Faixas compartilhadas

Permitir que o transporte individual utilize as vias prioritárias aos ônibus é um retrocesso

Dizem que da cabeça de político pode sair de tudo (de coisas sensatas à ações impublicáveis). Recentemente, uma ação governamental, que se insere na segunda categoria, foi mostrada como um exemplo a não ser seguido. No Distrito Federal, o governo local resolveu liberar a faixa exclusiva para ônibus, vans escolares e táxis da Estrada Parque Taguatinga (EPTG), para que todos os veículos possam transitar. Mais uma vez, a desvalorização do transporte coletivo e dos ônibus urbanos é retratada por meio de equívocos de gestão pública, que, na maioria dos casos, não está compromissada com o desenvolvimento urbano e a modernização dos serviços.

De acordo com a NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), essa decisão vai na contramão das recomendações técnicas e melhores práticas de mobilidade urbana e sustentabilidade ambiental adotadas em todo o mundo, e terá efeito contrário na redução dos congestionamentos, pretendida pelo governo local.

Ainda, segundo a entidade representativa, é de consenso, entre os especialistas, que a solução para melhorar o fluxo do trânsito nas cidades é aumentar, e não diminuir, a prioridade dada ao transporte público coletivo, que responde por 28% de todos os deslocamentos de pessoas, sendo que os ônibus urbanos contribuem com 85,7% desse total.

Enquanto decisões com traços dúbios, favorecem o transporte individual, fomentando os congestionamentos e jogando contra sobre tudo aquilo que tem se debatido e revelado para reduzir os efeitos nefastos da poluição, cabe ao ônibus disputar espaço para fazer jus ao seu papel de indução do desenvolvimento.

E, veja como é injustiçado esse modal. Em média, ele ocupa 8% do espaço nas ruas e avenidas das grandes cidades, sendo muito mais eficientes e produtivos que os carros particulares, que são responsáveis por 26% de todos os deslocamentos, mas ocupam, em média, 80% do espaço viário, e são os grandes causadores dos congestionamentos.

Para o presidente executivo da NTU, Francisco Christovam, os carros transportam, em média, 1,2 passageiro por viagem; ou seja, um ônibus pode levar o mesmo número de pessoas transportadas por 40 carros, ocupando um espaço 20 vezes menor. “Dar mais prioridade aos ônibus, com mais faixas exclusivas, tornaria o transporte coletivo mais rápido e atraente, levando mais pessoas a trocar o carro pelo ônibus. Isso tiraria veículos das ruas, os congestionamentos tenderiam a acabar, o tráfego ficaria melhor para todos, e haveria menos poluição e acidentes de trânsito”, ressaltou.

Na visão da NTU, a prioridade ao transporte coletivo por meio de vias segregadas gera enormes benefícios, como o menor tempo de viagem do passageiro, a menor quantidade de veículos na frota de ônibus, a redução do consumo de combustível, a diminuição do volume de emissões de gases poluentes, o menor desgaste do veículo e os custos operacionais do sistema de transporte público coletivo por ônibus.

É contraditória a ideia de que muitos prefeitos fazem ao propor a descarbonização dos ônibus, mas, em contrapartida, não lhes oferecem condições profícuas para que alcancem eficiência operacional e competitividade perante outros modelos de transporte.

Imagem – Reprodução/jornal Alô Brasília

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