Os muitos acidentes que poderiam ser evitados

Como admitir as "precárias estações de embarque a céu aberto" em diversos pontos da cidade de São Paulo? Passageiros embarcando em ônibus rodoviários já muito antigos e defasados para cumprir longas e quase intermináveis rotas

Por Décio Bittencourt – Pesquisador e Consultor em Logística, Transporte e Distribuição

Já se passaram alguns dias do acidente acontecido nas encostas da serra próxima a cidade de Brumadinho, Minas Gerais, com o ônibus que levava os torcedores corinthianos. Sim, abordaremos especificamente esse acidente, pois, horas depois e quase no mesmo local, ocorreu outro acidente, interditando a Rodovia BR 381 no sentido entre a capital mineira à São Paulo, por oito horas!

Poderia ter sido evitado?

Deveria!

Existem instrumentos para isso?

Sim! Bastariam providências, tais como, a placa desse veículo ter sido identificada no radar e os dados “cruzados” com o banco da ANTT.

Pronto?

Quase!

No trajeto de ida, esse mesmo ônibus (e, outros da mesma caravana organizada no Vale do Paraíba) teria sido interceptado.

Faltou fiscalização?

Provavelmente.

Fundamentalmente, faltou sabedoria para usar (com eficiência e adequação) os recursos tecnológicos disponíveis. Mas, independentemente, outros fatores contribuíram para esse triste acontecimento, como o provável desconhecimento da rota pelo motorista; o modelo do ônibus defasado tecnologicamente; a “armadilha” ignorada no início do trecho de descida (radar indicando limite máximo de 60km/h) e, ainda fisicamente distante do local onde o veículo tombou e capotou.

Mas, para um veículo pesado, a sequência de curvas naquele trecho permite 40km/h, velocidade controlada com a ajuda do “freio motor”. Destaco também os agravantes da pista estreita, defensas centrais e muita poeira produzida pela proximidade da atividade de mineração na região (movimentação de cargas utilizando a rodovia como via de acesso e escoamento).

Décio Bittencourt

Essas mortes e pessoas feridas são uma prova que se pagou um “custo muito alto” (para “baixar os custos”) nessa viagem. Uma empresa regularmente estabelecida e, que atende essa rota, utiliza veículos modernos, com idade média muito baixa e motoristas treinados especificamente para o trecho, respeitando os limites de jornada de trabalho desses profissionais do volante.

Mercado Regular

Tolerância? Inoperância com os piratas?

Como admitir as “precárias estações de embarque a céu aberto” em diversos pontos da cidade de São Paulo? Passageiros embarcando em ônibus rodoviários já muito antigos e defasados para cumprir longas e quase intermináveis rotas (do Sudeste para o Norte e Nordeste do País). Motoristas que dirigem horas a fio até à exaustão (ou, o acidente).

O transporte rodoviário regular de passageiros no Brasil atravessa uma etapa ascendente, com players muito bem-organizados (e capitalizados), atuando nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte/Nordeste. Mas, poderá melhorar. Mesmo com a economia brasileira atravessando ainda turbulências no consumo. Principalmente, por se colocar como uma alternativa eficiente ao modal aéreo, em rotas de até 500 quilômetros de extensão. E, havendo planejamento (do passageiro), em rotas mais longas. Os serviços e o conforto disponibilizados pelas empresas são reconhecidos positivamente por quem usa!

Nessa questão (das rotas de longo curso), uma forma de racionalizar custos operacionais e investimentos poderá ser a adoção do codeshare. Exemplo: uma empresa gaúcha e especializada em rotas de médias e longas distâncias, com seu hub localizado em Porto Alegre (RS), ao atender passageiros no trecho entre a capital gaúcha e a paulista, poderá compartilhar esses tíquetes originados em algumas das regiões onde está presente, com outras empresas e distribuir seus passageiros para o Centro-Oeste/Norte/Nordeste.

Mas, esse tema poderá ser debatido em outro momento.

Imagens – reprodução e arquivo pessoal

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