Tradição familiar em oito décadas

Uma das mais expressivas empresas rodoviárias de passageiros do Brasil chega aos 80 anos, trazendo na bagagem um histórico de muito trabalho e persistência num setor altamente competitivo

O mineiro Abílio Pinto Gontijo pode ser considerado um dos paladinos do sistema brasileiro de transporte de passageiros por rodovias. Nascido no interior de Minas Gerais, ele começou na atividade de transporte aos 19 anos, quando, então, adquiriu sua primeira jardineira, na realidade, uma perua Chevrolet. Assim, em 1943 deu partida para a linha entre as cidades de Carmo do Paranaíba e Patos de Minas, sem se atentar, talvez, para o gigantismo que seria sua empresa, muitos anos depois.

A primeira rota era feita por estradas esburacadas, com muita poeira nos períodos de seca e lama na época de chuvas. Em plena Segunda Guerra Mundial, a escassez de combustível era algo comum e para poder proporcionar os serviços, foi preciso o uso da criatividade. Como bom mineiro, tranquilo nas atitudes, Gontijo recorreu ao trabalho mecânico para que o motor de sua jardineira funcionasse com álcool, uma alternativa até que vantajosa ao que era utilizada em outros exemplos do transporte, com a instalação de um equipamento de gasogênio.

Assim, o empreendedor pode seguir adiante em seus negócios, expandindo, ano após ano, sua atuação com as diversas ligações e rotas, sempre acompanhando o desenvolvimento. Hoje, a Gontijo se mostra num nível de excelência operacional que a coloca num patamar bem alto no setor do transporte rodoviário de passageiros.

A revista AutoBus conversou Marco Antônio Gontijo, diretor de Suprimentos da empresa e filho do fundador Abílio Pinto Gontijo, sobre o momento da operadora e como a participação no histórico do sistema nacional de mobilidade. Segundo ele, a importância de se chegar a oito décadas marcando presença significativa no mercado nacional faz muita diferença. “Chegar aos 80 anos da Gontijo com presença relevante no mercado nacional é o resultado do trabalho duro e da crença de nosso pai, Abílio Pinto Gontijo, na economia do Brasil. A cultura que ele transmitiu a nós e a nossos colaboradores, com foco no negócio, de crescimento gradual e sólido, e de atenção ao cliente, faz com que continuemos seu legado”, disse.

O ontem e o hoje – À esquerda, o primeiro ônibus que deu início na constituição da Gontijo. A evolução foi o principal marco da transportadora mineira

Revista AutoBus – Como foi a participação da operadora na constituição do sistema nacional de transporte rodoviário de passageiros?

Marco Antônio Gontijo – A abertura das estradas e a industrialização do Brasil, na segunda metade do século passado, levaram a população a migrar do campo para as cidades, criando mais uma demanda, a de transporte. A Gontijo conseguiu, gradativamente, formar sua equipe e se estruturar financeiramente, deixando sempre uma reserva para reinvestimento na ampliação do próprio empreendimento e na melhoria do atendimento aos clientes. Assim cresceu, por etapas, consolidando cada conquista, e se tornou uma das principais empresas do setor no país.

AutoBus – Abílio Gontijo foi um visionário? Fale um pouco de seu histórico.

Gontijo – Com certeza, sim! E ele foi não apenas um visionário: foi um homem que conseguiu efetivar seu sonho, criando em 1943, no meio da Segunda Guerra Mundial, sua empresa de um ônibus só:  uma “jardineira” usada para transporte de pessoas.  Logo de início, enfrentou um enorme problema: as cotas de gasolina para o setor privado foram bloqueadas, devido ao esforço de guerra.

Criativo e inovador, usou seus conhecimentos de mecânica para adaptar seu motor para o álcool. Foi assim, antecipando em anos os atuais veículos movidos a álcool, que ele conseguiu manter de pé seu negócio iniciante.

E, fazendo ao mesmo tempo os papéis de motorista, cobrador, mecânico e faxineiro, como ele tinha orgulho de contar, Abílio Gontijo construiu o que se tornaria uma das maiores empresas de transporte do Brasil.

AutoBus – A parceria com a Scania vem de que ano? É verdade que a montadora sempre disponibilizou engenheiros para acompanharem a operação da Gontijo, podendo, assim, proporcionar um melhor desenvolvimento dos chassis?

Gontijo – A parceria com a Scania vem desde 1980, e desde então toda a nossa frota é exclusivamente Scania. Ao longo desses 43 anos, a Scania identificou na Gontijo uma parceira, além de cliente.

É verdade. Devido ao conhecimento técnico, à credibilidade da nossa operadora, a característica das linhas e ao sucesso nas operações, a Scania passou a usar a Gontijo para testar e desenvolver suas peças e seus novos produtos. A montadora sempre fez isso disponibilizando pessoal técnico para acompanhar a operação da empresa e assim desenvolver os seus chassis, totalmente de acordo com a necessidade do cliente.

 

AutoBus – Até hoje, quantos ônibus Scania ela teve em sua frota? Pode-se dizer que é o maior cliente Scania do mundo?

Gontijo – Esta é uma parceria que deu muito certo para os dois lados. Já tivemos, ao todo, 2.319 ônibus Scania. Não somos o maior, mas sim um dos maiores clientes da Scania em todo o mundo.

Imagens – Divulgação

1 Comentário

  1. Avatar

    Meu caro amigo AFerro!
    Mais um belissimo trabalho.
    Muito bom o destaque para os profissionais veteranos. Muita experiencia e plena capacidade para o trabalho.
    Mas, todavia esquecidos!
    Sobre os onibus rodoviários á clara evoluçao. Mas, o serviço de apoio, paradas e restaurantes parou no tempo.
    Viajei com a Penha recentemente. Simplesmente lamentável!!

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