Carro popular e o impopular transporte coletivo

O setor da mobilidade urbana precisa rever os s conceitos

Editorial

Governos quando resolvem tirar da cartola suas “brilhantes” ideias, trazem com elas um chumbo quente para arder na pele do povo ou então fazem movimentar as moscas que estão assentadas junto ao que conhecemos por recipiente para dejetos.

Claro, não podemos generalizar. Há bons exemplos compromissados com o desenvolvimento público ou com o cotidiano das pessoas. Seria injusto apenas tecer críticas frente aos principais desafios que tanto afetam a estrutura do País e que, na maioria das vezes, não são transpostos por falta de competência ou interesse em promover uma justa causa. É, o Governo mais atrapalha do que ajuda, diriam muitos. Nesse contexto, tomemos como exemplo o que a atual presidência da República age para tornar viável sua concepção política.

O anúncio de recriação do programa federal para impulsionar o carro ou automóvel popular como medida para movimentar o mercado automotivo brasileiro e, permitir uma oportunidade de compra de veículos para quem anda a pé e não tem condições financeiras para realizar tal intento é, mais uma vez, um banho de água fria ou melhor, vou dizer gelada mesmo, nas intenções positivas para os muitos que lutam para resgatar os sistemas de transporte coletivo urbano realizado pelos ônibus.

Todos os dias, milhões de brasileiros se deslocam para trabalhar, estudar ou mesmo ir a outros compromissos utilizando-se do transporte sobre pneus. A importância do ônibus na ordem do dia de uma cidade é tal, que sem a sua presença, já estaríamos no caos da mobilidade, mesmo com a crítica situação do modal reduzindo sua competitividade em relação aos demais modelos de transporte.

A política automobilística que o Governo quer promover dá com uma mão e tira com a outra, pois quer que eu, você e quem mais se interessar tenha um carrinho novo ao custo aceitável para os nossos bolsos. Não será bem assim, se continuar a ter uma carga tributária exorbitante, complexa e pouco favorável para o crescimento da economia. E, também, com os custos de produção as alturas, podemos pensar num modelo de automóvel quase que “pelado”, com chassi e carroçaria (desculpem a chalaça) numa versão bem modesta e sem recursos eletrônicos que tanto nos encantam.

Enquanto isso, o impopular transporte coletivo continua sua batalha para levar e trazer as pessoas em seus dias sacrificados para se alcançar uma boa nota na escola, o ganha pão de sobrevivência e mesmo outros afazeres que os cercam. É o “busão” na labuta diária sem fazer distinção de público em meio a cobranças por sua qualificação.

Ao propor ressuscitar o carro popular, o Governo se mostra ambíguo nas relações com o meio ambiente e com o desenvolvimento sustentável, face ao que mais automóveis nas ruas promove o contínuo crescimento dos congestionamentos, resultando na sucessiva perda da qualidade do ar que respiramos. Sua postura de oposição ao que tudo é pregado hoje em dia para obtermos a tão ensejada redução das emissões poluentes vindas do setor de transporte é, sem dúvidas, mais um efeito que subestima a capacidade de pensamento do brasileiro.

Este editorial reivindica que o setor de transporte coletivo também seja contemplado com medidas que possam ser favoráveis para o resgate de sua imagem, com uma ordenação que lhe traga, de volta, a competitividade e a previsibilidade, aspectos que são muito úteis à toda população urbana.

Ainda assim, este texto não se traduz em mobilização contra o automóvel. Suas palavras representam o atual situação da falta de racionalidade na conjuntura de nossas vidas. Queremos nos deslocar, mas que seja na forma que todos ganhem e que não apenas um modal possa ser privilegiado. Para isso, vamos batalhar para que o desenvolvimento, sustentável e inteligente, seja para todos.

Imagem – Revista AutoBus

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *