Os benefícios do gás natural, biometano e hidrogênio

As alternativas podem andar juntas com outras modalidades de tração

Editorial

Recentemente, a Gasnam-Neutral Transport, associação de transporte sustentável que integra a cadeia de valor do gás natural, biometano e hidrogênio com vistas às operações do transporte terrestre, marítimo e aéreo na Espanha e Portugal, divulgou um relatório em que mostra as vantagens ambientais do uso de formas renováveis de combustíveis nos diversos segmentos da cadeia logística e de transporte nos respectivos países em 2022.

O trabalho, com um diagnóstico do uso desses combustíveis e realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade Pontifícia Comillas, mostrou que se evitou a emissão de 500 mil toneladas de CO2 na Península Ibérica no ano passado. De acordo com a entidade, é um setor essencial para alcançar uma economia neutra em carbono em meados deste século.

O biometano é considerado uma solução imediata para o crescente número de veículos movidos a gás naqueles dois países. 23% dos novos emplacamentos de ônibus na Espanha, em 2022, foram com motorização a gás, enquanto a participação dos emplacamentos de caminhões GNL chegou a 4,6%. A Espanha é o terceiro da Europa em frota de ônibus a GNV e o primeiro em caminhões.

Somente no território espanhol, são 250 pontos de abastecimento de GNC/GNL. Contudo, há projetos para mais 30, sendo encaminhados, todos em condições de fornecer biometano sem precisar fazer quaisquer modificações.

O relatório destaca que há um aumento exponencial na produção de biometano, que pode se multiplicar por 10, somente na Espanha, entre os anos de 2022 e 2025. No entanto, apesar do papel decisivo que o biometano pode desempenhar na descarbonização dos transportes, naquele país existem apenas oito unidades de produção (349 GWh/ano) e 13 usinas pilotos (22,86 GWh/ano), com menos de 4% disso alocado na capacidade de produção para os sistemas, durante o ano passado.

Quanto ao hidrogênio verde ou renovável, a Espanha ainda não se enquadra ao objetivo de implantação de postos de abastecimento e de uso desse combustível como recomendado e solicitado pela Europa. Em 2022, os ônibus com célula a combustível começaram, timidamente, a romper o mercado local, com a incorporação de nove unidades. São nove estações de abastecimento, das quais apenas duas acessíveis ao público. Estes números estão muito longe do metas estabelecidas para 2030 no Roteiro para o Hidrogênio (100-150 unidades na Espanha) e do regulamento europeu, que propõe uma estação para cada 200 km de rodovias e nos centros urbanos.

Como se vê, o planejamento é uma palavra essencial quando o assunto sobre a redução das emissões poluentes gira em torno do transporte europeu. Vê-se que a participação conjunta entre iniciativa privada, poder público e sociedade dá resultado, na forma de maneiras diferenciadas de tração e combustíveis para a mobilidade urbana. Lembrando que Espanha e Portugal se assemelham quanto ao transporte brasileiro, usando, de forma significativa, o ônibus nos sistemas urbanos locais.

Aqui no Brasil, com o seu enorme potencial para a produção de biometano (agropecuária, lixões e estações de esgoto) e hidrogênio verde (etanol, por exemplo), é preciso promover a criação de políticas públicas que favoreçam o contexto, permitindo que haja uma expressiva transformação dos modelos de mobilidade, precisamente, a coletiva (serviços de ônibus) e no transporte de cargas, por exemplo. Lembrando que o biocombustível pode substituir, de imediato, o óleo diesel na matriz energética dos modais citados, significando uma grande redução de gastos (cerca de 23% de todo o diesel consumido aqui é importado).

É necessário o engajamento de todos (indústria, operação, fornecedor do insumo, sociedade, governos), se queremos que o Brasil continue ser reconhecido como o país das oportunidades. E, tornar a tecnologia atrativa, financeiramente, é fundamental para que haja investimentos por parte dos operadores e companhias de gás. Para isso, precisamos sair do campo das discussões e debates para colocar em prática medidas que visem a descarbonização do transporte, em uma forma ampla e diversificada, não apenas com uma matriz energética.

Imagem – Divulgação

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