Motos atraem pela velocidade e transportam o perigo

O menor tempo de deslocamento e o reduzido custo são vantagens alcançadas quando falamos em transporte público via motocicleta

Porém, a velocidade pode custar caro, em muitos momentos. A insegurança junto à um trânsito caótico e que mata, representa, nesse caso, a desvantagem de se usar uma modalidade que só cresceu em meio ao transporte público urbano. E, uma pesquisa inédita coordenada pela Coppe/UFRJ (“Motivações racionalidades pela escolha da motocicleta como meio de transporte individual na Região Metropolitana do Rio de Janeiro”) confirmou que o impacto causado pelos congestionamentos na mobilidade urbana, com o tempo excessivo gasto nos deslocamentos, tem levado à troca dos transportes coletivos tradicionais pelas motos, sejam particulares ou a serviço de aplicativos.

Enquanto o tradicional ônibus urbano continua sendo desvalorizado pela carência de políticas públicas que lhe permitam melhores condições de operação (prioridade nas ruas, modernização dos serviços) os passageiros têm priorizado a rapidez e a versatilidade sobre duas rodas, mesmo com a percepção de riscos mais elevados. É mais do que batido o assunto que, sem faixas exclusivas e preferenciais, o transporte coletivo vem se tornando menos atraente ano após ano para quem considera o tempo de deslocamento mais importante que o custo da passagem e a própria segurança, priorizando o que os especialistas denominam de transporte porta a porta.

Contudo, essa questão pode ser revista, caso haja profundas mudanças para que os deslocamentos possam se tornar mais atrativos. A mencionada pesquisa revela que 98% dos entrevistados admitiram que conseguem utilizar outras opções de transporte, sendo o ônibus a principal alternativa, com 67% das respostas. Mas a mudança depende da redução no tempo de viagem, citada por 28% dos participantes, seguida pela diminuição do custo, apontada por 14%, e pela melhoria na qualidade, mencionada por 13% dos usuários de motos. Só 8% declararam não ter a intenção de utilizar o transporte coletivo.

A Coppe reforça que há alternativas para reverter o quadro atual, por meio da priorização de políticas que incentivem o transporte coletivo em detrimento ao individual, sendo uma das principais iniciativas a criação de corredores exclusivos e faixas preferenciais para ônibus, reduzindo o tempo de viagem e aumentando a previsibilidade dos deslocamentos.

Outro dado é que, além da prioridade viária, é fundamental ampliar a integração entre os modos de transporte público, melhorar a oferta, a regularidade dos ônibus e aumentar o conforto e a segurança pública nos pontos e terminais de embarque. Estímulos exclusivamente tarifários têm efeito limitado se não vierem com ganhos operacionais. “A pesquisa da Coppe confirma o alerta que vem sendo dado nos últimos anos pelos operadores de transporte. Sem prioridade viária, o transporte coletivo perde sua atratividade. O passageiro tem optado por viagens mais rápidas e previsíveis em transportes individuais, mesmo pondo em risco a sua segurança. Este modelo agrava os congestionamentos, causando impactos negativos no bem-estar da população e na produtividade do trabalhador. Investir em faixas preferenciais e exclusivas tem um custo baixo, mas possibilita ganhos operacionais importantes com a redução do tempo de viagem nos ônibus”, destacou Eunice Horácio, professora do Cefet/RJ e gerente de Mobilidade da Semove.

Imagem – Divulgação

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