O Transporte Coletivo está no Ponto?

"Não é preciso uma pesquisa apurada para perceber que, ressalvadas algumas situações, ainda estamos bem longe de atingir o sucesso em relação a tais quesitos"
Bruno Batista,

Bruno Batista,

Consultor Especialista em Transportes

No jargão popular, quando se diz que algo está “no ponto” deseja-se passar a ideia de algo que está concluído, pronto, em sua melhor condição ou estado. Já no transporte urbano, o ponto de ônibus (ou parada, em algumas localidades) é o local destinado à espera dos coletivos, que param brevemente para o embarque e desembarque de passageiros.

Esse local é, portanto, a primeira interface entre o cidadão e a empresa de transporte: é o cartão de visitas de todo o sistema e, como tal, deveria causar uma impressão inicial positiva, favorável.

Ocorre que existe um terceiro elemento quase imperceptível: em geral, a responsabilidade pelos pontos de ônibus é das prefeituras (mas há casos em que são concessionárias privadas). São elas que têm as atribuições de definir os locais de implantação e efetuar a construção, instalação e manutenção. Entretanto, infelizmente tem havido muita dificuldade de fazê-las a contento. E a má percepção tem recaído sobre as empresas operadoras, mesmo não sendo elas as responsáveis.

Como toda área de uso público, os pontos têm de ser pensados e dimensionados para atender a demanda diária de passageiros, de modo a oferecer condições básicas de abrigo, segurança, informação e conforto.

Não é preciso uma pesquisa apurada para perceber que, ressalvadas algumas situações, ainda estamos bem longe de atingir o sucesso em relação a tais quesitos. Basta ver os inúmeros casos em que a quantidade de pessoas supera em muito a própria área com calçamento e cobertura. Ou aqueles em que a estrutura física é inexistente ou deteriorada e suja. Ou nos aglomerados que disputam centímetros de cobertura nos dias de chuva. Ou ainda nos raríssimos pontos em que há iluminação ou identificação das linhas de ônibus que atendem aquele local.

Pois bem, o fenômeno de evasão de passageiros do transporte público ocorre há mais de uma década e vem se agravando nos últimos anos. Há múltiplas causas para esse fenômeno, mas sua reversão passa necessariamente por um processo de reconquista do usuário. Estamos falando de atender a seus desejos por, dentre outros, veículos mais novos, eficientes e confortáveis; menores tempos de viagem; tarifas equilibradas. Para tudo isso, muito se tem falado, proposto e implementado. Mas, sobrou um detalhe…

Assim, será que algum usuário de transporte individual se sente realmente motivado a migrar para o coletivo ao ver reiteradamente pontos de ônibus em más condições?

Responder essa pergunta é fundamental, pois antes de sequer adentrar o ônibus e avaliar efetivamente o serviço prestado pela empresa, um veredito negativo já pode ter sido feito. Claro, há cidades e áreas em diversas cidades que são referência, como em corredores principais e BRTs. Mas esse deveria ser o padrão, e não a exceção. Basta observar nas periferias.

Sempre que viajo a uma outra cidade reparo em seus pontos de ônibus. Há locais que fizeram deles uma bela marca arquitetônica e outros em que mais parecem um descaso improvisado. Vejo neles um bom termômetro para medir o nível de desenvolvimento urbano da localidade. Há uma correspondência com o grau de satisfação dos moradores. E, ao final, não é isso que todos (poder público, empresas, cidadãos) queremos? Cidades com mais mobilidade e usuários satisfeitos?

Então, por que não reformar e reformular completamente essas estruturas? Elas são o passo inicial para fazer com que as pessoas se deem a chance de (re)utilizar o transporte coletivo. Mas, para isso, é preciso estar no ponto.

Imagens – Acervo pessoal

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