Especial – Túnel do tempo
Crônica de Osvaldo Born
Estamos todos no mesmo caminho. E um dia o relógio marcará a hora de descermos do ônibus da vida e esperarmos a próxima etapa que, independente da crença e razão de cada um, é pensada por todos em – “como será?”. Alguns acreditam mesmo que não há esse aspecto, que o desembarque é em um terminal que não leva a nenhuma integração adicional. Simplesmente acabou!
Enquanto não chega este momento, contamos os dias, as horas, os minutos e segundos, ainda que a vida moderna esteja nos tirando o “prazer do tempo”: a ansiedade e o imediatismo tomaram conta de nossa rotina. A geração atual, provavelmente, precisaria de um psiquiatra para poder esperar o uso e revelação de um filme fotográfico de 36 poses dos anos de 1980. Primeiro por serem “apenas” 36, não sendo possível fazer 1.000 imagens de um mesmo objeto sob todos os ângulos possíveis, e, segundo, porque a tarefa de levar até uma reveladora, aguardar mais de duas horas para a impressão…
A contagem do tempo está perdendo um pouco o sentido na atualidade, porque a fluidez, a ocupação de 24 horas de nosso dia conectados, plugados, tem nos feito abdicar de horário para refeições, sono ou mesmo o tempo do ócio. Os mais jovens acordam de madrugada para atualizar suas relações nas redes sociais, para consultar mensagens que, provavelmente, em nada mudarão sua vida, mas que para eles se tornou essencial “estar sempre online”.
De toda maneira, a contagem do tempo sempre foi de algum modo necessária, desde que nos encontrarmos enquanto “gente” e “sociedade” regulando de certa forma as relações sociais e, sobretudo, comerciais. E então foram criados os calendários, cada povo ou regiões com o “seu”, buscando a melhor forma de se relacionar com a passagem dos dias. No ocidente, temos, entre outras formas de registrar o tempo, os calendários de mesa, de parede e um outro que praticamente desapareceu e muitos jovens certamente nunca viram de perto, os “de bolso”.
Geralmente, era do tamanho que cabia no bolso da camisa ou calça masculina e, também, nas carteiras, tendo o visual dos meses do ano de um lado e no outro alguma propaganda da empresa que o cedia. Sim, era uma das benesses gratuitas em formato impresso, um instrumento de marketing poderoso e muito usado nas décadas de 1970 e 1980 especialmente, pois permanecia pelo menos um ano “em mãos” do potencial cliente.
Quando não, permanecia até mais tempo, senão nos bolsos, nas gavetas quando findava o ano, pois muitas vezes, tais calendários de catálogo traziam a propaganda discreta junto aos meses do ano a uma diversidade de estampas, de veículos antigos, cidades (praticamente mini-postais) e até mesmo os muito ousados, que traziam fotos de modelos femininas de biquini ou “nuas em pêlo”. Imagino que, atualmente, para que fossem politicamente corretos, seria necessário ampliar o tipo de público nu presente nas estampas.
Na área do transporte de passageiros, as empresas de ônibus usavam muito do recurso para se fazer presente e efetivar sua imagem na mente dos potenciais clientes e público em geral. As operadoras Pluma Conforto e Turismo, Eucatur, Auto Viação Catarinense e Viação Itapemirim – além das próprias encarroçadoras – eram exemplos do setor que sempre tinham disponíveis no balcão do guichê os calendários de bolso e certamente não faziam vistas grossas para enviar pelo Correio, quando solicitado, calendários de mesa, alguns bem vistosos, com uma “folhinha” para cada mês, impressos em papel couchê de ótima gramatura e espiral, ostentando no verso uma imagem de um veículo da frota atual e/ou antiga. Mas, mesmo empresas menores, igualmente tradicionais, como a Empresa Curitiba Cerro Azul, sempre distribuía pelo menos um milheiro de calendários todo ano e a prática foi até cerca de três anos atrás, quando trocou de comando.
Independente da forma como contaremos o tempo nos próximos anos, a certeza é que continuará sendo necessário, nem que seja em milissegundos. E novas formas surgirão, criativas inclusive, para efetivar esta contabilidade. Mas nada maculará os registros de décadas passadas que continuaremos guardando em nossos bolsos.
Imagens – Reprodução Bortolan Leilões e internet
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