As incertezas do mercado de ônibus no Brasil

Recentemente, os principais fabricantes de chassis e encarroçadores apresentaram seus lançamentos buscando atender os anseios da sociedade pela descarbonização, na LAT.BUS, principal feira do setor em São Paulo

Ponto de vista

Por Gregori Boschi, fundador da Boschi Inteligência de Mercado -BIM³

O mercado de ônibus é conhecido por seu protagonismo na adoção de novas tecnologias e a transição energética não é uma novidade neste mercado, se analisados os dados históricos. De 1960 a 1979, convivemos com produção de ônibus movidos a gasolina; de 1981 a 1985, experimentamos os primeiros ônibus movidos a etanol produzidos no Brasil; e desde 2005, o país produz ônibus elétricos e modelos a combustão com combustíveis gasosos.

Na última década, a média de licenciamentos de chassis de ônibus ficou próximo de 17 mil unidades, enquanto a média de exportações próximo a 6.800 unidades/ano. Há uma tendência global de queda na demanda de ônibus, pela substituição por modais de transportes mais eficientes e transporte individual.

A Boschi Inteligência de Mercado (BIM³), especializada nos setores de veículos pesados, ônibus, máquinas agrícola e de construção, compartilha a projeção de produção, vendas e exportação até 2030 – revelando queda na demanda nacional (CAGR -1%) e queda na produção (CAGR -2,9%).

No entanto, para 2024, a BIM³ prevê crescimento na produção de 31% em relação a 2023, para o cumprimento de contratos previamente estabelecidos. O mercado de ônibus é dependente de licitações e incentivos para manter a previsibilidade de produção. A política industrial relacionada ao Programa Mover poderá trazer maior previsibilidade para a indústria local, garantindo investimentos e tornando o setor mais competitivo para exportações.

Características – O processo desde a produção de um chassi por um fabricante local até o encarroçamento do ônibus é moroso e leva de 90 a 150 dias, pois envolve o registro no Detran Estadual, vistoria veicular antes que seja emitida a CRV para o emplacamento e, por fim, licenciamento. O Brasil é um dos maiores fabricantes de chassis e de carrocerias para ônibus do mundo, possui uma das maiores frotas, no entanto não apresenta crescimento.

Apesar da alta densidade populacional nos grandes centros urbanos, a necessidade por transportes públicos mais eficientes e com foco em sustentabilidade tem-se mostrado um fator importante na decisão e nas políticas públicas. Os projetos em mobilidade urbana permitiram a expansão da malha ferroviária, metrô, VLT, faixa exclusiva de ônibus e corredores viários, que contribuíram para redução da frota de ônibus.

Pesquisa CNT de Mobilidade Urbana 2024 revela que o VLT possui um menor custo diário que o ônibus. Destaca-se ainda a motocicleta com custo diário ligeiramente acima do ônibus, contudo trata-se de um transporte individual e mais rápido. Na mesma pesquisa, chama atenção o transporte ser apontado como terceiro maior problema urbano (24,3%) ficando atrás somente de falta de segurança e de saúde.

Serviços por aplicativo, carona e transporte individual (bicicleta e motocicleta) têm ganhado relevância, nas classes C e D, favorecendo a redução da demanda de ônibus. Houve redução de 44,1% na quantidade de passageiros no transporte urbano, na última década, nas principais capitais, aponta o anuário NTU -2023 -2024.

De acordo o Sindipeças (2024), a frota circulante de ônibus apresentou redução, atualmente com 389 mil ônibus e na última década constatou-se um envelhecimento da frota, de 8 anos e 9 meses para 11 anos e 3 meses – devido principalmente ao crescimento da frota com mais de 11 anos – indicando mercado promissor para reposição e potencial de renovação de frota ainda a ser explorado.

Transição energética – De acordo com E-BUS radar, no Brasil circulam apenas 578 ônibus elétricos (predominantemente trólebus), representando cerca de 0,15% da frota total nacional. Estes ônibus estão concentrados no estado de São Paulo. Se compararmos com outros países da América Latina, a frota eletrificada nacional é muito pequena, atrás do Chile, Colômbia e México.

Muitas são as rotas para a descarbonização do transporte urbano e todas dependem de um fator importante para se provarem ao longo do tempo na indústria: escala. Outro fator importante na concepção dos veículos de transporte urbano é autonomia. Para quem decide a compra, o TCO (Total Cost of Ownership) é a prioridade em um mercado altamente competitivo, quando não há uma imposição regulatória direcionando a tecnologia.

Considerando os fatores de decisão expostos e a baixa penetração dos ônibus elétricos movidos a bateria até o momento, devido a seu alto custo de aquisição, que impactam diretamente no TCO, será necessário maior escala global para viabilizar esta rota. De outra forma, os veículos movidos a combustão interna ou mesmo os híbridos podem amadurecer mais rapidamente, por possuírem escala e autonomia desejada com menor impacto no TCO, apresentam-se como tecnologia adequada para transição.

Recentemente, os principais fabricantes de chassis e encarroçadores apresentaram seus lançamentos buscando atender os anseios da sociedade pela descarbonização, na LAT.BUS, principal feira do setor em São Paulo.

Nota-se a predominância dos lançamentos em tecnologias de eletrificação, para veículos com autonomia intermediária – 250 km. Algumas apostas em tecnologias de combustão interna associadas a combustíveis renováveis e tecnologias híbridas, que apresentam vantagens em autonomia e custo de aquisição.

Existem desafios a serem equacionados para adoção de novas tecnologias elétricas em larga escala, como por exemplo a adaptação das garagens e expansão da rede de carregamento e são essenciais para a operação eficiente dos ônibus elétricos, além da criação de políticas públicas de incentivo e linhas de financiamento em condições especiais.

Podemos inferir que existem diversos caminhos para a descarbonização e não uma única solução definitiva, e sim uma combinação de soluções que combinadas na dose certa poderão propiciar um futuro mais limpo e sustentável.

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