“Uma transição tranquila”

Com exclusividade, o novo CEO da encarroçadora gaúcha Marcopolo fala de seus planos futuros

Graduado em engenharia mecatrônica pela Universidade de São Paulo, pós-graduado em administração pela Fundação Getúlio Vargas e com MBA pela Universidade de Chicago, André Vidal Armaganijan é novo CEO da Marcopolo, uma das mais importantes produtoras de ônibus, globalmente. O executivo tem 47 anos e ingressou na encarroçadora gaúcha em 2014, como diretor Global de Estratégia.

Seu desafio é de dar continuidade à trajetória de crescimento que marca toda a história da empresa de Caxias do Sul, com foco na inovação, avançadas tecnologias, parcerias internacionais e soluções sustentáveis para a mobilidade.

Com exclusividade, a revista AutoBus conversou com ele a respeito de sua nova função e como avalia o mercado de ônibus a partir deste momento. Segundo Armaganijan, essa transição administrativa tem sido bem tranquila, muito em virtude do período em que está presente na empresa, há quase nove anos. “Tenho participado dos novos desenvolvimentos de produtos e das estratégias futuras quanto a mercado e negócios. É um grande desafio frente à uma empresa bastante relevante, mas ao mesmo tempo, tenho orgulho dessa nova posição, que agora tem a agenda mais cheia para dar continuidade ao processo de contínuo investimento e desenvolvimento”.

Segundo o executivo, a pandemia de Covid-19 foi outro desafio ultrapassado pela fabricante, num momento delicado, onde o mercado de ônibus sentiu os efeitos negativos, com a redução das viagens, da falta de peças e componentes e da desconfiança do setor. “Porém, enfrentamos essa fase realizando bons trabalhos, eu diria, muito interessantes, lançando uma geração nova de carroçarias, um produto próprio para atender a eletrificação do transporte sobre pneus, a inserção no mercado sobre trilhos e a valorização das pessoas e da cultura empresarial. Sempre pensando na evolução e nas áreas em que a Marcopolo pode atuar e explorar”, disse Armaganijan.

Entretanto, o mercado, em 2023, apresenta queda nas vendas de ônibus, muito em função do processo de transição das normas que determinam a redução das emissões de poluentes dos motores a diesel – Euro V a Euro VI. Para o CEO da Marcopolo, essa diminuição dos negócios, principalmente nos próximos meses, já estava prevista nesta troca de tecnologia, que impacta negativamente nos negócios em relação ao fator preço. “Estamos fazendo nosso papel para homologar todos os novos chassis. Contudo, o mercado ainda está assimilando os veículos Euro VI, que têm preços mais elevados em relação à norma antiga. Acreditamos que poderemos encerrar o ano de 2023 com uma pequena alta em comparação com 2022”.

Sobre o processo de homologação dos chassis Euro VI, André comentou que houve alterações nas carroçarias para adequá-las aos novos componentes necessários para atender aos requisitos da nova norma. “Tivemos que promover mudanças na estrutura dos modelos das carroçarias, com ajustes essenciais para atender a norma Euro VI. Nosso trabalho levou em consideração a engenharia da melhor forma de apresentar os nossos produtos”, observou.

A eletrificação do transporte segue firme nos planos da Marcopolo

Outras prioridades também estão nas metas de Armaganijan, como a exploração das alternativas que promovam a descarbonização do transporte, tendo em vista o investimento em veículos movidos a energia elétrica, hidrogênio e híbridos, no Brasil e no exterior, além de manter parcerias com universidades e start-ups. “Nosso foco é atender o mercado nacional, seja por um produto próprio, ou na parceria com fabricantes de chassis com tração elétrica. Nossa solução integral 100% elétrica traz um conceito desenvolvido aqui, com tecnologia brasileira, com componentes locais e tendo apenas as baterias como produto internacional. Queremos atender a demanda local por ônibus elétrico com um veículo nacional e adequado para o transporte brasileiro. Esperamos produzir 100 unidades ainda neste ano”, ressaltou.

E, dentro das questões de sustentabilidade ambiental, o futuro da eletricidade como tração primordial também passa pelo uso das células de combustível como forma de geração energética a bordo em ônibus urbanos. Para a Marcopolo, estar antenada a isso é determinante para se manter competitiva no mercado. Segundo André, o hidrogênio vem ganhando espaço, mundialmente. “Além da China, a Austrália também tem explorado o hidrogênio como forma de combustível para o transporte urbano e rodoviário. Estamos desenvolvendo, naquele país, um produto que inserido nesse conceito. Na América do Sul, também projetamos e construímos um veículo na Colômbia. O mercado externo tem se mobilizado para isso. No tocante ao Brasil, estamos atento para isso”, afirmou.

Quanto ao transporte rodoviário, o futuro tende, igualmente, a utilizar as células de combustível como alternativa para substituir o diesel. “Para o transporte de passageiros em longas distâncias, o hidrogênio se apresenta como alternativa, inserindo a eletricidade no modal, sem a necessidade de infraestrutura de recarga elétrica. Mas, por se tratar de uma tecnologia nova, ainda cara, terá um tempo para se adequar ao segmento. Para isso, será preciso soluções financeiras que viabilizem os investimentos a serem feitos pelos operadores”, disse.

Além da eletricidade, outros modelos de fontes energéticas e alternativas para a descarbonização do transporte estão no radar da encarroçadora. “Estamos preparados para trabalhar e desenvolver produtos e soluções que levem em consideração os biocombustíveis, o gás natural, o biometano, o diesel verde. Conforme as necessidades do mercado, poderemos apresentar veículos específicos e adequados com a demanda”, lembrou Armaganijan.

A gama de carroçarias rodoviárias G8 tem sucesso garantido em virtude de seus atributos tecnológicos

Sobre a Geração 8 de carroçarias rodoviárias, o executivo salientou todas as prerrogativas dos modelos produzidos nessa linha, que trazem um alto nível de conforto, segurança, qualidade, design e rentabilidade. “Lançamos a G8 em um período crítico. Porém, hoje estamos colhendo os frutos dessa iniciativa. Com a retomada do mercado, no pós-Covid, estamos tendo uma procura significativa dessas carroçarias, tanto é que atingimos, há poucos dias, a milésima unidade produzida. Isso representa a confiança e aceitação do mercado brasileiro quanto à G8. E claro, há ainda os clientes latino-americanos que estão recepcionando positivamente essa família de ônibus. Dentre os modelos produzidos, o Double Decker está com uma expressiva participação nas vendas para as linhas regulares e de turismo”, declarou.

Ainda nesse contexto, Armaganijan adiantou que o caráter da G8 é um diferencial que será apresentado na maior exposição mundial de ônibus, a Busworld, em Bruxelas (Bélgica), em outubro deste ano. “Iremos participar da feira europeia mostrando a carroçaria G8, que lançamos com a clareza para competir, no mesmo nível ou até superior, com algum outro produto global. Portanto, estaremos lá expondo algo que vale a pena a gente mostrar”, finalizou.

Imagens – Divulgação

A melhor maneira de viajar de ônibus rodoviário com segurança e conforto

Ônibus movido a biometano, por Juliana Sá, Relações Corporativas e Sustentabilidade na Scania

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