A expectativa é muito positiva em meio ao que poderemos ter, num futuro bem próximo, em termos de alternativas energéticas para a redução das emissões poluentes do setor de transporte de passageiros sobre pneus. Trata-se da tecnologia dos motores a gás natural, que, ainda, podem ser movimentados com o biometano, uma opção que traz benefícios nessa jornada ambiental. E, o projeto que visa expandir esse contexto, envolve a fabricante de chassis para ônibus, Scania, e a operadora paulista do transporte rodoviário de passageiros, Viação Santa Cruz.
Essa sinergia entre as empresas, que vem de muitos anos, resultou num processo de avaliação em condições reais de um modelo equipado com o motor de 340 cv, Euro VI, nas operações entre São Paulo e Campinas, distantes 100 km. Gustavo Cecchetto, gerente de Vendas de Soluções de Mobilidade da Scania, disse que a jornada da sustentabilidade se encaixa, perfeitamente, na estratégia de desenvolvimento de ônibus da marca, sempre levando em consideração três pilares, fundamentais para o sucesso da operação. “Sempre que discutimos com as áreas responsáveis pelo desenvolvimento de uma nova tecnologia para nossos veículos, levamos em consideração a viabilidade por meio de três pilares, que são o ambiental, o financeiro e as condições técnicas. Ao anteder esses três pontos, entendemos que a tecnologia está apta para ter ganho de escala, permitindo que nossos clientes tenham rentabilidade em seus negócios e, ainda, benefícios à sociedade e ao meio ambiente”, ressaltou Cecchetto ao dizer sobre os motores a gás.
Ele, também, lembrou que o Brasil, por suas características territoriais, dá a oportunidade para que a matriz energética do transporte seja variada, com as opções tecnológicas limpas para atender os diversos nichos operacionais. “O diesel, ainda, é predominante nessa matriz energética e será por um bom tempo. Contudo, já vivenciamos a tração elétrica nos ônibus urbanos, com mais de 650 unidades espalhadas pelo Brasil, sendo 35% com o quadro dos chassis Scania. Relacionado ao gás, esta é a hora, pois essa modalidade atende os três pilares que eu disse anteriormente. Hoje, temos motores a gás nacionalizados e o potencial para que o custo operacional seja igual ou até mesmo menor quando comparado com o diesel é grande. Portanto, neste momento, já podemos ver a harmonia entre as tecnologias que proporcionem a redução das emissões poluentes no transporte coletivo”, explicou Cecchetto.
O gerente da Scania salientou que o projeto piloto em andamento na cidade de Goiânia, GO, visa dar maior respaldo à tração a gás, com o sistema do transporte urbano local investindo em veículos articulados no segundo semestre deste ano. Para atender isso, uma usina de biometano será construída para gerar o combustível dos ônibus.
Francisco Mazon, diretor da Viação Santa Cruz, comentou que essa avaliação terá, num primeiro momento, uma duração de 90 dias, numa operação entre as cidades de São Paulo e Campinas. “Vamos analisar todas as circunstâncias para sabermos de todo o potencial dessa tecnologia. Para o setor rodoviário, essa é uma inovação que tende a ter sucesso, dependendo, é lógico, das variáveis dos custos, aspecto que sempre levamos em consideração para termos nossa rentabilidade. Por termos uma longa parceria com a Scania, acreditamos que alcançaremos sucesso operacional. Contudo, repito que os resultados dos testes indicarão para nós os aspectos relacionados a operação e aos componentes dos ônibus. Nosso contrato de comodato é de 90 dias e, dependendo dos testes, poderemos renová-lo por igual período”, disse Mazon.

Francisco Mazon – Otimismo na avaliação do veículo em meio ao que se busca por um transporte sustentável
No evento de apresentação do referido projeto, o diretor da Santa Cruz anunciou que está reforçando a sua frota com a renovação de mais 20 unidades, com os chassis K370, que serão entregues nos próximos dias. “Hoje, nossa frota é 100% Euro VI. Agora, com a chegada de mais 20 novos ônibus, mantemos nosso ritmo em promover a modernização da nossa frota”, observou Mazon.
O respectivo chassi K340 tem o motor de 9 litros e 5 cilindros (Ciclo Otto), com 340 cv de potência, tendo um torque semelhante ao modelo a diesel, sendo produzido na planta de São Bernardo do Campo, SP, além de seis cilindros em aço, tipo 1, capazes de armazenar 720 litros de gás, possibilitando uma autonomia de até 450 km. O tempo de abastecimento é de 15 a 20 minutos, num sistema de alta vazão, NGV2.
E, como incentivo à tecnologia numa escala comercial, a Scania informou que há negócios expressivos em andamento, com um volume de 150 unidades, tanto para o mercado urbano, como o rodoviário.
Nota do editor – O transporte rodoviário de passageiros tem uma tradição positiva no Brasil, há muitos anos. Assim como outros setores, ele, também, tem os seus dilemas, enfrentando diversos desafios no cotidiano operacional. Dentre eles, a adequação ao assunto da sustentabilidade ambiental, com a busca pela propulsão limpa sem que lhe afete, negativamente, sua rentabilidade e estratégia de negócio, tem sido a tônica para muitos operadores.
O setor tem olhado para o desenvolvimento tecnológico das formas de tração que contribuam com a redução das emissões poluentes. Com isso, a opção pelo gás natural ou biometano tem sido uma vertente que começa a ser considerada real nas operações. Mesmo que o diesel, ainda, tenha sua prevalência, as alternativas gasosas podem se igualar na eficiência e no lado econômico, sendo atrativos aos empresários.
Contudo, isso depende de políticas públicas para que o preço do gás natural ou do biometano seja viável, objetivando sua inserção em escala comercial na matriz energética. Sem subsídio governamental e contando, apenas, com o faturamento vindo das tarifas, o empresário não se sentirá atraído a investir numa tecnologia mais cara sem que lhe haja retorno financeiro. Nisso, a proposta ambiental tende a chegar morta.
A trabalhosa tarefa de unir os diversos agentes da cadeia do gás – produtores (no caso do biometano), distribuidores, governos, operadores do transporte e fabricantes da tecnologia veicular -, junto às regras claras quanto a preços competitivos e de fornecimento dos insumos, deve ser vista como objetivo principal em torno do propósito de ocorrer uma transição energética saudável e duradoura no setor.
Imagens – Divulgação e Revista AutoBus
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