Um ônibus três eixos antigo com cara de novo

Um modelo de ônibus que teve sua presença marcante nas estradas brasileiras passa por um processo de restauração e entra para a galeria da história do transporte

Em meados da década de 1980, após ter apresentada a primeira versão de seu ônibus equipado com o terceiro eixo (projeto próprio e que causou uma revolução no setor rodoviário), a capixaba Viação Itapemirim, deu sequência à ideia de proporcionar em seus serviços, um transporte pautado pela operação de veículos maiores e com identidades oriundas de sua gestão.

Dessa maneira, o modelo Tribus, que antes foi feito na sinergia entre o chassi desenvolvido pela transportadora e a carroçaria terceirizada, ganhou uma segunda versão, de concepção integral, unindo a mecânica com diversas peças de fornecedores nacionais e a carroçaria criada pelo corpo técnico da Itapemirim.

O veículo, em questão, foi pensando para promover o conforto nas viagens de longas distâncias, uma peculiaridade da operadora capixaba. Sua configuração adotava 42 poltronas, WC, suspensão pneumática e um conjunto mecânico, com o motor Mercedes-Benz ou Scania.

E, por muitos anos, esse modelo rodou o Brasil, de Norte a Sul, contribuindo com a evolução do setor rodoviário. Hoje, depois de muitos anos em que não roda mais, a não ser pelas mãos de alguns colecionadores, a versão do Tribus, ainda, causa sensação para quem se interessa pelo tema.

Veja o caso de Marcelo Luiz Klein, que se interessou em ter o modelo, realizando, para isso, um grande processo de restauração após adquirir o veículo. Ele, que tem uma paixão por ônibus desde que estudava em Ivoti, cidade vizinha à sua (Estância Velha), utilizando o ônibus como meio de transporte, só viu crescer o interesse pelo modal. “Lembro com nostalgia dos modelos, Veneza, Cisne, Gabriela, Amelia, marcaram de forma significativa a minha infância. No passado, a minha família, até, foi proprietária de uma empresa de ônibus, mas era apenas mais um dos negócios do meu bisavô, Sr. Walter Klein, pioneiro na área de transporte nos municípios de Estância Velha e Ivoti, ambas no RS”, informou.

Acompanhe abaixo, uma pequena entrevista com Marcelo Klein sobre essa mobilização em torno da preservação do veículo.

Revista AutoBus – Como foi o interesse pela restauração do Tribus da segunda geração da Itapemirim? Há alguma ligação com o modelo?

Marcelo Luiz Klein – Na verdade, a minha ligação é com ônibus mesmo. Antes do Tribus, já havia adquirido outros dois veículos, um que reformei resgatando a sua origem, e outro cujo destino foi a transformação em um motorhome. Mas, sempre houve aquela vontade de ter um ônibus trucado (com três eixos), não se atendo a um modelo ou empresa em específico. Só ressaltando que embora não tendo muito contato com ônibus rodoviário, sempre tive uma admiração pela empresa Itapemirim. Em 2021, recebi a oferta de um amigo para adquirir um modelo Dinossauro (Ciferal), veículo clássico, sem sombra de dúvidas. Porém, chegando ao local onde o mesmo se encontrava, me deparei com este Tribus, em estado de abandono, dentro de um pavilhão. De imediato me bateu o interesse nele e de fazer sua restauração.

Nas imagens acima, o estado de preservação do veículo bem comprometido

AutoBus – Trata-se de um veículo modelo integral, desenvolvido e produzido pela operadora capixaba. Teve muita dificuldade nesse processo de restauração? Quais foram?

Klein – Em se tratando de veículo antigo, sempre temos dificuldades, considerando um ônibus, então, complica um pouco mais. Na parte mecânica tínhamos, por parte da Itapemirim, uma miscelânia de peças (Mercedes-Benz e da Itapemirim), além do fato de chassis próprio, também, tornar a tarefa um pouco mais complexa. O garimpo por peças não foi fácil, mas com perseverança e auxílio de profissionais, vencemos essa batalha. Outra ajuda não menos importante veio dos grupos de amigos apaixonados pelo mesmo hobby, ônibus, uma verdadeira comunidade de troca de informações, peças, tudo que se precisava para o bom desenvolvimento de um trabalho desta magnitude.

AutoBus – Para se chegar à um veículo em perfeitas condições, o que foi levado em consideração?

Klein – Definitivamente, esse ônibus foi o projeto da minha vida, pois empenhei toda a paixão que tenho por essas máquinas, procurando realizar, com muita dedicação, o trabalho sempre com o melhor. Busquei ao máximo as informações, tudo com intuito de fazer um carro mais próximo do que foi no passado, quando operava pela empresa Itapemirim.

Acima, o processo de restauro que buscou ser o mais fiel em termos de resultado

AutoBus – Quanto tempo foi exigido nessa restauração? Foi você mesmo quem a fez?

Klein – Foi um processo um tanto demorado, aproximadamente 4,5 anos. Porém, nesse período tivemos algumas interrupções, pois estava dedicado também a outro projeto, nosso motorhome. Além disso, o tempo disponível para realização deste trabalho eram as noites, finais de semana, feriados, então, tudo isso contribuiu para o processo demorar um pouco mais. Sobre a reforma, boa parte foi feita por mim, preparação, pintura, diga-se de passagem, nunca havia pintado nada na vida. Mas, tive também a participação de alguns profissionais, mecânico, eletricista, estofador, serralheiro, serviços gerais, pessoas que muito contribuíram para o resultado final.

AutoBus – Na sua visão, qual a importância em preservar esse veículo, sabendo que a história no Brasil é pouco valorizada nos dias atuais?

Klein – Falo com a visão de quem é apaixonado por ônibus e considera toda preservação importante. É uma cultura que está tomando uma proporção muito grande ao longo dos anos, a se ver por eventos importantes que temos na área do transporte. Neles temos uma diversidade grande de ônibus. Também, podemos observar a força dos colecionadores particulares que cada vez mais se empenham em resgatar as histórias, de ônibus e empresas. No caso em específico da Itapemirim, temos vários ônibus já restaurados, e outros ainda em processo, uma verdadeira frota que de forma magnífica, representando o que foi a empresa no passado. Me sinto muito orgulhado de ser uma dessas pessoas.

Após um longo período de reforma, o veículo ficou como se fosse novo, de novo

AutoBus – Você tem mais ônibus preservados? Caso sim, quais?

Klein – Tenho um Marcopolo Viaggio 1991, que foi da operadora Reunidas, de Caçador, SC, e um outro Marcopolo GV 1000, que pertencia à empresa Três Amigos, do Rio de Janeiro, e que é, atualmente motorhome.

Imagens – Divulgação

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