O gás sem gás na corrida energética

Este editorial não tem o caráter de ser tendencioso, muito menos defensor do conceito único, como muitos podem pensar. Tem, apenas, um entendimento que há mais de uma maneira para se alcançar a tão ensejada redução das emissões poluentes dos veículos comerciais

Editorial

Em questão relacionada sobre a descarbonização dos sistemas de transporte coletivos urbanos no Brasil, temos muito a aprender e provar como experiência para que possamos alcançar modelos livres de emissões poluentes. Muito se fala em ônibus elétrico como solução única para todos os efeitos causados pela poluição oriunda dos serviços de ônibus, por exemplo. Contudo, temos outras opções que se traduzem em viabilidade para um transporte limpo.

Gás natural e sua variante renovável biometano se caracterizam pela capacidade em promover a tão ensejada harmonia entre os sistemas operacionais e o meio ambiente. Mesmo que o gás seja um produto de origem fóssil, seus benefícios ainda são positivos em termos de redução dos poluentes emitidos.

Agora, se falarmos em biometano, as vantagens são significativas, pois esse biocombustível é renovável, inserido no contexto da economia circular, solução de biodiversidade, transformando algo que seria descartado como poluente em uso eficiente e ambientalmente correto.

Porém, esses dois combustíveis não recebem devida atenção, por parte governamental, quando é visto como alternativa para a propulsão do transporte coletivo urbano. O gás natural é lembrado em muitos casos, mas é deixado de lado, em virtude de um histórico nada positivo (o uso do gás natural, há algumas décadas, não trouxe uma visão prática, nem econômica ao setor) que o elenque sem dúvidas.

O País conta com tecnologia para promover essa questão frente às outras opções. Por aqui, estão instaladas duas montadoras que disponibilizam, em seus portfólios, produtos identificados com a demanda ambiental. Por conta da falta de incentivos e programas adequados para o uso em larga escala, esses veículos ficam na prateleira aguardando, quem sabe, um prefeito se decidir pela escolha.

Sabemos que não é dessa maneira a tomada de decisão a respeito de um ou outro combustível capaz de substituir o tradicional diesel na matriz energética do transporte. Para isso, são necessárias políticas públicas, maior envolvimento da indústria e do setor de distribuição do gás e divulgação sobre os benefícios alcançados para fortalecer tanto o gás natural, como o biometano.

A indústria local de insumos também pode ser favorecida, expandindo seus negócios, gerando empregos e apresentando o seu conteúdo.

Na América Latina, há um exemplo expressivo, o de Bogotá, na Colômbia, com o amplo uso do gás natural como forma de reduzir as emissões poluentes da frota do transporte urbano. Madri, na Espanha, também é uma cidade com larga experiência no uso dessa opção. Não podemos, simplesmente, descartar essa questão em prol de um determinado tipo de tração.

Reforçando que o Brasil é rico em possibilidades de transformação, tendo um enorme potencial na produção de biocombustíveis, podendo se destacar na economia circular e ser um exemplo para o mundo. Entretanto, para isso acontecer, são essenciais o compromisso e a vontade para que a concretização da sustentabilidade ambiental seja o verdadeiro mote coletivo e não unitário, quando se falam em tecnologias.

Mas, nem tudo está perdido no campo das variedades energéticas, quando o assunto é gás natural/biometano. Dois exemplos de operação acompanhada podem ser vistos em Campinas, interior paulista, e em Vitória, capital capixaba. Duas operadoras estão testando o uso do gás em seus veículos urbanos, se destacando no mercado em proporcionar uma visão diferenciada sobre a mitigação dos poluentes vindos dos serviços.

Os resultados, ainda preliminares, mostram benefícios econômicos e ambientais, como a diminuição do custo operacional, do menor índice de poluentes locais emitidos e o desempenho semelhante ao propulsor movido a diesel.

Este editorial não tem o caráter de ser tendencioso, muito menos defensor do conceito único, como muitos podem pensar. Tem, apenas, um entendimento que há mais de uma maneira para se alcançar a tão ensejada redução das emissões poluentes dos veículos comerciais.

Imagem – Divulgação

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