Ainda sem luz no fim do túnel (e com o tanque vazio)

Enquanto não há luz na outra ponta do túnel, que o interior deste seja iluminado por um farol de longo alcance e não por um candieiro

Editorial

Sem a adoção de medidas práticas e políticas governamentais públicas, o setor brasileiro de transporte coletivo urbano segue sem rumo em um túnel escuro, onde ainda não há perspectivas de melhora dos serviços, caminhando ou melhor, operando na forma combalida, promovendo o descontentamento dos passageiros e quiçá, deixando um legado nada favorável à mobilidade nas cidades.

Como diria meu pai, um matuto rural – o resurtado é isso que estamos vendo, sem algo de bom pela frente.

Como atividade regulamentada pela gestão pública municipal, o transporte coletivo está sempre a mercê das influências externas que impactam diretamente em seus custos, como o preço do combustível, por exemplo. Os constantes reajustes do diesel têm sido, na tônica do setor, um verdadeiro calvário para a sobrevivência dos negócios, afinal, ônibus, por enquanto, não transita sem nada no tanque.

Alguns até podem falar: por isso que precisam ser elétricos. Mas quem garante que os preços da energia elétrica serão razoáveis para alimentar uma frota com mais de 100 mil veículos? É um dilema que está associado ao segmento nos últimos anos.

A Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) mostra sua insatisfação com a situação da elevação dos valores do combustível, impactando negativamente no cotidiano de suas associadas. Em recente Nota de Posicionamento, a entidade ressaltou que a omissão do Governo Federal frente aos sucessivos reajustes do óleo diesel, insumo que representa em média 26,6% do custo do transporte público coletivo, está forçando a insolvência das empresas operadoras e o colapso dos sistemas de transporte público organizado em todo o País.

Se já estava ruim, tende a piorar ou até desaparecer. Parece uma premonição, mas é uma realidade muito próxima e que terá efeitos nefastos na ordem urbana. Segundo a NTU, muitas prefeituras e governos estaduais têm demonstrado sensibilidade com os efeitos da crise sobre a população e feito esforços no sentido de reduzir a carga tributária ou subsidiar a prestação dos serviços, mas nem todas as cidades têm condições financeiras para enfrentar a crescente pressão da alta dos insumos, com destaque para os combustíveis, que dependem de políticas nacionais de preços.

A questão da elevação do preço dos combustíveis é só mais um exemplo sobre atitudes e ações governamentais que precisam ser revistas. Somos reféns de administrações públicas e do sistema político que só enxergam o seu lado corporativista, sem levar em consideração o verdadeiro senso de coletividade e do planejamento urbano.

Para a associação nacional NTU, assistimos hoje a uma inversão de competências, onde a iniciativa privada, que é contratada pelo poder público para operar os serviços de transporte coletivo, assume o papel do Estado e sustenta o transporte público coletivo urbano à custa de um endividamento crescente e insustentável.

Portanto, se há alguma expectativa de melhora, é necessário que haja o equilíbrio econômico-financeiro dos sistemas de transporte público e a adoção de uma política de preços para os combustíveis que garanta um mínimo de previsibilidade e estabilidade. Ninguém compra ônibus e diesel para ficar passeando, mas sim para realizar uma atividade que é de extrema importância na conjuntura das cidades – locomoção de seus habitantes e o desenvolvimento econômico das mesmas.

Enquanto não há luz na outra ponta do túnel, que o interior deste seja iluminado por um farol de longo alcance e não por um candieiro.

Imagem – Reprodução Diário do Turismo

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