Lições a aprender com Los Hermanos

É fundamental estruturar uma política brasileira em direção ao futuro

Editorial

Recentemente, a Argentina deu um significativo passo para introduzir em seu sistema de transporte a política ambiental visando a redução das emissões poluentes com incentivos e orientações para a transição energética do setor. O Plano Nacional de Transporte Sustentável tem como meta promover as distintas tecnologias, por intermédio de estratégias, medidas e instrumentos a serem implementados até 2030.

O fato permitirá, ao país vizinho, uma economia em suas divisas pela redução e consequente substituição das importações de energia, além do fomento à indústria nacional. De acordo com o governo local, 13,9% do total de emissões são provenientes do setor do transporte. O objetivo é promover a transição e a eficiência energética para alcançar a mobilidade sustentável em todos os modos de transporte.

Os benefícios a serem conquistados são – Ambiental, com a redução das emissões de CO2, material articulado e ruído, tendo impacto positivo na saúde pública; Econômico, com a diminuição do custo operacional do transporte, otimização dos recursos do Estado, a substituição da importação de diesel e o aumento da demanda de gás natural da região de Vaca Muerta (segunda maior reserva do mundo); e o impulso à indústria nacional no sentido de aumentar os fornecedores locais quanto ao maior do gás natural, eletromobilidade e outras energias renováveis.

O mencionado plano estabeleceu cinco eixos que determinam a futura mudança para um transporte limpo: Transição, que é a mudança de forma gradual e segura do sistema de transporte, dos usos e hábitos dos usuários e da matriz energética, que hoje é baseada em combustíveis fósseis, para uma com baixa ou nenhuma emissão de carbono e fontes renováveis; Eficiência, para otimizar e fazer uso inteligente e mais ecológico dos recursos em todos os modos de transporte, para reduzir as emissões de gases de efeito estufa; Justiça ambiental, para garantir a equidade e reduzir os danos ambientais sofridos direta e indiretamente por setores vulneráveis ​​e comunidades minoritárias e promover a resiliência em seus territórios, visando a qualidade de vida; Equidade de gênero e intergeracional, para promover a participação ativa nos processos de consulta, execução e tomada de decisão sobre transporte sustentável, a partir de uma abordagem intergeracional com perspectiva de gênero e diversidade; e Responsabilidade ambiental, visando reduzir o impacto ambiental de resíduos e materiais em desuso ou obsoletos do setor de transporte, com o possível reaproveitamento ou reciclagem dos materiais presentes na frota circulante, sendo necessário a implementação de um plano de renovação da mesma, tendo como objetivo melhorar o desempenho energético e ambiental em todos os modos de transporte, substituindo as unidades de tração mais antigas por unidades com novos e diferentes tipos de motores.

Na Argentina, são 19,6 milhões de unidades de veículo que compõem o parque nacional e consomem combustíveis fósseis (99,67% da energia requerida pelo setor). Em 2019, o consumo de diesel foi de 11.650 bilhões de litros.

Como incentivos à transição energética, o governo portenho dará desconto sobre o valor da energia para as empresas que incorporem modelos de ônibus elétricos ou a gás natural; título de transporte verde; promoverá ranking das empresas sustentáveis de transporte; dentre outros pontos.

Como se vê, é um belo exemplo dado pela Argentina ao Brasil, que neste momento carece de políticas públicas, ações governamentais e medidas efetivas que visem a transformação do seu sistema de transporte, seja ele de passageiros ou de carga. Há iniciativas, porém unilaterais, vindas, principalmente, de montadoras que disponibilizam suas tecnologias limpas e de alguns governos municipais empolgados com a eletrificação dos serviços de ônibus.

O País tem potencial para explorar suas reservas de gás natural, alta capacidade em produzir biometano (combustível renovável com excelente pegada de carbono) e necessita definir um plano mestre para introduzir a eletromobilidade no setor, com vistas a estabelecer a infraestrutura de abastecimento energético, a maior produção de eletricidade, oriunda de fontes limpas, e o incentivo e financiamento ao setor para adotar as inovações limpas, afinal, o que é novo e tem alto conteúdo tecnológico, custa mais caro.

Que os próximos governos possam se interessar um pouco mais pelo tema e trabalhem para que a sustentabilidade (formada por três pilares – ambiental, econômica e social) tenha presença garantida no segmento nos anos que estão por vir.

Imagem – Revista AutoBus

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