A substituição da atual frota brasileira de ônibus urbanos foi objeto de debate, recentemente, no webinar Transição energética e combustíveis sustentáveis: o Brasil como modelo, promovido pelo Integridade ESG. Erroneamente considerado, por muitos, o vilão quando falamos em sustentabilidade ambiental no setor de transportes, o ônibus está inserido no contexto da transição energética da mobilidade urbana, sendo um exemplo que pode, sim, ser equipado com variadas trações limpas.
Contudo, o modal vem sendo associado, nos últimos tempos, com a eletricidade como única alternativa para se alcançar resultados efetivos no campo do transporte limpo. A energia elétrica é observada como o futuro para a propulsão dos veículos automotores. Sem dúvidas, mas é preciso pensar em outras alternativas que, também, são compatíveis com a ideia da mitigação da poluição, como os biocombustíveis, por exemplo.
Durante o webinar, Guilherme Wilson, gerente de Planejamento e Controle da Semove (Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro), comentou que é preciso cuidado com a eletrificação do transporte público coletivo, quanto ao investimento necessário em infraestrutura. Segundo ele, para eletrificar os 100 mil ônibus da frota rodoviária do Brasil hoje, é preciso de 350 bilhões de reais de investimento. “Isso é muito significativo na parte de infraelétrica, para a gente abastecer uma garagem hoje com 200, 300 ônibus, tem que trazer alta tensão. Então, às vezes, aquela garagem vai consumir mais do que um bairro inteiro da localidade. E essa alta tensão não está disponível. Além disso, é um dinheiro que não existe, impossível de ser apresentado. Não há fonte de financiamento para isso”, observou.
Wilson salientou que é preciso seguir desenvolvendo novos biocombustíveis por meio de matérias-primas que podem ser as mesmas, entre oleaginosas. “Se pegássemos o óleo de soja que temos, produzíssemos HVO (diesel verde), nós, de forma equivalente, estaríamos eletrificando 100 mil ônibus do País, equivalentemente, do ponto de vista de descarbonização”, afirmou o gerente.
O professor da COPPE/UFRJ e presidente do Instituto Brasileiro de Transporte Sustentável (IBTS), Márcio D’Agosto, lembrou que o Brasil tem características bem diferentes de outros países do mundo, com muitas alternativas energéticas interessantes, que inclusive podem ser consideradas também para reforçar o pilar social, mas não existe uma solução única. “Enquanto pesquisador e acadêmico, digo que os diferentes segmentos de transporte precisam ser olhados de forma diferente. É possível eletrificar determinado segmento do transporte rodoviário de carga e de passageiros, usar biocombustível em outros segmentos e inclusive, manter o óleo diesel em outras áreas da mobilidade que são mais difíceis de fazer a transição, esticando seu uso por mais um pouco de tempo, com uma tecnologia cada vez mais aprimorada. As opções devem ser exploradas da melhor forma, pois existem recursos e capacidades de financiamento diferenciados”, afirmou.
D’Agosto fez uma ressalva. Além do combustível, existe a opção pelo coletivo. “Uma viagem urbana em um carro SUV, em termos de consumo de energia, é equivalente a uma viagem de avião. Nós fazemos diariamente, no transporte individual, viagens urbanas aéreas. São mais de mil quilojoules por passageiro/quilômetro. Se você optasse pelo transporte coletivo, reduziria 10 vezes. Ou seja, um ônibus urbano consome um décimo da energia que consome um automóvel individual que normalmente está com uma pessoa só, significa reduzir 10 vezes a emissão de gás de efeito estufa”, explicou.
Imagem – Reprodução
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