O ônibus elétrico e a sua concepção na visão de Caio e WEG

Eletromobilidade é o assunto do momento quando se fala em ônibus urbano

É mais do que cantando, a verso e prosa, que a eletrificação é a tendência para o futuro da tração dos veículos sobre pneus, sejam eles automóveis ou modelos comerciais. No segmento de ônibus, tudo corre para isso, envolvendo a indústria nacional produtora de carroçarias e chassis, como também aquelas que desenvolvem as tecnologias relacionadas com a tração veicular.

A revista AutoBus conversou com duas dessas empresas, a encarroçadora paulista Caio, experiente na produção de carroçarias para o mercado urbano, e a WEG, que oferece soluções completas no que tange a eletromobilidade. Acompanhe um panorama sobre esse conceito e como ele está ligado ao desenvolvimento de um novo modelo de transporte.

Revista AutoBus – Quais são as tecnologias da WEG disponibilizadas para a configuração dos ônibus elétricos?

Valter Luiz Knihs (diretor de Industrial e Engenharia) – Estamos participando com quatro grandes partes da eletrificação de ônibus: ePowetrain (Inversor e motor elétrico de tração); Pack de baterias (tecnologia LFP – Lítio Ferro Fosfato); sistemas auxiliares (motor e inversor auxiliar) e infraestrutura – eletropostos (carregadores).

AutoBus – No que tange a baterias, sabemos que o ciclo de vida das mesmas é uma questão que ainda não foi respondida de forma absoluta até agora para os operadores. Como a empresa está tratando disso?

Valter – No caso WEG, já foi informado e respondido aos operadores e está nos contratos.

AutoBus – Qual o período que estima para que elas tenham uma densidade energética viável na operação?

Valter – Em densidade, já é viável.

AutoBus – O que fazer com elas depois de sua vida útil nos sistemas? Numa comparação simples, elas são como as baterias de celulares, em que a recarga, de modo aleatório, interfere em sua eficiência?

Valter – Esta rota de sustentabilidade já está bem desenhada com o reuso (aplicação BESS) e reciclagem após reuso (100% realizada no Brasil, por empresa brasileira existente e operante).

AutoBus – Em relação ao sistema de tração (motor e outros componentes), a WEG tem sua experiência pautada há um bom tempo. Toda essa tecnologia é desenvolvida aqui?

Valter – Sim, exatamente. Temos um centro de desenvolvimento em Jaraguá do Sul, Santa Catarina. E, reforçando, esta resposta é válida para todas as quatro grandes partes já citadas na primeira resposta acima.

AutoBus – Além da tração, a WEG também produz sistemas de recarga elétrica? Por favor, explique mais sobre esse modelo e suas vantagens.

Valter – Todas as soluções de eletrificação na mobilidade, conforme citado anteriormente, precisam de eletrônica, eletrônica de potência e software (firmware). As baterias são uma parte da solução e são em corrente contínua.  Portanto, as soluções de recarga são painéis com eletrônica de potência que convertem corrente alternada (rede) em corrente contínua para a aplicação em ônibus e em veículos elétricos. Para veículos de passeio eletrificados também temos em corrente alternada (semirrápido e lento) permitindo e simplificando o uso residencial e em estacionamentos.

Citando vantagens, ressalto a forma mais eficiente de levar energia para diferentes lugares, e sem poluir. Aqui no planeta é a elétrica via linhas de transmissão. É claro que, numa visão de sistema planetário, é a solar; praticamente a grande maioria das pessoas já tem eletricidade em “casa”; a energia elétrica é muito mais barata que combustível fóssil.

AutoBus – O que ainda assusta o transportador é o valor de aquisição do ônibus, muito acima do modelo tradicional a diesel. O que fazer para que a eletrificação não onere, demasiadamente, a operação e seja atrativa economicamente?

Valter – A adoção e uso fará os preços caírem da mesma forma que já aconteceu com os televisores, celulares, lâmpadas de LED etc. Além disto, quanto custa um ambiente poluído/poluidor para nossa sociedade e planeta? O uso do diesel tem implicações e responsabilidades muito maiores do que apenas o seu custo de aquisição.

Os ônibus elétricos a baterias buscam seu espaço nas cidades

Com a Caio, a revista AutoBus conversou com Paulo Ruas, CEO do Grupo Caio.

AutoBus – A encarroçadora tem planos para desenvolver um modelo com tração elétrica sob a sua engenharia, com um produto próprio?

Paulo Ruas – Não temos previsão de fabricar ônibus completo. A carroçaria eMillennium é adequada para todos os chassis elétricos.

AutoBus – Quais são as considerações levadas no momento de projetar e construir uma carroçaria dedicada a esse tema, como é o reforço necessário em sua estrutura e, também, atender os limites de torsões que são exigidos em qualquer operação por ruas e avenidas brasileiras?

Ruas – Quem conhece os produtos Caio sabe da tradição da marca em produzir veículos robustos e estruturalmente confiáveis. Um ônibus elétrico recebe mais carga no teto, comparado a um modelo com motor de combustão. São em torno de 3 a 4 toneladas, por isso a estrutura é minunciosamente estudada. Assim, a Caio usou toda a sua experiência no desenvolvimento de carroçarias no cotidiano de operação no Brasil, projetando uma estrutura otimizada, que atenda à expectativa do mercado, com segurança e durabilidade.

Para garantir uma estrutura robusta, são utilizados recursos com tecnologia de ponta (estudos virtuais) e estudos em campo, para analisar estruturalmente os modelos.

AutoBus – A integração elétrica é complexa e exige sistemas e componentes que deem uma operação compatível com toda a segurança, afinal, ônibus elétrico é muito mais do que um simples abastecimento energético. Quais os procedimentos disponibilizados pela Caio nesse sentido, tanto em evitar qualquer acidente, por parte da manutenção veicular, como dos passageiros, e ainda para que não apresente condições de perigo?

Ruas – Como já abordamos anteriormente, a carroçaria eMillennium foi desenvolvida especificamente para atender às necessidades desse tipo de tecnologia, mantendo toda a segurança em todas as etapas do processo, bem como no transporte de passageiros e na manutenção dos veículos. Desenvolvemos e disponibilizamos o material de garantia e operação que atendem a esses requisitos de segurança.

AutoBus – O mercado brasileiro demanda de um produto resistente frente às condições operacionais locais, como citado acima. A Caio é uma referência nisso. Porém, mais do que oferecer um veículo robusto, é necessário proporcionar um produto eficiente e com menor custo operacional. Como agregar esses temas para atender a clientela?

Ruas – O desenvolvimento do modelo eMillennium foi realizado com o foco em otimizar a operação de nossos clientes, trazendo soluções inteligentes e atendendo às necessidades e requisitos dos veículos com propulsão elétrica.

Por isso, a Caio mantém em sua linha de produtos itens intercambiáveis entre os modelos da marca. Também traz itens produzidos em polímero, material 100% reciclável, que alia acabamento superior, durabilidade e facilidade de limpeza. Além disso, por se tratar de um material mais leve, impacta positivamente no peso do veículo.

AutoBus – Na visão da Caio, é possível entender que outros meios de tração e novos modelos de combustíveis, devam estar no radar do transporte coletivo urbano brasileiro? Como ela participa desse contexto e até fomenta esse assunto?

Ruas – A marca Caio produz as carroçarias com tecnologia nacional aliada à empresa parceira, veículos para utilização em modernos sistemas de trólebus e ônibus híbridos. Temos parcerias por meio de nosso setor de inovação para fomentar novas tecnologias.

AutoBus – No segmento de transporte urbano, a preferência por veículos com menor valor agregado, os chamados ônibus com motor dianteiro, prevalece. Como alterar esse quadro para que o transporte possa dar mais conforto ao passageiro?

Ruas – Não se trata somente do valor agregado, mas também a questão da necessidade do cliente que precisa de um ônibus com motor dianteiro para rodar em linhas com vias mais irregulares e íngremes, por exemplo. Os tipos de produtos são definidos por normas regulamentadoras municipais, em sua maioria. Para alterar este quadro seriam necessários fortes subsídios para os operadores de transporte de passageiros, o que depende de abundância de recursos públicos.

Imagens – Divulgação

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