Numa rápida pincelada, o que conta mais neste momento no segmento do transporte urbano, tarifas mais baratas ou tecnologia limpa de tração? Para muitos, a união desses assuntos cairia bem no cenário da mobilidade coletiva. Para outros, as passagens mais baratas é uma forma de poder atrair o público. Para mais alguns, o ambiente urbano limpo é fundamental para a sobrevivência humana.
Para este editorial, todas as considerações são importantes e devem ser avaliadas. Contudo, o segmento vem passando por uma difícil situação, com uma crise que lhe acompanha há alguns anos, decorrente da perda de passageiros, da falta de competitividade e rentabilidade e do surgimento de concorrentes – vide transporte por aplicativos – e de outros, já conhecidos, como o automóvel, a motocicleta, a bicicleta e a caminhada.
Nesse contexto, um estudo desenvolvido pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), denominado “Perspectivas da Transição Energética Justa no Transporte Público Coletivo” aborda a transição energética na mobilidade urbana sob a ótica da política pública e não de tecnologia de veículos.
O trabalho ressalta que a descarbonização da frota de ônibus é uma demanda da agenda ambiental, visando a redução de emissão de gases de efeito estufa, por meio da substituição do diesel que causa a degradação da qualidade do ar. Ainda, de acordo com o estudo, há no Brasil uma certa disputa pela rota tecnológica de substituição do diesel nos ônibus, com propostas diferentes das diversas fabricantes de chassis de ônibus, com alternativas que consideram o uso de baterias, biocombustíveis, gás e veículos com tecnologia híbrida.
O IEMA informa que o objetivo é apontar caminhos para formuladores de políticas públicas e defensores do interesse público para a promoção da transição energética justa na mobilidade urbana, com foco no transporte público coletivo.
Renato Boareto, autor do estudo, comentou que a análise traz o contexto da atual crise do transporte público coletivo, ocasionada pelo aumento de custos, esgotamento do modelo de financiamento baseado na tarifa paga pelo usuário e queda acentuada de passageiros. Segundo ele, essa crise pode levar à sua desestruturação enquanto serviço público essencial por meio de sua desregulação econômica. “Além disso, soma-se à crise a necessidade de descarbonização do transporte público coletivo. Não dá para abstrair que a busca pela transição energética justa aparece em um momento de crise do modelo de financiamento e do transporte público em geral. Se continuar assim, podemos ter a desestruturação do setor”, observou Boareto.
Segundo o estudo, instrumentos de financiamento vindos do Governo Federal serão essenciais para o teor do trabalho, visando a formatação e adoção de políticas públicas inerentes ao que se objetiva.
Para a revista AutoBus, a limitação de investimentos vindos da esfera Federal e a falta de capacidade dos governos municipais em promover uma alteração nos sistemas de transporte coletivo urbano são adversidades à uma nova realidade nos serviços de ônibus.
O atual modelo de remuneração desses serviços não permite que somente os operadores privados queiram transformar o conceito em seus negócios (contudo, alguns esforços podem ser vistos nesse sentido). Nem mesmo nos países desenvolvidos, a questão da transição energética na operação é orientada pelo agente privado, sendo que a presença governamental, por intermédio das tais políticas de incentivos, se faz necessária para que ocorra essa transformação de paradigmas.
Eletricidade e biocombustíveis andam juntos nessa validação da sustentabilidade ambiental. Não é possível pensar apenas em um tipo de tração num país com dimensões continentais. Este editorial salienta que, equivoca-se quem só defende uma das duas opções citadas acima.
A indústria brasileira do ônibus tem a expertise, a capacidade e está preparada para produzir todos os tipos de propulsores adequados, da melhor forma, para a redução das emissões poluentes. Então, o que falta? Interesse por parte dos governantes pelo assunto transporte coletivo realizado pelo ônibus, para que este venha ter desempenho, qualidade, rentabilidade e que cumpra com o seu papel ambiental.
Imagem – Divulgação
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