Editorial
Diz um conhecido ditado popular que, “quem perde o bonde da história fica para trás”. Pois é, parece que o Brasil, um país de tantas oportunidades, tem a sina de, não só perder esse bonde, como também descarrilá-lo, em meio às diversas situações que poderiam transformar nossa pátria em uma nação especial, capaz de atender a sua população e promover uma economia baseada nos princípios da igualdade e da sustentabilidade.
Nunca é demais lembrar que, só nos encontramos na conjuntura de hoje em virtude das más administrações de nossos gestores públicos, que olham somente para si e para seus interesses políticos, deixando de lado todas as carências da sociedade, programas de estado e a governança direcionada ao desenvolvimento sustentável e moderno.
Vejam o exemplo do transporte coletivo, onde o ônibus é o principal meio de locomoção dos brasileiros no ambiente urbano. O segmento, em toda a sua trajetória, pouco ou nada foi valorizado, pelas suas respectivas agendas governamentais. Constantemente deixado de lado, o transporte coletivo só é lembrando pelos maus serviços prestados, reconhecido pela pecha e não pelo caráter de indução da ocupação urbana, fundamental para o desenvolvimento das cidades.
Enquanto ainda se discute os valores das tarifas, a configuração veicular singela, a falta de recursos e de investimentos em infraestrutura e de financiamento para a aquisição do material rodante e das instalações fixas, outros países caminham a passos largos para promover um novo conceito de mobilidade, mais atrativa e adequada às exigências do passageiro cliente. Seja na América Latina ou na América do Norte, países como a Colômbia, Chile e México passaram a olhar com mais atenção os seus sistemas de ônibus urbanos e as suas indispensáveis funções, com o intuito de proporcionar melhor mobilidade e melhores ambientes urbanos, com reduzidos níveis de poluição.
Os serviços de ônibus urbanos estão sob competência das prefeituras que não os realizam; mas, os delegam à iniciativa privada, determinando a qualidade do serviço a ser prestado, as características operacionais dos deslocamentos e, até a rentabilidade ao transportador. A remuneração, salvo raras exceções, se dá pelo pagamento das tarifas, que se tornam responsáveis por garantir o próprio equilíbrio econômico-financeiro dos contratos, considerando todos os insumos necessários à prestação dos serviços e a sustentabilidade do negócio.
As administrações municipais ainda devem promover condições ideais de operação, como vias pavimentadas, pontos e abrigos, semaforização adequada e, principalmente, prioridade na circulação dos ônibus, condições que nem sempre são verificadas, na maioria dos sistemas. E, a imagem desse modal só se desgasta com o passar dos anos, obrigando o seu público (que um dia foi cativo) a desembarcar no próximo ponto e procurar outros meios para se deslocar.
Com todas essas adversidades, o modal tem uma tarefa desafiadora pela frente, onde o que importa é a cooperação e a união de esforços entre poder público e iniciativa privada, para resgatar do atual quadro negro, um modelo de transporte que tem tudo para ser referência.
Poderia ser diferente? Sim, poderia. Vamos aos fatos: o Brasil é a terra do ônibus – Incontestavelmente. A indústria brasileira é capaz de produzir os melhores e mais sustentáveis veículos, sejam eles dos mais diversos tamanhos, movidos a qualquer tipo de combustível, com os mais variados tipos de chassi e de carroçaria, com as mais diversas disposições de layouts. Temos expertise para projetar, construir e operar sistemas eficientes e que podem desempenhar importante papel na cadeia da mobilidade. Sim, mas é preciso valorizar os profissionais que atuam na área da estruturação dos projetos, na implantação de sistemas e na gestão operacional, formando uma nova geração de técnicos que acredite no potencial do transporte coletivo brasileiro. Mecanismos e instrumentos legais são fundamentais para se obter bons resultados e garantir a qualidade dos serviços demandados pela população. Essa deve ser a luta de quem está envolvido com o aperfeiçoamento do setor, de maneira séria e competente.
Portanto, para não perdemos o ônibus da história (trocadilho com o antigo ditado popular), a necessidade por mudanças bate à porta e é urgente, visando a recuperação de um setor tão essencial para a população urbana brasileira. De ponto em ponto, a vida segue sobre rodas, com itinerário fixo e tudo o mais é passageiro.
Imagem – Reprodução Internet
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