A proposta de mudança do modelo de negócios da mobilidade urbana

Em termos práticos, há muitas implicações a partir dessa proposta. Além da vontade política, seria necessário se desvincular das amarras atuais de contratação, gestão e concepção de serviços, porque o modelo de negócios se baseia no conceito de aliança entre as partes envolvidas
André Dantas,

André Dantas,

Engenheiro civil com doutorado em transportes

Insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes, então não há outra alternativa senão mudar o modelo negócios da mobilidade urbana, escrevo para tentar gerar o debate amplo.

A concepção fundamental seria o desenvolvimento de um ecossistema de negócios associados à mobilidade. Diferentemente do que temos hoje, com segmentações de negócios por modo de transporte, a mobilidade urbana seria encarada como um “pacote”, que incluiria também negócios em outras áreas conexas. Muito além de tarifas de transporte, a geração de receitas também seria relacionada a produtos financeiros, digitais, imobiliários e outros tantos que contribuam para a sustentabilidade e os investimentos a longo prazo.

Para efetivar esse modelo de negócios, o ente público trabalharia em regime de co-criação e co-gestão com uma empresa privada exclusivamente dedicada ao negócio mobilidade. Por um lado, o ente público teria o papel de fomentador de proposições inovadoras de negócios, de verificador do cumprimento de metas de atendimento e aplicaria penalidades às violações contratuais. Por outro lado, a empresa privada seria responsável pela operação, a gestão comercial da infraestrutura de mobilidade, inclusive estacionamentos, áreas lindeiras, estações e terminais, pontos de embarque e desembarque, calçadas, ciclovias, ciclofaixas e tudo mais relacionado. Ademais, abarcaria os pagamentos e a fiscalização dos serviços, assim como penalidades por infringimentos legais, tais como multas de trânsito.

Em termos práticos, há muitas implicações a partir dessa proposta. Além da vontade política, seria necessário se desvincular das amarras atuais de contratação, gestão e concepção de serviços, porque o modelo de negócios se baseia no conceito de aliança entre as partes envolvidas. Não estamos acostumados a isso. Pelo contrário, vivemos em uma situação em que o poder público se dedica muito a prever e controlar o que deve acontecer em termos da provisão dos serviços. E do setor privado, espera-se que assuma os riscos sem a garantia do retorno dos investimentos e sem o ganho de escala necessário para gerar atratividade financeira. No modelo de negócios proposto, os papéis seriam alterados significativamente, para que exista maior agilidade, com base na exploração de todos os recursos tecnológicos possíveis, para entender a dinâmica do mercado como um todo e assim prover os serviços adequados aos diversos segmentos.

Obviamente, essa proposta é incipiente e precisa ser elaborada. Há a necessidade de evoluir na regulação, na política e na tecnologia. É importante destacar que não se trata de adotar Mobility as a Service (MaaS), que muitos têm apontado como um avanço interessante. Entendo que o importante é iniciar uma ampla discussão, principalmente técnica, que possa avaliar os desafios, as oportunidades e as barreiras.

Imagem – Acervo pessoal

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