Editorial
De acordo com o portal Diário do Transporte, o prefeito paulistano, Ricardo Nunes, está na China para captar recursos e tecnologias capazes de promover a descarbonização do sistema de transporte urbano de superfície da maior cidade do Brasil. Se não tem por aqui, viaja-se para fora para encontrar soluções. Contudo, muitas delas estão bem debaixo de nossos narizes, faltando para isso incentivo comercial e políticas públicas favorecer conceitos, ainda, não utilizáveis.
O ônibus foi eleito o bode expiatório na capital paulista em termos de mobilização junto a redução das emissões poluentes. Lembrando que esse modal representa uma ínfima participação no contexto da poluição. E, as ações políticas podem alcançar um nível de desvalorização nacional que ultrapassa o limite do bom senso. O Diário do Transporte informou que a prefeitura irá investir US$ 100 milhões para comprar ônibus com tecnologia chinesa, enquanto que a indústria nacional já está apta em fornecer e até negociar o fornecimento da tração elétrica.
Com tudo o que está acontecendo no assunto da geopolítica mundial, nosso País poderá ter sua porteira arrombada pelos produtos asiáticos num momento que o conteúdo local (em todos os setores) patina pela pura falta de incentivo e sob o chicote tributário que açoita toda a nossa sociedade. Na China, o chefe da gestão pública municipal de São Paulo tenta selar acordos para trazer inovações, como os enormes bancos de baterias capazes de abastecer os ônibus onde não há infraestrutura adequada a esse objetivo (sistema com alta tensão).
Mais uma vez a cidade dará um passo maior que a perna para atender seus objetivos ambientais, sem antes promover uma avaliação relacionada com as tecnologias alternativas que podem contribuir com as metas de redução dos gases poluentes? Será um receio do setor da mobilidade elétrica em ver outras opções limpas, como o biometano, sendo levadas em considerações para o transporte sustentável? A escolha pelas tecnologias chinesas se dará ao gosto das vontades da prefeitura ou terá que passar por um exigente processo de licitação onde as falhas, as vantagens e a eficiência energética serão avaliadas? Quem está aí para fiscalizar os atos está acompanhando o desenrolar dessa situação?
Todas as fabricantes brasileiras de ônibus contam com desenvolvimentos voltados para a eletrificação, cada qual com seus projetos e características. Não é pertinente ir lá fora para buscar algo que poderá dar alento à indústria local, fomentar empregos e valorizar o que é nosso. Talvez, o maior desafio será vencer os interesses corporativos que determinam o rumo da política e do desenvolvimento urbano.
0 comentários