Editorial
Recentemente, o Governo Federal incluiu no Plano Plurianual (PPA) o programa que visa a renovação de frota de ônibus no Brasil, com ênfase ao modal urbano. Tal pleito atendeu a proposta de aluguel de ônibus elétricos elaborada e apresentada pela parceria de organizações ligadas com a mobilidade e o meio ambiente – Idec, ITDP, ICCT, WRI e o Instituto Ar.
Com isso, o gestor público federal assumirá o compromisso de investir recursos para a aquisição de ônibus para as cidades. Hoje, a própria federação, por meio de instituição financeira pública, já oferece condições propícias de financiamento para a operação de ônibus elétrico, com taxas adequadas com o intento.
A proposta sobre o aluguel de frota elétrica foi incluída no Eixo de Desenvolvimento Social e Garantia de Direitos do PPA, no Programa Mobilidade Urbana e foi enviada para o Congresso Nacional para debate e votação.
Numa avaliação superficial, nada melhor do que constatar o interesse governamental em promover a introdução da tecnologia limpa nos sistemas urbanos de transporte coletivo, dando suporte às prefeituras no quesito modernização das frotas, em vista da carência de programas e agendas locais para investir na qualificação do modal do transporte urbano.
Porém, a iniciativa pública não pode estar atrelada apenas à um tipo de tecnologia de tração, privilegiando o apoio ao financiamento ou mesmo a compra para posterior aluguel de veículos à operadores ou mesmo prefeitos, num universo pautado pelo potencial de oferta de propulsões limpas que podem ser adotadas no contexto.
A indústria brasileira fabricante de ônibus é rica em desenvolver soluções de descarbonização com a grande possibilidade de promover as outras opções que contemplam o uso de biocombustíveis. Para isso acontecer, o próprio governo tem o dever de criar políticas públicas com foco mais amplo, que incentivem a utilização de outras formas de tração inseridas no objetivo da redução das emissões poluentes vindas do setor.
No entanto, há outras considerações que precisam ser avaliadas que ultrapassam o mote de que o ônibus elétrico poderá modernizar os sistemas. Este editorial ressalta a perda de eficiência vivida pelo modal, muito em função da falta de interesse dos governos em promover a prerrogativa ao ônibus em seu cotidiano. Incentiva-se a compra de automóveis e motos, enquanto os serviços coletivos encontram diversas barreiras em seu caminho – excesso de semáforos, falta de priorização operacional, péssimas condições dos pavimentos e da estrutura de apoio (calçadas e pontos de passageiros).
O tema mobilidade urbana perdeu força nos últimos anos em meio à crítica situação vivida pelos sistemas de ônibus, os protagonistas de uma cena em que o público se distanciou na medida em que os problemas foram se fortalecendo e as soluções não tiveram respaldo. Claro que, hoje, há exemplos municipais que buscam reverter esse quadro negativo, mas, são esforços para a manutenção do básico, para manter os ônibus nas ruas, com recursos extras às tarifas pagas pelos passageiros. Contudo, sem contrapartida de melhorias.
A carência por projetos de qualificação dos serviços é clara, aparente, mostrando que falta decisão técnica e profissionais gabaritados em implantar sistemas que valorizem os deslocamentos das pessoas pelas ruas e avenidas. Os ônibus precisam ter velocidade, previsibilidade e ser modernos dentro da conjuntura que lhe é posta. Não importa o tipo de propulsão, interessa, sim, o seu desempenho para favorecer a própria sustentabilidade ambiental, as viagens mais rápidas e o desenvolvimento das cidades.
Em tempo – Todos os anos, o dia 22 de setembro é celebrado como “o dia mundial sem automóvel”. O que isso tem promovido de mudanças em nossa cultura de mobilidade?
Imagem – Divulgação/Reprodução
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