O transporte coletivo urbano realizado pelo ônibus tem andado pelas ruas com a sua imagem desgastada, perdendo seu público para outros modelos de mobilidade, com ênfase em aplicativos, nas motos, automóveis, bicicletas e caminhadas. O bom e conhecido ônibus vem perdendo espaço, deixando de ser competitivo em função de equivocadas ações governamentais que não valorizam o modal e abrem espaço para formas alternativas de transporte, como o serviço de mototáxi, implicando na insegurança de todos os envolvidos nesse contexto.
A revista AutoBus conversou com Antonio Laskos, diretor do Setpesp (Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado de São Paulo) sobre essa nova dinâmica de mobilidade que tem atraído um público crescente em meio aos desafios do transporte regular para se reafirmar e reconquistar espaço, sempre levando em consideração a segurança de seus passageiros.
Revista AutoBus – Que tipos e formas de mobilidade irregular o Setpesp tem enfrentado nos últimos anos?
Antonio Laskos – São diversos. A “carona” remunerada ilegal, os ônibus clandestinos, o fretamento “colaborativo” irregular, as vans “piratas” e o serviço de mototáxi quando opera nas cidades onde não tem regulamentação aprovada.
AutoBus – Os debates sobre as novas modalidades de transporte público e os riscos advindos destes serviços podem ser vistos de forma vigorosa nos últimos tempos. Para o Setpesp, qual seria o melhor caminho para a construção de uma análise crítica confiável sobre o tema?
Laskos – Seria importante o poder público, os especialistas em mobilidade, as empresas operadoras do sistema e os representantes organizados dos usuários de transporte público coletivo de passageiros tivessem a possibilidade de, em conjunto, se aprofundarem sobre o tema segurança, legalidade e tecnologia no transporte público coletivo.
AutoBus – Como a entidade paulista vê o crescente espaço na mídia sobre essas novas modalidades de transporte individual de passageiros?
Laskos – Hoje presenciamos grandes interesses econômicos de um par de empresas criando uma falsa demanda e clamor pelo transporte individual e de baixo custo. Não é um apelo da sociedade.
Essa “demanda forçada” pelo transporte individual de baixo custo (mototáxi, carona remunerada compartilhada e aplicativos de viagens individuais) seguem exatamente o oposto do que mostram pesquisas e estudos temáticos em todo mundo. Principalmente para as grandes metrópoles mundiais, está provada a ineficiência desses modelos para uma mobilidade moderna e funcional.
Nas vias urbanas, promover motocicletas como transporte remunerado de passageiros trará, no mínimo, uma piora acentuada na segurança viária, elevando a sobrecarga nos centros médicos de emergência ortopédica (que já se encontram com sua capacidade de atendimento no limite), e piora na mobilidade urbana. Infelizmente já ocorreu a primeira morte de uma passageira de mototáxi na cidade de São Paulo.
Cada passageiro de mototáxi representa um veículo a mais nas ruas. Com isso, acontecerá a redução do volume de passageiros nos sistemas coletivos, o que implica no desequilíbrio econômico do sistema, punindo exatamente a população que opta pelo ônibus e compreende a importância da mobilidade coletiva.

Antonio Laskos
AutoBus – No contexto das operações por rodovias, entre cidades e estados, as viagens de média e longa distância, o tema do transporte irregular traz grande preocupação?
Laskos – Nas estradas e rodovias entre municípios e estados por todo o Brasil, cada ônibus pode substituir de 40 a 50 carros. Menos emissões de poluentes, menor gasto financeiro individualmente, mais espaço nas vias e menor tempo de viagem.
Nos transportes entre cidades, a situação de extrema periculosidade se dá pelo crescente movimento de oferta clandestina de “caronas” remuneradas. Essa oferta, seja por aplicativos especializados de “carona compartilhada” ou por grupos de WhatsApp ou formados em redes socais, são de extremo risco para a população.
AutoBus – Sobre os riscos encontrados com essas modalidades alternativas, o que podemos ver sobre as desvantagens proporcionadas aos passageiros?
Laskos – São vários. Não existe controle de qualidade e segurança do veículo, não se conhece a condição e qualificação do motorista que oferta e dirige esse veículo, não se sabe o que pode estar na mala ou no interior deste carro. Nas fronteiras do Brasil com nossos vizinhos sul-americanos a Polícia Rodoviária Federal apreende diariamente ilícitos no interior destes veículos e os passageiros (sabendo ou não da situação) acabam sofrendo as consequências decorrentes destes atos.
Quem organiza os grupos de ofertas de “caronas” remuneradas podem distribuir os cadastros dos passageiros para outras finalidades. Não existe nenhum controle tanto no aspecto segurança quanto no aspecto operacional.
AutoBus – É possível combater, e como fazer, para reduzir esse ilícito?
Laskos – Informação de qualidade, confiável, produzida por especialistas e autoridades no tema da mobilidade, e distribuída de forma ampla pelo poder público seria a primeira etapa do processo.
O acesso irrestrito ao mundo digital e o baixo custo em desenvolver propaganda on-line trouxe um desafio: Como identificar que aquele lindo anúncio na internet é ilegal ou não? Como o passageiro, que pretende usar pela primeira vez uma “carona remunerada” anunciada em um site com belas imagens de IA, entenderá que o baixo custo daquela viagem pode custar muito caro para a sua segurança e da sua família?
O Setpesp em conjunto com a Fetpesp, criou o DCI, Departamento de Combate à Ilegalidade, onde estamos reunindo dados de ofertas de serviços irregulares e criando uma base de informação para que as autoridades possam fiscalizar, de forma mais eficiente, a oferta deste tipo de ilicitude.
Em paralelo, o Setpesp vem publicando uma série de artigos e postagens nas mídias sociais, com a intenção de apresentar à população o risco dos transportes clandestinos e irregulares.
AutoBus – As ações já estão sendo exploradas e aplicadas?
Laskos – Sim, superimportante a velocidade da nossa atuação. Quanto mais demorarmos para combater os transportes irregulares e clandestinos, mais complexa será a retirada total desta oferta e a identificação de quem coloca a sociedade em risco com a prática ilícita no transporte público.
Imagens – Divulgação
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