Na longa viagem, quem dorme é o passageiro, com conforto e tranquilidade rumo ao seu destino.
Até que se prove o contrário, quem inventou a categoria leito nos ônibus rodoviários é um brasileiro. O gaúcho Humberto Albino Bianchi, que, em 1962, era o proprietário da extinta Viação Minuano, foi o pioneiro em oferecer aos passageiros de sua linha entre Porto Alegre a São Paulo mais uma opção em configuração interna, dotada de poltronas com maior reclinação e espaçamento entre elas.
O empresário, também, se destacou no segmento ao equipar seus veículos com outros itens que permitiram uma maior comodidade aos viajantes dessa rota, como a instalação da toalete, isso ainda em 1959, quando iniciou o tráfego entre as capitais gaúcha e paulista, e a colocação da parede divisória que separava o posto do motorista do salão de passageiros.
Essas concepções foram uma verdadeira revolução ao aspecto construtivo dos ônibus rodoviários naquele início da década de 1960. E nada foi por acaso ou sem trabalho envolvido. Bianchi tinha uma agenda de negócios que o obrigava a se deslocar frequentemente até São Paulo. Sempre fazia por meio de seus ônibus. Porém, suas pernas não se acomodavam perfeitamente nas viagens (era um homem alto). Desse modo, a ideia por um maior espaço que proporcionasse conforto extra ao passageiro passou a frequentar os pensamentos do operador.
Astuto, Bianchi começou a estudar, em 1961, como melhorar seus ônibus de modo a atrair um seleto público em deslocamento por sua rota regular do Sul ao Sudeste brasileiro, com mais de 1.100 quilômetros de rodovias. Observou que ao juntar duas poltronas comuns, o resultado poderia ser uma mais larga e que proporcionasse uma maior reclinação.
Até alcançar um modelo de poltrona ajustado com o seu ideal, foram muitas as conversas com o departamento de engenharia da encarroçadora gaúcha Eliziário, então fornecedora dos ônibus para a transportadora. Os esforços também se concentraram nas oficinas da Viação Minuano, com o pessoal de manutenção debruçado em encontrar uma solução viável que se adequasse ao intuito de Bianchi.
Foi preciso quebrar a cabeça para encontrar uma solução que se amoldasse ao passageiro. Assim, 19 delas foram instaladas em um de seus ônibus depois que o empresário levou seu projeto para ser aprovado pelo DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem), órgão federal que fiscalizava e concedia os serviços de ônibus rodoviários.
Além das poltronas leito, Bianchi introduziu um atendimento diferenciado a bordo com a oferta de café, refrigerante, biscoito, mantas e a instalação de uma pequena geladeira, juntamente com o melhor acabamento do salão de passageiros.
Se há 60 anos, os ônibus mais confortáveis eram sinônimos de alta sofisticação no transporte, hoje, o emprego dessa categoria abrange uma combinação inteligente com outras modalidades de conforto por meio dos ônibus maiores, com dois pavimentos, dotados de uma estrutura bem diferente daquele ponto de partida oriundo nas plagas sulistas.
Imagens – Memória Marcopolo e acervo Dorival Piccoli
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