A prioridade por viagens mais seguras

Episódios com incêndios em ônibus rodoviários têm acontecido ultimamente pelas estradas brasileiras. Qual o motivo disso?

Editorial

Tornou-se comum nos últimos anos (apesar de ser um atentado à civilidade) os incêndios em ônibus urbanos no Brasil, sejam eles por alguma manifestação seguida de violência ou por ações da bandidagem, que desafiam o poder público, atônico à situação. Entretanto, há algum tempo, estamos vendo veículos rodoviários pegando fogo, muitos deles novos, de última geração, causando prejuízos ao operador e insegurança aos passageiros.

As cenas dos veículos em chamas pelas estradas não eram comuns, com extraordinários casos envolvendo modelos mais antigos, sem a devida manutenção e que sofriam algumas avaria mecânica capaz de impulsionar o fogo. Porém, hoje, esse tipo de situação tem provocado alguns questionamentos quanto a segurança e a origem dos incêndios, em ônibus que custam, muitas vezes, na casa dos R$ 2 milhões. Afinal, são veículos novos e não deveriam sofrer esse tipo de dano.

O sistema nacional de transporte rodoviário é conhecido por oferecer uma operação diferenciada, com diversos tipos de serviços que atendem diversos aspectos, desde o bolso dos passageiros, até o mais alto nível de conforto. A malha operacional atinge um extenso número de rotas e ligações e os operadores estão sempre investindo em tecnologia, qualidade e segurança.

Mesmo observando os mais modernos preceitos que buscam promover uma operação otimizada e eficiente, o sistema não está livre as ocorrências negativas relacionadas com os serviços, sendo os incêndios um exemplo disso. Mas, se a operação conta com os mais modernos ônibus, porque as chamas estão consumindo alguns deles pelas estradas?

Oficialmente, essa é uma resposta difícil de se obter. Porém, em conversas com fontes (sem revelar os seus dignos nomes) nos dá um panorama, superficial, que seja, respectivo aos acontecimentos. Este editorial não tem o interesse e nem a capacidade de proporcionar um veredito final sobre o que realmente aconteceu, mas, sim, suscitar um debate que possa encontrar soluções para que as imagens dos ônibus pegando fogo não mais sejam comuns.

Rodrigo Kleinubing, Perito Criminalístico Engenheiro, ressaltou que há uma grande preocupação em adotar nos ônibus os sistemas de segurança visando reduzir os acidentes em rodovias, enquanto que outros aspectos não são observados no tocante à propagação do fogo originado por alguma causa extraordinária.

Dessa maneira, os veículos poderiam incorporar, em suas estruturas, tecnologias para promoverem o combate aos incêndios originados por algum problema relacionado na operação. Sistemas de extinção das chamas no compartimento do motor e de detector de fumaça nos WC`s são exemplos que podem contribuir com a redução do fogo. Outrossim, no processo de interface entre chassi e carroçaria qualquer descuido entre a integração dos componentes necessários ao funcionamento do ônibus pode provocar danos posteriores, como um chicote elétrico mal colocado, solto ou utilizado de forma incorreta será capaz de gerar curto-circuito.

Além disso, como está o estágio de evolução dos materiais utilizados na configuração das carroçarias visando a menor propagação do fogo? É possível entender que a indústria nacional tem se preocupado em inovar ao usar na construção das carroçarias componentes (tecidos, espumas, fibras) que retardem a propagação do fogo?

E os operadores, estão atentos com as especificações quanto a manutenção de seus ônibus, usando peças originais e adequadas com a originalidade dos veículos? Ainda, em relação à operação, orienta seus profissionais do volante a conduzirem os ônibus de modo seguro e eficiente, fazendo bom uso da tecnologia (sistemas de freios, por exemplo)?

A prevenção de riscos de incêndio em ônibus pode ser percebida a partir da implantação de melhorias nos veículos. De certo, os custos tendem a ser maiores, impactando, diretamente, no preço final desses veículos. Para Kleinubing, instalações elétricas com adequado dimensionamento dos condutores e providas de sistemas de proteção por fusíveis e disjuntores; tubulações de combustível e suas fixações, evitando a passagem sobre possíveis fontes de ignição (motor, escapamento, etc.); tanque de combustível isolado do habitáculo, com resistência a determinada pressão hidráulica; materiais construtivos do habitáculo e do compartimento do motor com baixa inflamabilidade; instalação de dispositivo central de acionamento de emergência para corte de alimentação de combustível na saída do tanque, desconexão dos sistemas elétricos e parada do funcionamento do motor; obrigatoriedade da utilização de extintores em veículos de grande porte; e realização de ensaios para a utilização de sistemas de extinção automática podem ser opções consideradas como alternativas para a redução das ocorrências. Com certeza, a segurança aos passageiros e motoristas se elevará à um nível satisfatório, o que representará um avanço no setor dos transportes.

Segundo Eduardo Belopede, coordenador da Comissão de Fabricação de Veículos da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), responsável por determinar as normas de construção dos ônibus com características rodoviárias, uma nova norma técnica brasileira (inédita) será elaborada a partir deste ano, estabelecendo as especificações técnicas básicas a serem seguidas na fabricação dos modelos com abrangência às aplicações nos segmentos rodoviário, seletivo, turismo e fretamento.

Em linhas gerais, alguns dos atributos voltados para o uso de materiais com menor velocidade de propagação de chama, o isolamento termo/acústico no compartimento do sistema de propulsão, independentemente de sua localização; o uso de um sensor de temperatura contra incêndio, com a finalidade de alertar o condutor sobre princípio de incêndio, dentre outros componentes serão debatidos para alcançar a especificação final que resultará em veículos mais seguros.

Quanto ao extintor de incêndio, sua avaliação deve fazer parte da análise periódica da manutenção do veículo, não sendo admitida, em hipótese alguma, que seja liberado à operação um veículo equipado com um extintor com a data de validade da carga expirada ou no pior das hipóteses, equipamentos sem carga adequada, comprometendo sua capacidade extintora, algo muito comum e presente no transporte irregular e clandestino.

E, conforme reforçou Belopede, é importante destacar que, além de todos os esforços para estabelecer requisitos de segurança no processo de fabricação, ao longo da vida dos veículos as empresas operadoras e os poderes concedentes de transporte, também, têm sua parcela de comprometimento com a segurança dos passageiros.

Que a nova normatização traga boas decisões no sentido de promover o melhor transporte.

Este editorial, também, ouviu a indústria fabricante de carroçarias. Por intermédio de Ricardo Portolan, diretor de operações comerciais mercado interno e marketing da Marcopolo, que atendeu com toda atenção sobre essa questão, a marca gaúcha vê com atenção pela importância que tem na segurança dos usuários do transporte rodoviário, sendo que a equipe de colaboradores da companhia está acompanhando em campo e utilizando as informações para aprimorar ainda mais os padrões de prevenção para minimizar quaisquer riscos nos ônibus das marcas.

Ainda, segundo o executivo, todos os novos chassis são estudados junto com as montadoras fabricantes para o desenvolvimento de todos os sistemas e itens que compõem a nova carroçaria e cada chassi tem uma montagem específica e um projeto de carroçaria distinto, o que garante a máxima segurança e o seu perfeito funcionamento.

Outrossim, a utilização de componentes não originais ou não especificados pelos fabricantes pode gerar ou acarretar uma série de problemas, inclusive incêndios, informou Portolan. E, não são feitas alterações nos equipamentos originais que não atendam às recomendações e orientações dos fabricantes. Segundo ele, a Marcopolo utiliza os equipamentos mais avançados e sofisticados para garantir a máxima segurança dos seus veículos e os acabamentos utilizados atendem integralmente às normas vigentes. O executivo, também, destacou que, com a contínua evolução da indústria brasileira do ônibus, novos materiais estão sendo desenvolvidos e poderão, após testados e aprovados, equipar os veículos, tornando-os cada vez mais seguros, confortáveis e eficientes.

Quanto aos sinistros acontecidos, ultimamente, Portolan disse que cada ocorrência já registrada é sempre analisada para que os possíveis motivos sejam avaliados e analisados para que não se repitam. Em seu entendimento, o incêndio em ônibus é um fato extremamente perigoso e que pode gerar prejuízos incalculáveis e até vítimas e, por isso, as empresas envolvidas, como a Marcopolo, estão sempre atentas e trabalhando para desenvolver veículos cada vez mais seguros e sistemas de prevenção a quaisquer incidentes, cada vez mais avançados e que garantam a segurança e bem-estar dos passageiros.

Referências – Rodrigo Kleinubing, Perito Engenheiro especialista em Sinistros de Trânsito, em Incêndios Veiculares e em Fraudes contra Seguradoras. Coautor do livro DINÂMICA DOS ACIDENTES DE TRÂNSITO, Ed. Millennium, 5a Edição (2023), Autor do capítulo DIAGNOSE DE INCÊNDIO EM VEÍCULOS do livro INCÊNDIOS E EXPLOSÕES – Uma Introdução à Engenharia Forense, Ed. Millennium, 2a Edição (2019)

Imagem – Divulgação

 

 

2 Comentários

  1. Antônio Ferro vida longa para você continuar o teu trabalho idôneo que já soma 15 anos. Como retirar os passageiros do piso superior dos DD se a saída em situações de pânico causado por incêndio é no piso inferior? Navios e aviões tem recursos e alternativas eficientes para reduzir o número de vítimas. Edificações tem rotas de fuga, equipamentos e equipes treinadas para combater incêndios, e quando não as tem o desastre é inevitável. Há vários riscos mas os combustíveis em áreas ou percursos superaquecidos certamente são os maiores. Forte abraço.

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    • Antonio Ferro

      Perfeito João, muito obrigado pelas observações. Ônibus precisa ter saídas desobstruídas para qualquer tipo de acidente.
      Abc

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