Por Paulo Valente, diretor do Rio Ônibus
Conectando 6,5 milhões de pessoas a seus destinos diários, os ônibus da cidade do Rio de Janeiro têm sofrido com um problema grave e recorrente: a falta de segurança pública. No último ano, a escalada dessa violência tem gerado não apenas prejuízos financeiros significativos, mas também colocado em risco a segurança de passageiros e rodoviários.
Até agosto deste ano, 87 ônibus foram sequestrados e utilizados como barricadas contra a ação de policiais que combatem o crime organizado. Além desses, outros 8 veículos foram incendiados, causando um prejuízo financeiro de mais de seis milhões de reais. Esses números, por si só, já são alarmantes, mas tornam-se ainda mais preocupantes quando somados aos de 2023, quando 162 ônibus foram sequestrados e 26 foram incendiados, sendo 21 em um único dia. Sem contar os assaltos, onde até granadas já foram utilizadas, e a queima de ônibus em protestos por outros motivos não relacionados diretamente à segurança pública.
Sempre que ocorrem eventos desse tipo ouvimos os mesmos comentários: o que é que os ônibus têm a ver com isso? Será que essas pessoas que os incendeiam não entendem que a população vai ser prejudicada? Mas o fato é que essa indignação momentânea não impede a reincidência regular desses atentados criminosos, que ocorrem quase sempre nas mesmas horas e locais.
O problema é antigo e os impactos são inúmeros. Se olharmos além dos dados financeiros, verificamos que o vandalismo nos ônibus prejudica também a saúde física e emocional de rodoviários e passageiros. Motoristas trabalham sob intenso estresse em áreas de disputa territorial, onde muitas vezes seus ônibus são alvos de barricadas. Muitos profissionais se recusam a rodar em determinadas linhas com medo das ações dos criminosos. Aqueles que já passaram por situações dessas sofrem intensos traumas psicológicos, desenvolvendo crises de ansiedade e ataques de pânico. Hoje, há muita dificuldade para as empresas substituírem esses profissionais.
Atos de vandalismo contra o transporte público são ataques diretos ao direito de ir e vir da população. Cada ônibus destruído representa menos uma unidade para transportar trabalhadores, estudantes, idosos, e todos aqueles que dependem desse meio para suas atividades cotidianas. Além disso, menos opções de transporte são disponibilizadas e, consequentemente, a qualidade do serviço prestado é afetada. A destruição de um ônibus não se restringe ao veículo em si, mas sim, ao inteiro funcionamento da cidade, que fica com sua mobilidade prejudicada, afetando todos os setores da economia.
A segurança pública precisa ser encarada como prioridade. É imprescindível que as autoridades adotem medidas preventivas e reativas para proteger os ônibus, os passageiros e os rodoviários que estão na linha de frente todos os dias. A falta de segurança no transporte público reflete a vulnerabilidade a que estamos expostos e evidencia a necessidade urgente de uma política integrada que envolva não só a repressão aos crimes, mas também a conscientização da população sobre o valor do transporte público para a cidade.
O vandalismo é um problema complexo, mas não insolúvel. É preciso que sociedade civil, as concessionárias do serviço e o poder público trabalhem juntos para criar um ambiente que proporcione aos cidadãos um transporte seguro, eficiente e acessível. É necessário um esforço conjunto para garantir o direito de ir e vir de todos os cariocas e promover a conscientização sobre a importância de preservar o patrimônio público. O Rio de Janeiro merece um sistema de transportes à altura de sua grandeza, e essa luta é de todos nós.
Imagens – Acervo Rio Ônibus
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