Por André Dantas, engenheiro civil com doutorado em transportes
É preciso homenagear grandes homens, como Fuad Noman. Infelizmente, o prefeito de Belo Horizonte faleceu ontem (26/03/2025), mas ele precisa ser reconhecido muito além do homem público, gestor, executivo, consultor etc. O prefeito Fuad foi um grande ser humano, que eu tive a satisfação e honra de conhecer pessoalmente. Apesar da tristeza, quero celebrar o que pude conferir pessoalmente sobre ele e quero que todos saibam as qualidades desse grande homem que pude constatar.
Creio que minha conexão com o prefeito aconteceu por acaso. No dia 2 de março de 2022, recebi, em Brasília, uma ligação do gabinete do vice-prefeito de Belo Horizonte. A secretária perguntava se poderia atender o vice-prefeito. É claro que eu atendi. O vice-prefeito, à época, rapidamente se identificou e sapecou uma pergunta direta: “O senhor quer ser presidente da BHTrans?” E eu respondi que sim, obviamente. Estava atuando como consultor independente e uma oportunidade dessas não bate à porta todo dia, principalmente no meu caso, que retornaria à casa onde fui estagiário em 1992. Esse episódio e todo o processo que culminou com o meu início de atividades na BHTrans, no dia 14 de março de 2022, pode revelar muito do prefeito Fuad. Ele era direto, sincero e acolhedor. Recebeu-me e confiou em mim, apenas com base no meu currículo, que o destino se encarregou de levar às mãos dele.
Ao longo do período em que trabalhei com o prefeito Fuad, foram várias as ocasiões em que ele demonstrou o lado humano e generoso que, agora, com seu falecimento, vejo em outros relatos de quem teve a oportunidade de o conhecer ou atuar com ele na gestão pública. Na minha experiência, uma das ocasiões em que constatava esse perfil humanizado era quando ele me ligava fora do horário normal de trabalho, depois das 20 horas ou antes das 8 da manhã. Ele sempre falava: “Dr. André, desculpe incomodá-lo neste horário…”. Eu ficava lisonjeado com a consideração de uma pessoa que tinha tanto para fazer, mas respeitava o outro. Outros episódios aconteceram quando passamos pelas mais difíceis tratativas políticas para estabelecer a Lei 11.458/2023, da remuneração complementar. Toda reunião com os vereadores era tensa, mas, ao final, exausto, o Prefeito sempre me animava com palavras de incentivo e de que tudo valeria à pena para a população de Belo Horizonte. Enfim, ele se preocupava comigo e com os outros.
Um outro fato, que sempre me deixou muito feliz, é que o prefeito Fuad nunca, em momento algum, me pediu para fazer algo que eu não concordasse. Ele respeitou todas as análises técnicas que apresentei a ele e nunca me pediu para privilegiar a qualquer parte interessada. Nos dias de hoje, sei que isso é raro, principalmente no serviço público de vários lugares. Mas, com o prefeito Fuad, posso dizer que era integridade pura e sem desvios.
Ao tomar conhecimento de tantas matérias veiculadas pela mídia, que enalteceram o caráter do prefeito, por meio de declarações contundentes de reconhecimento de sua competência no âmbito da gestão público, veio uma certa tristeza ao perceber que, como acontece em tantas outras coisas na vida, só damos valor ao bom gestor quando o perdemos. Um dos desafios enfrentados pelos antagonismos desmedidos da gestão pública.
Fica a lembrança de um homem íntegro, trabalhador e muito bacana mesmo. Muito obrigado por tudo, prefeito Fuad. Pela parceria desses dias de luta pela mobilidade de Belo Horizonte e pelos aprendizados e compartilhamentos pessoais e profissionais.
Imagem – Acervo pessoal
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