicoidais e era demonstrada pelo motorista com uma leve freada assim que chegava no ponto, visando a frente balançar e o passageiro ver a maciez e o conforto desse componente), transmissão, motor e estrutura da carroçaria eram outros diferenciais frente aos modelos existentes na época, proporcionando maior conforto e otimização operacional.

Para os transportadores daquele período, a novidade veio a calhar para atender as suas necessidades inseridas nos serviços executados. Uma das primeiras empresas a adquirir o modelo foi a mineira Irmãos Teixeira, fundada em 1951 por Antonio Virgilino Teixeira (tendo como sócio seu irmão Waldir Teixeira), atuando na ligação entre as cidades de São Domingos da Prata, Rio Casca, Coronel Fabriciano, Visconde do Rio Branco até Belo Horizonte, dentre outras linhas.

O respectivo ônibus foi adquirido na concessionária da Mercedes-Benz (Minas Diesel), na capital mineira, porém Antonio Teixeira foi buscá-lo na fábrica da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo, SP. Detalhe – naquele final de década, a maioria das rodovias brasileiras estava sendo construída ou pavimentada e exigia dos motoristas perícia nas ligações intermunicipais e interestaduais que ainda não estavam asfaltadas. O próprio modelo O-321 operou em muitos trechos sem asfalto, como na ligação entre Belo Horizonte e Coronel Fabriciano, desafiado a manter seu padrão de qualidade, frente às adversidades, como buracos, poeira e barro.

Após receber o veículo, novinho e pronto para as operações, Teixeira, em sua viagem de retorno à Minas Gerais, passou por Aparecida, a cidade paulista onde a fé católica é movida pela Santa Nossa Senhora de Aparecida, para benzer o ônibus. Aliás, a imagem, aqui presente neste artigo histórico, remete à uma antecipação daquela do ônibus do padre, numa antiga propaganda da Mercedes-Benz com o seu modelo O-326, lançado anos depois do O-321. Após receber a benção, o veículo seguiu o seu caminho para realizar as tarefas no transporte intermunicipal.

No relógio da antiga matriz de Aparecida, a hora exata da foto – 16h35 – registra um momento peculiar para quem acredita na fé e em suas virtudes, mostrando Antonio Virgilino Teixeira (ao centro), José Maria Fernandes (o José Tacinho, seu amigo), à esquerda, e o padre da paróquia local.

Imagens – Acervo empresa Irmãos Teixeira

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