Após a aprovação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) do novo Marco Regulatório que trata da prestação do serviço de Transporte Regular Rodoviário Coletivo Interestadual de Passageiros, o mercado vê uma mobilização das transportadoras em direção do aumento e da renovação das frotas de ônibus.
Segundo a ANTT, a revisão do marco setorial tem como alicerce a garantia da prestação adequada do serviço ao usuário, tendo em vista que o Estado continua legalmente responsável pelos aspectos da conveniência pública do serviço. De acordo com o órgão federal, a proposta geral do marco visa promover uma maior concorrência entre os operadores, reduzindo o chamado fardo regulatório, trazendo menos burocracia.
Para as 112 transportadoras associadas à Abrati – Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros -, o fato se mostrou muito interessante. Com isso, anunciaram um investimento de mais R$ 2,5 bilhões em 2024. Paulo Porto, presidente do conselho deliberativo da Abrati, comentou que a segurança jurídica necessária para realizar esses investimentos se tornou presente nessa nova normativa que, apesar de algumas imperfeições, contempla as premissas essenciais necessárias para se obter um transporte público com maior qualidade.
A renovação da frota, depois da confirmação do Marco Regulatório, é fundamental, pois, segundo a entidade que reúne as operadoras, a idade média é de 7,5 anos de uso. O investimento previsto, apenas em nova frota, para 2024, deverá ultrapassar em 35% o já realizado anualmente pelas empresas, acrescentando, ainda, uma maior diversificação dos serviços.
Os investimentos anunciados vão além. Em tecnologia, por exemplo, já são realizados e vão aumentar exponencialmente no ano corrente. Novas gerações de aplicativos que realizam o monitoramento da demanda, gestão de receitas e análise da concorrência estarão cada vez mais presente. As ferramentas representam uma oportunidade para tornar as demandas mais previsíveis, fazer do planejamento mais eficiente e promover os preços mais competitivos, pois veículos mais modernos com planejamento e operações mais eficazes evitam desperdícios de recursos e tornam as operações mais ecológicas.
Porto comentou que o ganho desses investimentos não é apenas para os viajantes, sendo que, nos últimos dois anos, o número de admissões foi de mais de 24 mil e que deve aumentar em cerca de 30% com as medidas anunciadas pelas associadas. “Por meio dessas contratações devem ingressar motoristas, mecânicos e, especialmente, novos profissionais nas áreas de desenvolvimento tecnológico, comunicação, publicidade, recursos humanos e cultura. Essas vagas serão abertas em diversas cidades fora do grande eixo econômicos do país, que vão além das capitais”, observou o executivo.
Questionadas, as fabricantes de carroçarias e de chassis para ônibus se manifestaram a respeito do anunciado. Paulo Corso, diretor-comercial da encarroçadora catarinense, Busscar, disse que é importante esses investimentos, porque a indústria vem de anos bem difíceis no âmbito das linhas rodoviárias do País por conta da pandemia, entrada da motorização Euro VI, altas taxas de juros e falta de linha de crédito para financiamento de frota. “Com todas as dificuldades que as empresas passaram nesse período, que deteriorou muito os seus capitais, esse anúncio pode impulsionar bastante a produção de ônibus e a melhoria do sistema de transportes rodoviários. Com isso, a Busscar visa aumentar o seu Market Share, retomando a participação que já tivemos no mercado, entre 20 e 25%”, observou ele.
Já a líder do mercado nesse segmento, Marcopolo, tem uma posição parecida em termos de otimismo em 2024. Alexandre Cervelin, gerente comercial Mercado Interno da Marcopolo, vê como muito importante o anúncio da Abrati, porque reforça o posicionamento do setor ao investir, cada vez mais, na elevação dos padrões de qualidade, segurança, conforto, tecnologia e modernidade. “O transporte rodoviário brasileiro tem evoluído muito nos últimos anos e a tendência é continuar a crescer”, observou.
Alex Nucci, diretor de Vendas de Soluções da Scania Operações Comerciais Brasil, destacou que foi com suma relevância que a fabricante recebeu esta grande notícia da Abrati informando que suas 112 empresas associadas farão um investimento de mais de R$ 2,5 bilhões em 2024. “É uma enorme satisfação comprovar, mais uma vez, a força da indústria automotiva brasileira, especialmente, dos operadores e clientes de ônibus e toda a cadeia que engloba o setor do transporte de passageiros. Nunca, em hipótese alguma, duvidamos da força dos clientes e operadores de ônibus desde que a Scania chegou ao Brasil, em 1957. Esta informação, deste vultuoso investimento, é uma ótima notícia pois sabemos que um dos piores períodos da história da indústria do transporte de passageiros foi a pandemia da Covid-19. E, em nenhum momento, deixamos de estar ao lado dos nossos clientes, pois uma verdadeira parceria se mostra nas fases mais difíceis e se celebra nos bons momentos. Durante a pandemia, o mercado de ônibus foi o que mais sofreu na indústria automotiva, com as restrições de circulação, e a consequente descapitalização dos operadores. Passado o período mais crítico da pandemia, os bons sinais de retomada vieram ocorrendo há pelo menos dois anos. Em 2024, nossa expectativa também está otimista por um crescimento em comparação a 2023. Vários clientes estão nos procurando e renovando e ampliando suas frotas. Nossa carteira de pedidos de compras está crescendo mês a mês, prova da qualidade, rentabilidade, alta disponibilidade e robustez da Nova Geração de Ônibus da Scania, equipada com os motores P8/Euro VI”, explicou.
O mapa do turismo brasileiro, do Ministério do Turismo, destaca que o Brasil registra 2.542 cidades turísticas, sendo que destas, 89% são atendidas pelo transporte rodoviário regular. “A Abrati prevê um ano de muito otimismo e caminhos desobstruídos para o segmento. Agora, é aquecer os motores pois a chave já foi virada”, finalizou Porto.
Quanto a abertura de mercado, a ANTT entende esse processo merece ser conduzido com a devida cautela, na medida da capacidade de fiscalização, e sob um necessário monitoramento dos seus efeitos. Segunda ela, a excessiva exposição e consequente instabilidade nos mercados (pares origem/destino) de maior demanda/receita por conta de uma abertura indiscriminada pode levar a um cenário predatório, direcionando a um processo de irracionalidade no lado da oferta e sua precificação, com probabilidades reais de depreciação dos níveis adequados dos serviços prestados.
Imagens – Divulgação
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