Pelo túnel do tempo

O que hoje virou sinônimo de sofisticação nas estradas brasileiras, há bons anos era apenas um protótipo com grande tendência de tirar o fôlego de empresários e passageiros

Neste revirando o fundo do baú, vamos abordar o primeiro ônibus rodoviário com dois pavimentos feito aqui no Brasil. Também chamado de Double Decker, termo em inglês que faz referência aos modelos estrangeiros, o veículo teve seu projeto nacional concebido no final dos anos de 1980, pela extinta encarroçadora paulista Thamco, então especializada na produção de carroçarias urbanas. A fabricante resolveu incursionar num mercado altamente competitivo com um modelo inédito para a época, que talvez nenhuma grande fabricante ainda pensasse para o segmento.

O que existia, até 1989, eram versões com piso alto, bagageiros passantes e excelente visual externo aos passageiros, incorporadas nos modelos Paradiso (Marcopolo) e Diplomata 380 (antiga Nielson), um chamariz para as viagens rodoviárias em linhas regulares e também para o setor turístico.  

Chamado de Gemini, a carroçaria possuía desenho constituído por linhas retas, com comprimento de 13,20 metros e a altura de 4,26 metros, fatores que chamaram a atenção do mercado. Montado sobre mecânica da Scania (chassi K112 TL), o veículo foi exposto, em 1989, no 6° Salão Internacional de Transporte (Brasil Transpo). A configuração causou surpresa no segmento, que ainda não estava acostumado ou preparado para a novidade, ou por ser um produto oriundo de uma empresa que não tinha experiência no setor rodoviário.

Aspecto conceitual que causou surpresa ao segmento do transporte rodoviário

A capacidade do modelo era para 76 passageiros, sendo 20 no piso inferior e 56 no superior, na modalidade convencional. Contudo, o arranjo interno em seu salão de passageiros possibilitaria oferecer dois tipos de serviços – leito no andar inferior e executivo no superior ou uma categoria luxo, com alto grau em conforto e segurança, com a instalação de uma sala de jogos, de estar ou até um pequeno bar no 1º piso, com 1,80 metros de altura e poltronas requintadas no 2º pavimento, de altura de 1,70 metros. Sua estrutura era construída com perfis de aço carbono na base, laterais e teto, revestida de alumínio (teto e laterais) e fibra de vidro (frente e traseira).

Para sustentar a carroçaria, o chassi Scania K112 TL, versão 6×2, com motor DSC 11 desenvolvendo 333 cv, caixa de transmissão com 5 velocidades e suspensão pneumática em todos os eixos, já era uma referência positiva nos mercados argentino e europeu, utilizado para os modelos rodoviários com dois pavimentos existentes nessas regiões.

Entretanto, o projeto Gemini não obteve sucesso operacional, mas ele ficou reconhecido pela ousadia em provocar as primeiras modificações no ônibus brasileiro, transformando-se em um objeto de inspiração para que outras encarroçadoras investissem seus esforços, em outros tempos, no desenvolvimento dessa versão.

Imagens – Acervo Scania e extinta revista Revistur

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