O ícone sucumbiu

Começa a substituição do tradicional modelo de estação de passageiros de ônibus em Curitiba

Por Osvaldo Born

Temos a comunicar o encerramento de um ciclo. Após 33 anos de bons serviços prestados, eis que um símbolo histórico e cultural dá vez à funcionalidade e à modernidade do novo modelo de estação com embarque em nível de Curitiba (PR). Sim, senhores, a icônica estação tubo da cidade sucumbiu aos tempos.

O novo modelo, nomeado como estação prisma solar, teve sua primeira unidade inaugurada neste mês de maio, junto ao Setor de Agrárias da Universidade Federal do Paraná, na junção entre os bairros Cabral e Juvevê, e faz parte de um amplo projeto de revitalização do trajeto da linha Inter 2 do Ligeirinho e da paradora Interbairros 2, incluindo todo o roteiro percorrido de modo circular na capital paranaense, com intervenções viárias e de modernização, inclusive com trechos de vias exclusivas para ônibus. A ideia é incluir ônibus elétricos no trajeto e dotar o roteiro, ainda um dos com mais passageiros na cidade, com um novo formato que recupere a demanda perdida e traga mais conforto e comodidades aos usuários. A estação Prisma Solar traz conceitos diferenciados, como o uso de energia fotovoltaica para sua autossustentação e ar-condicionado, além de amplo espaço interno para até 280 passageiros aguardarem com conforto o próximo ônibus. A estrutura, em aço e vidro, teve custo de aproximadamente R$ 4 milhões e foi montada pela empresa Eccoprax de Santa Catarina.

O interior das futuras novas estações

As icônicas

As estações tubo como conhecemos não devem deixar de existir, tanto que o modelo tradicional é o que vem sendo instalado neste momento na Linha Verde Norte, entre os bairros Tarumã e Atuba, no novo eixo de transporte que finalmente substitui em seu último trecho o antigo leito da BR 116 dentro da cidade. Mas, após aprovado o novo formato, é natural que venha a se expandir a outros eixos.

A estação tubo começou a ser usada no ano de 1991 quando foram lançados os Ligeirinhos, ônibus que pela primeira vez traziam o conceito de embarque em nível e pagamento antecipado da passagem nas estações, na linha que ligava o Boqueirão ao Centro Cívico que, devido ao sucesso, virou uma febre, tendo sido disseminado para todos os terminais de Curitiba e para as cidades da região metropolitana.

O conceito era mais amplo do que apenas a estação e reforçava a importância do ônibus, oferecendo ao passageiro o modelo ideal de sistema de transporte de massa: veículos pesados, com transmissão automática, amplo espaço interno (ampliado pela ausência de degraus e do cobrador), com poucas paradas, aviso sonoro das estações e bancos diferenciados. Posteriormente o sistema ganhou também aviso visual por meio de letreiros internos e veículos articulados.

Além disso, este formato passou a atender, também, as linhas expressas com o biarticulado em 1992. Porém, o modelo Ligeirinho acabou perdendo um pouco da eficiência ao não dispor, na maioria dos trajetos, da pista exclusiva – a intensificação do trânsito na capital paranaense acabou drenando parte de sua eficiência. Parte das linhas metropolitanas foram subornadas pelo motor dianteiro em um péssimo estilo multimodal misturando as vantagens do embarque em nível com 3 portas comuns do outro lado (matando parte do espaço interno) e mesmo nos veículos municipais foi implementada uma porta central com degraus, pois havia a ideia de operação sem os tubos nos fins de semana, situação que, ainda bem, nunca foi colocada em prática.

A estação tubo, também, evoluiu, e depois que passou a atender os expressos biarticulados, com a inauguração da Linha Verde Sul nos anos 2000 ganhou vidros espelhados, altura maior, cobertura nas portas entre outras melhorias. Mas, de antemão, todos sabiam que um dia sucumbiria. O formato circular perdia espaço interno de circulação, o conforto térmico nunca foi dos melhores e sua construção com vidros curvos sempre foi cara.

Poucos sabem que o tubo, na verdade, não nasceu para Curitiba. O arquiteto Jaime Lerner, idealizador do formato, o propusera para o estado do Rio de Janeiro onde, porém, não teve a velocidade política para implantação que ganhou quando o urbanista assumiu pela terceira vez a prefeitura da capital paranaense na década de 90. Na época tido como algo futurista, conta a lenda que alguns usuários desavisados entravam nas estações perguntando que horas elas partiriam. Brincadeiras à parte, a estação tubo virou ícone de mais uma revolucionária ideia dos urbanistas de Curitiba que, com vontade política, a disseminaram por toda a região metropolitana oferecendo um modelo que passou a ser copiado mundo afora, inclusive as próprias estações. Era sinônimo de eficiência. Mas, os tempos são outros e o conceito de eficiência, também, precisou ser repaginado.

O Novo Inter 2

O projeto do novo Inter 2 tem investimentos de cerca de U$ 106 milhões do contrato de financiamento do BID e a nova estação é a primeira de 11 que devem ser construídas no roteiro desta Linha Direta, que percorre 40 quilômetros em 28 bairros de Curitiba (PR).

Imagens – Osvaldo Born

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