O ponto é cego, mas precisa ser visto

A segurança nas operações dos ônibus urbanos é um assunto que precisa ser abordado de maneira enfática para o bem-estar de passageiros, motoristas e pedestres na cena das cidades

Editorial

Uma freada brusca, a desatenção das pessoas para com o trânsito, impaciência, distração com aparelho celular (inconcebível para que está dirigindo) ou a atitude imprudente de um motorista são aspectos comuns que vemos todos os dias pelas estradas, ruas e avenidas brasileiras. E, essa rotina coloca em risco a vida e se revela trágica, em muitos casos, resulta em acidentes que se qualificam por pequenos incidentes até os mais graves, levando à morte os muitos envolvidos com ela.

É como diz uma antiga campanha governamental que visou a segurança de todos – Na Guerra do Trânsito, Quem Perde é Você. Levando em consideração esse contexto, podemos ver, atualmente, que a boa relação entre trânsito, motoristas e pedestres ainda está longe do que é necessária, exemplificada, por meio do, ainda, constante e elevado número de acidentes que poderiam ser evitados.

Educação e trânsito deveriam andar de mãos dadas. Numa cultura em que o transporte sobre rodas é primordial, as noções básicas relacionadas com o tema precisariam estar envoltas nas vidas das pessoas desde cedo, para que estas tenham conhecimento e capacidade de promover condições seguras de condução e mobilidade.

No entanto, sabemos que não é assim que a banda toca. Mesmo que a tecnologia esteja a favor da segurança, ainda vemos que a correlação entre veículos automotores e pessoas continua causando uma infeliz situação que tem o poder de transformar o futuro.

Na lógica do transporte, principalmente o coletivo, há uma grande preocupação em proporcionar serviços seguros, que se atentem para o bem-estar dos passageiros. São diversos os exemplos de empresas operadoras atentas com o assunto e que aplicam métodos e práticas visando a redução dos acidentes em suas operações. Contudo, há, também, transportadoras que não levam em conta esse fato, deixando de ser zelosas com a segurança ao não investirem no conceito em seus cotidianos, resultando em situações negativas que comprometem a vida de passageiros e motoristas.

Nos últimos meses, constatou-se, em muitas cidades brasileiras (Atibaia é uma delas), diversas referências negativas envolvendo o transporte urbano, com acidentes que abrangeram quedas e atropelamentos de passageiros (muitos com mortes). Somente na cidade de São Paulo, até agora, foram cerca de 50 casos, pela simples falta de atenção dos motoristas. É bem verdade que nunca houve um vínculo saudável entre passageiros e condutores nos sistemas de transporte coletivo urbano.

Cidades, como São Paulo e Campinas (foto), possuem programas de treinamento e conscientização para os motoristas do transporte urbano

A ausência de treinamento e valorização profissional, bem como situações ocorridas durante as viagens – a falta de educação é uma delas -, fazem dessa relação uma conexão nada harmonizada nos padrões da qualificação dos serviços. Como serviço público, os sistemas são geridos por prefeituras e executados por transportadoras privadas. No mais, deveriam receber total atenção da gestão pública, tendo permanente fiscalização e cobrança por melhorias e segurança. Mas, não é o caso. O que se constata é a omissão, em muitos casos, dos diversos departamentos de transporte (quando existem, isto é) que não possuem recursos ou capacidade técnica para tal feito. O fato é que transporte coletivo consta muito pouco das agendas de prefeitos compromissados com o bem da mobilidade urbana, vista, apenas, para o transporte individual.

Além de campanhas massificadas de conscientização, algo que só vemos quando a pauta está inserida em ações momentâneas (o Maio Amarelo é umas delas), pode-se ter, para alcançar essa melhor relação entre serviços e transeuntes, o uso da tecnologia, traduzida por sistemas eletrônicos embarcados nos ônibus, como câmeras, sensores de ponto cego, o bloqueio de portas (que impede o ônibus de se movimentar com portas abertas) e o monitoramento on-line para tomada de decisões rápidas quanto à algum acontecimento extraordinário. São recursos que permitem atingir a redução das ocorrências que tanto prejudicam operação e pessoas.

Ademais, como podemos ver em diversas transportadoras que investem em seus quadros de motoristas, tendo o constante processo de requalificação profissional, treinamentos, ações específicas (a troca de lugares em situações que envolvem motoristas, pedestres e ciclistas é uma delas) e a avaliação das condições psicológicas desses profissionais, visando dar maior valor a quem poderia ser reconhecido como o cartão de visita de uma empresa de ônibus, afinal, é ele quem recebe o cliente e o leva ao seu destino.

Seria injusto este artigo não mencionar o que algumas prefeituras pelo Brasil têm feito em direção à um transporte mais seguro. Ultimamente, é possível observar campanhas com o propósito de mostrar o simples fato da presença dos pontos cegos em veículos de maior porte, para que pedestres e ciclistas não fiquem imunes ao campo de visão dos motoristas, situação corriqueira no trânsito urbano. Outrossim, programas de reciclagem dos condutores também são adotados, com vistas à recapacitação técnica e até de relações sociais.

As atitudes, em muitos casos, podem ser simples, com resultados positivos que favorecem todo o ambiente do transporte. Portanto, cabe às autoridades competentes e à própria sociedade cobrar para que a segurança seja fator fundamental na vida das pessoas. Pense bem, a conscientização deve ser de todos.

Imagens gentilmente cedidas pela Transurc

 

 

 

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *