Em busca do passageiro perdido

Ao perder competitividade, o setor do ônibus urbano brasileiro também perde seu público

O transporte coletivo urbano realizado pelo ônibus no Brasil continua com os seus dilemas, num quadro operacional nada animador. De acordo com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), a pandemia de Covid-19 causou uma perda financeira estimada em R$ 36 bilhões, entre março de 2020 e fevereiro de 2023. Além do prejuízo financeiro, houve também a redução de 90 mil empregos diretos no setor. Em termos de paralisação dos serviços, 55 operadoras/consórcios operacionais deixaram de operar no período e ainda foram registradas 397 paralisações, em 108 sistemas de transportes coletivos por ônibus.

Francisco Christovam, presidente-executivo da NTU, ressaltou que houve uma recuperação de cerca de 80% da demanda de passageiros (antes da pandemia), porém houve a perda, definitiva, de uma parcela de clientes para o e-commerce, para o home-office, para os aplicativos e para a carona solidária. “Ao contrário da expectativa de evolução positiva da demanda, a perda financeira jamais será recuperada. Não se trata de uma receita diferida, ou seja, de recursos que deixamos de receber, mas que poderemos reaver no futuro. É um dinheiro que nunca mais entrará no caixa das empresas operadoras”, observou.

O executivo explicou que a entidade tem três desafios a serem superados, a curto prazo, por suas associadas: tentar recuperar os passageiros que deixaram o ônibus e optaram por outros modos de deslocamento; não perder mais passageiros e atrair novos clientes. “Estamos cientes de que esse desafio é muito maior agora, porque, depois da pandemia, alguns atributos da viagem sofreram mudanças significativas. Atualmente, os passageiros se tornaram mais exigentes e, para eles, não basta que o serviço tenha regularidade e confiabilidade. Hoje, eles querem também pontualidade, segurança, conforto, menos lotação e melhores condições de espera dos ônibus nas estações de embarque e desembarque”, salientou o presidente.

Com a perspectiva de aprovação do novo instrumento de reestruturação do transporte público (Marco Legal), com foco nas melhores práticas de prestação de um serviço de qualidade, as empresas alimentam boas expectativas para o setor, ao longo do ano. Nesse aspecto, a separação das tarifas (social e técnica) entra na discussão como forma para se obter rentabilidade na operação, sem onerar os passageiros. “O Marco Legal traz uma nova base jurídica que vai reconceituar a relação entre poder público e iniciativa privada. Até o momento, 38 sistemas já fazem a diferenciação da tarifa de remuneração, que cobre os custos da prestação do serviço, para a tarifa pública, que é o valor pago pelo passageiro, para realizar a sua viagem. Essa prática já abrange 12 capitais e regiões metropolitanas e outras 26 cidades”, finalizou Christovam.

Imagem – Arquivo SPUrbanuss

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