Dez anos depois, o profissionalismo mudou de endereço

A admiração pelo que faz continua a mesma, trazendo consigo o respeito e a cordialidade para com quem faz o setor

Especial

Mário Magalhães de Albuquerque pode se considerar uma pessoa predestinada, adjetivo para tudo aquilo que viveu, promoveu e atuou no setor de transporte coletivo. Trata-se de um misto de sorte, competência, labor, visão de negócio, previsibilidade, flexibilidade e fé na espiritualidade. Sem dúvida, sua fala mansa, o jeito de tratar respeitosamente as pessoas, a empatia e o tradicional bigode (hoje sem ele) que lhe valeu o apelido de “Belchior” (cantor já falecido), dão o tom nesse acorde musical da profissão que lhe rendeu o reconhecimento por onde passou.

A revista AutoBus o entrevistou em 2012, para uma reportagem (título – Sob mãos profissionais. Mês – agosto) que ressaltou as suas qualidades quando ainda geria a ViaSul, uma das operadoras do transporte coletivo paulistano. Nesse tempo, foi de sua autoria colocar duas catracas no interior dos ônibus de maneira a acelerar o fluxo de passageiros no embarque, bem como fazer a instalação de luzes natalinas nos veículos que operavam no Expresso Tiradentes, e claro, promover uma gestão moderna, eficaz e consciente na mencionada transportadora, colocando-a num patamar de qualidade.

Passado algum tempo, a ViaSul ficou para trás. Como gente boa, deixou lembranças, amizades e o reconhecimento do trabalho dado é tarefa cumprida. A empresa que pegou, no jargão da profissão, era outra, convertendo-a para melhor, se comparar com a situação assim que assumiu a responsabilidade de efetuar profundas mudanças, necessárias e até criticadas. Pode ser que tenha criado alguma inimizade, pelo tempo que ficou à frente, mas quem é perfeito neste mundo de Deus?

Como tudo está em constante movimento, enveredou-se pela área da aviação. Ali aprendeu que lá em cima não tem acostamento e avião não pode parar, caso haja alguma pane. Portanto, a manutenção ou é perfeita ao extremo ou não é. Não há espaço para gambiarra, pois já podemos prever as consequências, correto? Com isso, absorveu muita técnica e conhecimento, para poder utilizar no setor de ônibus. Assim, algum tempo depois, assumiu a função de consultor, visando recuperar uma transportadora, mal das pernas, por sinal, com uma frota com mais de 50 veículos e só um rodando. Triste né.

Mãos a obra. Com determinação e trabalho, recuperou a empresa, um ano em meio depois, colocada a venda por seus proprietários. Feliz pela atuação, foi para a cidade paulista de Indaiatuba com um propósito – organizar e botar para funcionar outra operadora de ônibus. Por meio de um processo organizacional convincente, tratou de tornar a operação otimizada. Sucesso novamente.

Dali, um pulo até o Rio de Janeiro, então cidade sede das Olimpíadas de 2016. Começou como gerente de Projeto, sendo, após, convidado para fazer o transporte dos atletas olímpicos e paraolímpicos, onde administrou cerca de 3.200 motoristas e aproximadamente mais de 700 veículos. Apesar de, dormir somente quatro horas em algumas noites, não teve um problema operacional perante o montante de pessoas que utilizou os carros no evento esportivo. “Um sucesso para o nosso País”, ressaltou ele.

As andanças não pararam. Após o término do contrato na capital fluminense, seguiu para Ibiúna, também em São Paulo, onde criou uma empresa de transportes de passageiros, desde a garagem, admissão de motoristas e operação das linhas. Sua maior dificuldade? Conseguir profissionais do transporte, tendo em vista a cidade tem características rurais.

O eixo São Paulo – Rio de Janeiro foi uma constante em sua vida. Mais uma vez, após seu trabalho no interior paulista, Albuquerque foi consultor de manutenção e operação em uma operadora da Baixada Fluminense, contratado para reorganizar a operação e o setor de manutenção. Teve êxito, claro, sob a astúcia do bom conhecedor do assunto.

Tempos depois, chegou a ser entrevistado para uma vaga na diretoria em uma empresa que fazia a operação em Lagos, maior cidade da Nigéria (muitas eram as funções, como a direção operacional, manutenção, implantação de garagem e organização do trânsito da cidade). Tudo acertado, até que houve problemas sérios com os terroristas que atearam fogo nos ônibus estacionados e sem placas, com mais de 100 destruídos. Com fé no poder do Criador, resolveu recusar sua ida até o país africano. “Por aqui não me faltam oportunidades”.

Novos ônibus na frota da Ultra

Novamente, a convite de uma transportadora para reorganizar sua administração e manutenção, lá estava ele, agora frente à um desafio e tanto, pois a empresa se encontrava em recuperação judicial. Não titubeou. Reorganizou, com esforço e ajuda dos colaboradores, a manutenção e operação, saindo com mais essa vitória, pois, segundo relatos, ela está operando até hoje.

Atualmente, está, desde o início da pandemia, em São Paulo, cidade que mora em seu coração. De início, chegou para fazer uma consultoria à três empresas do mesmo grupo, com operação entre a capital paulista à Baixada Santista. Muito debilitadas, ele tinha um contrato para só três meses, com a função de levantar todos os problemas operacionais, de manutenção e administrativos. “Foram tantos os problemas, que foi necessário prorrogar por mais três meses esse levantamento. São 11 agências, com uma delas, a mais de 120 quilômetros da cidade sede, São Paulo”. O trabalho, que nunca é rejeitado, sempre rende boas situações, traz satisfações e provoca um gostinho de quero mais. Após o contrato terminado, tornou-se diretor-executivo das operadoras Rápido Brasil, Ultra e Ultra Turismo. “Já se vão dois anos e meio, para quem só ia ficar só três meses”, sintetizou. É a vida que segue, após uma década de ser ressaltado na revista AutoBus.

Assim, como um trabalho de carpinteiro, que sabe onde cortar na seção de madeira para haver o perfeito encaixe das peças envolvidas com a estrutura, Albuquerque tem o conhecimento de como provocar as essenciais mudanças, objetivando efetuar os ajustes no cotidiano operacional, resultando em uma otimização de processos que elevam a qualidade administrativa, dos serviços e da manutenção de uma transportadora. Religioso, dirá ele: “Que Maria me proteja sempre”!!  

Imagens – Divulgação

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