Será o hidrogênio o diesel do futuro?

Na visão das grandes fabricantes mundiais de ônibus, sim, esse combustível poderá ser o principal no futuro na matriz energética do transporte

Para muitos, essa pergunta tem uma resposta positiva. Contudo, o processo de introdução desse combustível ainda está em sua fase inicial, mais, precisamente, nos projetos de algumas fabricantes de ônibus que acreditam que o elemento tende a ser uma opção viável em sistemas de transporte urbano e rodoviário.

O hidrogênio é um elemento químico abundante na Terra, porém, como está associado a substâncias orgânicas (algas e bactérias) e, também, com combustíveis (gás natural e etanol, por exemplo), além da água, ele precisa sofrer uma transformação ou reforma, como diz o termo técnico, para ser separado e utilizado como fonte energética. Podemos chamá-lo de hidrogênio cinza quando é resultado da reforma de combustíveis fósseis ou hidrogênio verde, vindo do etanol, por exemplo.

Atualmente, seu uso se dá, em larga escala, na indústria, como a de fertilizantes e metalúrgica. Mas, o conceito das células a combustível se mostra simpático ao que está sendo determinado quanto a promover um ambiente mais limpo e o desempenho operacional. No caso dos ônibus, após alguns ensaios, pesquisas e avaliações, o desenvolvimento da propulsão elétrica que utiliza energia vinda da tecnologia de transformação do hidrogênio, vem ganhando terreno pelas mãos de algumas fabricantes mundiais.

Um grande exemplo mundial é a Daimler Buses, que está apostando suas fichas nesse novo modelo de tração limpa, que não necessita de um grande banco com baterias, como no caso dos veículos específicos com essa configuração. A fabricante aproveitou a Busworld 2023 para revelar seu novo projeto dentro da plataforma do modelo eCitaro, que já está no mercado há quase cinco anos.

A plataforma eCitaro agora com células a combustível para aumentar a sua autonomia operacional

Com isso, o veículo, além de se tornar mais eficiente, se adequa aos propositivos do transporte coletivo sem poluição. Segundo a Daimler Buses, a Comissão Europeia está preparando novos requisitos de redução do CO2 para os ônibus e ela vem apoiando isso ao desenvolver novas tecnologias. Com isso, como uma das principais fabricantes de ônibus do mundo, a empresa quer contribuir no combate às mudanças climáticas e ser exemplo no processo de transformação, acreditando que é possível reduzir para a metade as emissões de CO2 dos ônibus na Europa a partir de 2030, em comparação com 2025.

Till Oberwörder, CEO da Daimler Buses, ressaltou que a indústria de ônibus pode reduzir significativamente as emissões de CO2 na Europa a partir de 2030. Mas, segundo o executivo, para que isso seja bem-sucedido, o quadro político deve ser adaptado a cada segmento. “Para os ônibus urbanos, a eletrificação já é absolutamente possível. Quanto ao segmento de ônibus rodoviário, precisamos de uma infraestrutura abrangente de carregamento e reabastecimento de hidrogênio. Temos de ser capazes de utilizar plenamente os nossos recursos financeiros para o desenvolvimento de tecnologias totalmente limpas e não para motores Euro VII. Na nossa opinião, é crucial que toda a indústria possa concentrar-se plenamente em soluções neutras em termos de CO2”, observou.

Ainda, segundo ele, para se alcançar a redução efetiva das emissões de CO2 será preciso a adoção de políticas públicas de incentivo à troca da matriz energética do transporte, incluindo subsídios governamentais para a aquisição de veículos e a implantação de infraestruturas de abastecimento energético. “O segmento de ônibus urbano pode se tornar totalmente neutro em CO2 localmente a partir de 2030 e para os modelos rodoviários, essa redução deverá ser de 20%”, comentou Till.

O CEO da Daimler Buses continuou afirmando que será necessário um esforço conjunto de governos, fabricantes, operadoras de ônibus e da indústria de energia para colocar veículos elétricos nas estradas o mais rápido possível. “Temos agora que trabalhar em conjunto para garantir que as empresas possam operar esse novo conceito de forma econômica. Como fabricante, damos nossa contribuição oferecendo os ônibus elétricos adequados, apoiando nossos clientes com nossa experiência em eletrificação de suas frotas”, salientou Till.

O uso do hidrogênio como combustível propicia uma série de questões operacionais relacionadas com os serviços rodoviários ou turísticos, pois os veículos viajam por rotas significativamente mais desafiadoras, demandando infraestrutura de reabastecimento energético em locais que podem ser, em muitos casos, remotos.

Tecnicamente, o eCitaro Fuel Cell poderá ter duas versões de tamanho, do tipo Padron e articulado, e em sua propulsão elétrica serão utilizadas as células a combustível da Toyota (2ª geração) de 60 kW, cinco cilindros para armazenar o hidrogênio instalados no teto, três packs de baterias de NMC3 com 98 kWh por pack e dois motores elétricos totalizando 250 kW de potência.

Outras fabricantes

A brasileira Marcopolo também mostrou na feira europeia o seu projeto global de ônibus rodoviário com células a combustível. O veículo, produzido na China, representa a inserção da fabricante no mundo da tração limpa, objetivando atender um mercado ainda carente de tecnologia de tração limpa.

Projeto da brasileira Marcopolo desenvolvido na China, com vistas ao mercado mundial

O modelo, em questão, é o Audace 1050, equipado com células a combustível da Sinosynergy (160 kW), quatro tanques de hidrogênio certificados (total de 29,46 kg) localizados nos bagageiros, motor Danfoss, Permanent Magnet synchronous, e baterias LiFeO, da CATL. Sua autonomia pode ser para até 1.000 quilômetros. Porém, a encarroçadora está desenvolvendo uma versão com tanques de compósitos instalados no teto, para permitir que os bagageiros possam estar livres. Nesse caso, será um Audace 900, com 3,85 metros de altura.

E, o primeiro negócio já foi concretizado com uma operadora israelense, que adquiriu três unidades para serviços rodoviários. Chile e Peru também estão no radar da Marcopolo, visando o mercado do transporte de mineiros (fretamento). Na Europa, Espanha é um país de oportunidade que poderá ser explorado comercialmente. Isso significa poder atender as demandas ambientais envolvidas com o cotidiano das mineradoras, neste momento em que as questões de sustentabilidade prevalecem sobre os negócios em muitos setores.

Desenho da próxima geração do Audace com tanques de hidrogênio localizados no teto

A homologação do veículo está em processo de aprovação, devendo ser finalizado no começo do ano de 2024, para a sua inserção comercial no Velho Continente.

A marca espanhola Irizar segue a mesma linha da sustentabilidade ao promover o desenvolvimento de seu modelo i6s Efficient Hydrogen, com 12,92 metros de comprimento e altura de 4,00 metros. Ele utiliza um motor elétrico de 360 kW de potência, transmissão de três marchas, células a combustível de 200 kW e tanques para armazenamento de 56 kg de hidrogênio. Sua autonomia, segundo a fabricante, é de 1.000 km, podendo ser abastecido em 20 minutos.

Da Espanha, a Irizar mostrou seu conceito visando o transporte rodoviário com a menor emissão de poluentes

Ainda, segundo a Irizar, a eficiência e a alta durabilidade dos componentes do veículo, também, foram destacadas. As baterias, por exemplo, estarão presentes por toda a vida útil do veículo. Já as células a combustível terão uma vida de 30 mil horas de operação, dependendo do tipo da rota e o seu uso.

Outro destaque é que o Irizar i6S Efficient se tornou o ônibus mais eficiente da história da Irizar, com redução de até 13% no consumo e das emissões poluentes, sendo mais leve em até 950 kg e tendo melhoria em seu coeficiente aerodinâmico de 30%.

A parceria entre a portuguesa CaetanoBus e a fabricante turca Temsa, também destacou um modelo rodoviário com células a combustível, capaz de atingir uma autonomia de 1.000 km. O respectivo veículo tem tanques instalados no teto, que podem receber o hidrogênio com duas configurações de pressão – 350 ou 700 bar, algo que o torna flexível para o seu abastecimento.

Parceria entre a portuguesa Caetano Bus e a fabricante turca Temsa

Segundo a Caetano, o modelo é baseado na versão elétrica do Temsa HD12 e a sua pré-série de produção está marcada para 2024 e produção em série a partir de 2025. Outra versão, com três eixos, faz parte dos planos da fabricante.

Transporte urbano

Além dos serviços rodoviários, as operações urbanas também foram agraciadas com os modelos específicos dotados de motores elétricos e células a combustível, expostos em Bruxelas. Importantes nomes e até mesmo as muitas marcas desconhecidas por nós, brasileiros, estiveram na exposição apresentando seus conceitos.

Tanto as fabricantes europeias, como as chinesas, revelaram que estão em sintonia com o futuro do modal ônibus, incorporando a mais alta tecnologia para se alcançar a mobilidade coletiva limpa. Dentre as quais, a Iveco Bus mostrou o seu modelo E-WAY H2, com piso baixo e12 metros de comprimento, equipado com motor elétrico de 310 kW e um avançado sistema de célula a combustível fornecido pela HTWO, uma marca comercial de hidrogênio baseada em sistema de célula de combustível do Hyundai Motor Group.

O veículo tem quatro tanques para armazenar 7,8 quilos de hidrogênio e uma bateria de 69 kWh da FPT Industrial, capaz de proporcionar uma autonomia de 450 km em condições normais de operação.

Já a CaetanoBus ressaltou o seu modelo, H2.City Gold (veículo integral), com motor elétrico Siemens, células a combustível de 70 kW da Toyota, baterias com 44 a 80 kWh, armazenamento de hidrogênio para até 37,5 kg para uma autonomia que chega a 600 km.

A polonesa Solaris Bus & Coach esteve presente na Busworld com a sua expertise quanto ao assunto das células a combustível. A fabricante destacou que a exposição é um dos eventos mais importantes na indústria do transporte público por trazer inovações relacionadas a ônibus, as últimas tendências da indústria e as tecnologias que potencializam o desenvolvimento de veículos com emissão zero.

Ela lançou o seu modelo Urbino 18 (articulado), com seu design aprimorado, dispondo de muito conforto e segurança. Com uma nova arquitetura de transmissão e a mais recente geração de bateria, o Urbino 18 tem um motor assíncrono de 240 kW e baterias Solaris High Energy de última geração, com uma alta densidade de energia, o que, por sua vez, significa um maior alcance, mantendo um baixo peso da bateria.

O modelo articulado Urbino 18 foi uma das grandes novidades da feira belga

De acordo com a empresa, são oferecidas aos seus clientes diferentes configurações de capacidade das baterias, todas montadas no teto, que podem alcançar uma potência máxima de 800 kWh, proporcionando a autonomia de 600 km (baseado em teste e-SORT 2 – protocolo de avaliação do consumo de energia). O modelo também se enquadra no futuro regulamento europeu GSR2 que estabelece novas medidas de segurança para passageiros, motoristas e pedestres.

A Solaris salientou que vem trabalhando, intensamente, na implementação eficaz de sistemas de segurança embarcados necessários, incluindo monitoramento de ponto cego, reconhecimento de sinais de trânsito, monitoramento de fadiga do motorista e da pressão dos pneus.

A polonesa Solaris não poupou esforços para promover um ônibus urbano com maior conforto e o melhor acabamento

Ainda, segundo a fabricante, ela desenvolve, à procura crescente no mercado europeu de transportes públicos inteligentes, eficazes e seguros, suas soluções para operadoras visando melhorar a segurança cibernética de seus produtos. Com isso, um sistema de cibersegurança para o veículo (englobando software, hardware, protocolos e procedimentos) será implementado em cada fase do desenvolvimento de um veículo, desde a sua concepção, à sua fabricação, operação e manutenção.

Para marca, o hidrogênio é uma das fontes de energia mais frequentemente mencionadas quando se trata do desenvolvimento de uma economia de carbono zero, sendo utilizado no transporte, na indústria e na geração de energia. Nisso, o interesse em soluções de emissões zero baseadas em combustível e nas células a combustível continua a crescer na Europa, incluindo na indústria de fabricação de ônibus. A Solaris já tem, em sua carteira de negócios, cerca 600 ônibus com a tecnologia, encomendados ou entregues.

Imagens – Revista AutoBus

1 Comentário

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    Antônio Ferro,
    Glória a Deus que Tudo É, e paz na Terra aos homens que seguem os desígnios da honra, do amor incondicional aos ancestrais que nortearam a própria conduta.
    Notícias da Bélgica com inovações de biocombustíveis e conforto que o Brasil tem vocação para empreender, se os percursos forem facilitados e apoiados.
    O Hidrogênio foi o segundo elemento químico da Terra que combinado com o primeiro, o Carbono gerou o gás metano (CH4), há bilhões de anos.
    Tuas publicações são cuidadosas, sem erros, sem mentiras.
    Prossegue com Força, Persistência, Paciência e Esperança.🙏🙏

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