Em Brasília, fabricantes reforçam seus conceitos para o melhor transporte

Apesar da eletrificação tomar conta da exposição que aconteceu, paralelamente, ao Seminário da NTU 2025, as empresas participantes do evento são unânimes em afirmar que a sinergia entre tecnologia, serviços e operação é a melhor resposta para o transporte coletivo urbano

Um dos painéis do Seminário Nacional da NTU levantou a questão da transição energética para o transporte coletivo urbano sobre pneus. Denominado de “Inovação Tecnológica Veicular e Transição Realista”, a seção apresentou, por meio de representantes da indústria brasileira de chassis, os caminhos para reduzir as emissões da frota nacional, com propostas e passos necessários para uma transição energética viável, diante dos desafios e oportunidades de cada região do País.

Walter Barbosa, vice-presidente de vendas, marketing, peças e serviços de ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, comentou que a mais recente edição promovida pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos foi de grande importância e que, mais uma vez, veio para somar no sentido de se alcançar soluções para que a imagem do transporte coletivo possa ser revista e transformada para melhor.

No sentido da tecnologia de propulsão, o executivo afirmou que a Mercedes-Benz tem uma gama de produtos que pode contribuir com esse processo de descarbonização no setor, numa forma combinada de tecnologias e o bom planejamento. “Não podemos pensar, unicamente, em ônibus elétrico. De início temos que ter planejamento para podermos adotar qualquer tipo de matriz energética, levando em consideração os investimentos, a infraestrutura específica tão essencial para o sucesso das operações e uma política realista de mobilidade. Nós da Mercedes-Benz acreditamos num compasso sensato, numa transição gradativa das frotas de ônibus, observando todas as modalidades de energia”, explicou Walter.

Lembrando que a fabricante tem um portfólio variado de produtos idealizados para o transporte coletivo urbano, onde o motor de combustão, de última geração, é oferecido em paralelo com a propulsão elétrica. O diretor da Mercedes-Benz disse que a tecnologia de tração precisa ser vista de maneira sensata, para ser utilizada de forma adequada ao momento. “Os investimentos públicos precisam fazer sentido nessa transição. Veja um exemplo, com o valor de três mil ônibus elétricos pode-se comprar 11 mil ônibus Euro VI, alcançando o mesmo resultado em torno de emissões poluentes em óxido de nitrogênio e material particulado. Hoje, com essa nova geração de motores de combustão interna a diesel, conseguimos reduzir os efeitos da poluição local, promovendo um ganho ambiental”, afirmou Walter.

O motor Euro VI, em comparação com a versão Euro V, tem uma redução de 50% em material particulado e 80% em Nox.

O Brasil, segundo o executivo, tem muita chance de liderar a inovação tecnológica, mas com o pé no chão, sem atropelos, pois tem potencial para produzir, de forma eficiente, todos os tipos de propulsão limpa. “Claro, temos em nosso portfólio um modelo de ônibus elétrico, pois acreditamos nesse conceito e que a eletrificação será uma das protagonistas na tração do transporte sobre pneus. Atualmente, temos o chassi eO500u que é um produto ajustado para as necessidades dessa descarbonização dos sistemas. O modelo tem vantagens interessantes para o operador e os passageiros alcançadas pelo DNA de nossa marca que privilegia o melhor em termos de tecnologia embarcada”.

O lado financeiro da operação de ônibus elétrico é outro ponto avaliado por Walter. Hoje, segundo ele, um modelo com essa tração custa três vezes mais que um similar a diesel, fator que exige das prefeituras um aporte extra em sua aquisição. Porém, o custo em energia equivale a 40% da operação com o ônibus a combustão. “O custo total operacional é vantajoso com o elétrico, mas é preciso levar em consideração alguns aspectos, como a durabilidade das baterias e o desafio das recargas rápidas das mesmas, para uma melhor operação. Neste momento de experiência, digo que estamos tendo muito conhecimento positivo”, disse o executivo.

Para o diretor de vendas de Ônibus da Volkswagem Caminhões e Ônibus do Brasil, Jorge Carrer, o próprio ônibus é a maior resposta quando se pergunta sobre a descarbonização do transporte e a melhoria da mobilidade coletiva nas cidades. “O transporte coletivo tem que receber maior atenção para que mais pessoas possam usá-lo. Se falarmos em solução, dentre as tecnologias que temos no mercado, o próprio ônibus é a opção viável que precisa ter prioridade em sua operação. Temos muitos desafios para que cidades possam ser mais eficientes e o ônibus tem um papel fundamental nessa questão, seja ele elétrico ou com motor de combustão interna”, disse.

A fabricante esteve em Brasília com o seu novo produto na categoria da eletrificação, o e22L. Seu chassi foi desenvolvido sob os auspícios da engenharia da Volkswagen CO, levando em consideração tópicos tecnológicos que ressaltam a segurança, a eficiência e a economia. “Temos um produto robusto, capaz de operar na nossa realidade, contando com o suporte da rede de concessionária. Ele usa baterias de lítio, ferro e fosfato, com oito packs suficientes para uma autonomia que ultrapassa os 250 km”, explicou o diretor da Volkswagen CO.

O executivo se mostra otimista com o conceito da eletricidade, mas que é preciso ter em mente um entendimento sobre como obter desempenho e rentabilidade no setor. “O processo paulistano tem investido na eletrificação e conta com um suporte econômico expressivo, mas que não se traduz no resto do País. Portanto, a realidade não é a mesma e é necessário um bom planejamento para a implantação da infraestrutura e aquisição dos veículos”, observou Carrer.

A fabricante vem investindo no desenvolvimento da bateria de nióbio para alcançar recargas mais rápidas (em torno de 10 minutos). A empresa tem um projeto piloto na cidade mineira de Araxá em parceria com a miradora CBMM e com a Toshiba no sentido da inovação visando as aplicações específicas.

Ainda, no sentido do transporte eletrificado, a Volvo do Brasil tem investido em veículos capazes de atender os variados nichos do transporte urbano. Seu diretor comercial de ônibus, Paulo Arabian, fez uma provocação sobre à eletrificação, com uma demanda crescente de energia e que a indústria precisa enfrentar esse desafio de forma unificada para que os negócios possam ter sucesso e os custos reduzidos. “A transição energética que tanto é necessária precisa da união de todos os envolvidos na produção de veículos e fornecimento de componentes e tecnologia. Além disso, as empresas fornecedoras de eletricidade e as agências governamentais voltadas para a área energética devem estar presentes nesse processo”, afirmou o executivo.

Bruno Batista, ex-diretor da CNT e consultor especialista em transportes, disse que a transição energética é, cada vez mais, ponto de compromisso de empresas e governo, e que, historicamente, é influenciado por fatores de mudança como pressão ambiental, surgimento de tecnologias e oferta de fontes de energia. “O Brasil tem grandes desafios, se comprometeu em reduzir uma meta difícil de atingir. A construção de novas infraestruturas, garantias de suprimento energético, necessidades de investimento, formação de mão de obra e alinhamento industrial podem ser citados”, explicou.

Alternativa energética

O biometano foi falado no painel como outra opção energética capaz de auxiliar na descarbonização do transporte. Marcelo Gallao, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Scania, expôs a escolha da marca como protagonista nessa transição, que é o biometano, alternativa que na visão da marca é muito competitiva e atende, perfeitamente, os preceitos ambientais.

Segundo ele, a eletrificação tem alguns aspectos que podem significar empecilhos à operação, apesar da alta potencialidade brasileira em dispor desse recurso energético. “Contudo, somos favorecidos com biomassa que pode representar uma alternativa viável em propulsão limpa. E, com o biometano, podemos alcançar níveis ínfimos de emissão poluente, o que significa uma ótima oportunidade e grandes benefícios ao meio ambiente a às pessoas. O Estado de Goiás é um exemplo que pode dar impulso ao que temos em descarbonização com o investimento em uma frota de biometano”, explicou Gallao.

Outro detalhe comentado pelo executivo da Scania, o uso de motor a gás natural ou biometano não exige custos extras, como o Arla 32, que impacta diretamente na operação financeira dos sistemas.

A fabricante gaúcha de micro-ônibus, Volare, não participou do painel, mas esteve presente em Brasília com a sua concepção tecnológica que usa o motor de combustão interna a gás natural ou biometano. A visão de negócio da marca busca, em sinergia com a Agrale, produtora do chassi, promover sistemas de transporte sustentável e adaptado para o mercado brasileiro, com soluções e inovações identificadas à atualidade nacional. Ricardo Portolan, diretor de operações comerciais mercado interno e marketing da Marcopolo, destacou que, além da eletromobilidade, a marca aposta, ainda, no conceito dos biocombustíveis como forma de descarbonização. “Temos investido na propulsão limpa por meio de projetos e modelos variados de carroçarias. Com a Volare, o biometano tem espaço para ser usado no transporte urbano, assunto que, também, vamos abordar com nossos modelos maiores para redes estruturais. Goiânia será a primeira cidade nesse sentido”, informou o executivo.

Imagens – Revista AutoBus e Divulgação/NTU

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *