A presença da família na gestão do transporte

Em nova pesquisa, a Confederação Nacional do Transporte revela que as empresas que movimentaram mais de 90% dos passageiros do segmento interestadual tem o caráter familiar

As operadoras de ônibus rodoviários do segmento regular interestadual têm um perfil voltado para a gestão familiar. É o que diz o mais novo estudo realizado pela CNT, Confederação Nacional do Transporte, ao destacar que 93,3% das empresas do ramo estão sob a administração de membros da família e 73,8% são comandadas pela segunda ou terceira geração de gestores. Segundo o levantamento, os desafios persistem, como os altos custos operacionais e a concorrência desleal de serviços irregulares, muitas vezes associados a novas ferramentas tecnológicas.

O estudo recebeu o nome de Pesquisa CNT Perfil Empresarial Transporte Rodoviário Interestadual de Passageiros e teve o apoio da Abrati (Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros), abrangendo empresas de diferentes portes e de todas as regiões do Brasil, que, juntas, movimentam mais de 90% dos passageiros do segmento. Lembrando que o serviço regular do transporte interestadual de passageiros atendeu, em 2023, 43 milhões de pessoas, um crescimento de 2,3% em relação a 2022.

Para o presidente da CNT, Vander Costa, as informações presentes na publicação podem subsidiar as entidades representativas, permitindo uma atuação mais eficaz na defesa dos interesses do setor. “Os dados são cruciais para que os empresários tomem decisões estratégicas, aprimorando seu posicionamento em um ambiente competitivo e alinhado aos critérios de sustentabilidade econômica, social e ambiental. Para a sociedade, os resultados reforçam a relevância dos serviços prestados pelas empresas do setor em todo o Brasil”, observou.

Segundo o levantamento, há dados interessantes, como o índice de 82,2% das empresas que têm mais de 20 anos de mercado, refletindo a tradição do transporte rodoviário interestadual de passageiros no Brasil. Além disso, 84,4% dessas empresas atuam em outras modalidades, com destaque para o transporte de cargas, operado por 52,6% dos entrevistados.

Em termos de processo operacional, a modernização da venda de passagens é um ponto em comum. A aquisição de bilhetes tornou-se mais acessível e ágil, com 95,6% das empresas oferecendo vendas on-line. Isso não significa que canais tradicionais, como agências de venda e bilheterias, são inutilizados. Continuam, sim, relevantes, alcançando 80% das preferências de oferta de bilhetes, empatando com o uso de aplicativos.

Outros desafios, como a empregabilidade, são ressaltados. Entre as atividades com maior escassez de profissionais estão motoristas, mencionado por 84,4% das empresas e mecânicos/manutenção, 73,3%. De acordo com as informações, a dificuldade de contratação está ligada ao pouco tempo de experiência na função (55,6%) e à falta de qualificação específica (53,3%), evidenciando a necessidade de cursos e treinamentos direcionados.

Quanto a competitividade com outros modais de transporte, como o aéreo, observa-se uma maior participação do avião em relação ao rodoviário no transporte interestadual de passageiros no País. Em 2022, a participação foi de 75,6% para o aéreo e 24,4% para o rodoviário. Para a CNT, a despeito das oscilações nos preços das tarifas domésticas, o setor aéreo manteve um bom desempenho. Contudo, o rodoviário se destaca por sua capilaridade, com ampla rede de terminais e pontos de parada, além de oferecer maior flexibilidade para bagagens e transporte de pequenas mercadorias.

“As informações, também, são valiosas para o poder público, pois oferecem subsídios para a elaboração de políticas mais assertivas para o setor. Conforme a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), o Brasil conta com mais de 8 mil empresas habilitadas, responsáveis por gerar aproximadamente 89 mil empregos diretos para motoristas, com mais de 39 mil veículos registrados no transporte rodoviário interestadual de passageiros”, ressaltou Vander.

O avanço de novas tecnologias, como aplicativos que conectam usuários e motoristas que compartilham destinos comuns em veículos particulares, e a venda individual de passagens por empresas cadastradas para fornecer serviços de fretamento ou empresas que nem estão cadastradas para operar no segmento, configuram-se como uma concorrência desleal para as empresas regularmente cadastradas na ANTT. “A Pesquisa CNT Perfil Empresarial é de grande valor para o setor, tornando sua estrutura e capacidade operacional mais transparente para a sociedade”, disse o presidente do Conselho Deliberativo da Abrati, Paulo Porto Lima.

Os custos operacionais, também, são caracterizados no estudo como desafios constantes para que os serviços tenham um nível de serviço adequado com a qualidade essencial a ser disponibilizada aos passageiros. Com uma frota composta por ônibus movidos a diesel (99,98%), os gastos com combustível (33,3%) e mão de obra (31,9%) são os mais significativos. Inclusive, 82,2% das empresas acreditam que o aumento dos preços dos combustíveis e a inflação terão maior impacto nos seus negócios nos próximos três anos.

Outra importante constatação na pesquisa se refere a promoção da sustentabilidade em ações ambientais que objetivam a redução do impacto das operações. Além de resultar numa imagem corporativa mais positiva, a questão financeira é abordada para se obter rentabilidade. Nesse sentido, o monitoramento do uso do combustível (71,1%) e da água (68,9%) são medidas que mais se sobressaem em aspecto de implementação de ações ambientais.

Contudo, quanto ao teor de biodiesel de base éster misturado ao diesel fóssil, é um aspecto apontado pelas empresas como um contrassenso no quesito alternativa energética menos poluente, pois, aproximadamente, 49% delas já identificaram em seus veículos problemas relacionados ao biodiesel. Desses, 81,8% são questões que dizem respeito ao aumento da frequência da troca de filtros, 63,6% a falhas no sistema de injeção e 36,4% ao aumento no consumo de combustível por quilômetro rodado, entre outros problemas.

Dessa maneira, as operadoras concordam com pesquisas sobre os prejuízos da mistura de biodiesel no diesel e do posicionamento da CNT no sentido de que o aumento do percentual de biodiesel, atualmente em 14%, tem se mostrado prejudicial para os setores que fazem uso desse insumo.

Artigo publicado, originalmente, no portal da revista Sou + Ônibus

Imagens – Divulgação

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *