Atrevo-me a explorar o que vem pela frente no próximo ano. Reconheço que busco ser otimista, pois isso seria importante para mim do ponto de vista profissional e serviria como motivação adicional após 33 anos de atuação no setor. Por outro lado, há diversos indicadores que, embora não apontem diretamente para o pessimismo, sugerem uma preocupação considerável. Assim, este artigo busca ponderar, da forma mais equilibrada possível, alguns temas que em conjunto podem contribuir para a reflexão dos leitores desta revista.
Refletindo sobre as políticas nacionais, o financiamento de projetos de mobilidade é um dos temas mais críticos. O Novo PAC gerou perspectivas de investimentos em infraestrutura em 2025. Todavia, para receber recursos são necessários projetos e estudos de viabilidade. No passado, houve baixa contratação de empréstimos por Estados e Municípios, em função da ausência de projetos básicos ou minimamente estruturados. A partir das bases oficiais de dados do Governo Federal, verifica-se que são R$6,1 bilhões para projetos e obras e outros R$3,7 bilhões para renovação da frota. Destaca-se que tudo é financiamento com juros. Há recursos disponíveis, mas é provável que poucos entes federativos tenham condições efetivas de acessá-los.
Dois outros temas que se apresentarão em alta em 2026 são eletrificação da frota e uso da Inteligência Artificial (IA). Até julho, deverá ocorrer uma intensa busca por ônibus elétricos, em função do processo eleitoral. Em muitos casos, tudo acontecerá sem a devida infraestrutura e preparação, mas entendo que produzirá muito aprendizado que vai ser decisivo para os anos seguintes. No campo da IA, surgirão casos de sucesso que vão mudar muito a gestão, a operação e o controle. Organizações capazes de utilizar a IA de forma estratégica tendem a se transformar, enquanto as demais correm o risco de se tornarem progressivamente obsoletas.
Percebo que 2026 também trará oportunidades no campo de novas licitações e contratos de operação e tecnologia. Em algumas localidades, novos contratos precisam ser estabelecidos, como na Região Metropolitana de Porto Alegre ou no Município de Curitiba. Nota-se que os gestores públicos estão procurando alternativas aos modelos atuais de contratação e há grande enfoque em avanços tecnológicos. Esse processo tende a gerar uma onda de transformação que será observada por outros entes, seja como referência positiva, seja como alerta.
No quesito preocupação, destaco o aumento dos custos e a carência de profissionais, principalmente nos órgãos públicos. No que se refere à dificuldade de captar, manter e motivar profissionais, o custo do pessoal operacional tende a crescer significativamente. Por outro lado, são poucos os casos de órgãos gestores de transporte e trânsito estruturados, com profissionais capacitados para enfrentar o complexo desafio da mobilidade. Não se vislumbra, no curto prazo, um horizonte favorável nessa área.
Em síntese, as perspectivas são uma mistura de possibilidades, dificuldades e desafios. Não será um ano tranquilo, pois os problemas estruturais sempre vão atrapalhar. Ainda assim, há condições para enfrentar essas barreiras e investir no futuro que começa agora.













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