Por Rubens Lessa Carvalho, presidente da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de Minas Gerais (FETRAM), diretor da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e conselheiro da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU)
O debate sobre a renovação das frotas de ônibus em Minas Gerais coloca em evidência um dilema crucial: investir em ônibus elétricos ou priorizar veículos Euro 6? A resposta exige uma análise técnica e pragmática, que considere não apenas as emissões, mas também custos, eficiência e impacto social.
O Mito da “Emissão Zero” – A eletrificação é frequentemente vista como solução definitiva, mas ignora um fato essencial: veículos elétricos transferem as emissões para a matriz energética. No Brasil, onde a demanda adicional é suprida por termelétricas (inclusive a carvão), a expansão desordenada de frotas elétricas pode, paradoxalmente, aumentar as emissões de CO₂.
O Impacto Real dos Ônibus Urbanos – Dados do SEEG (2023) mostram que os ônibus urbanos respondem por menos de 1% das emissões nacionais de gases de efeito estufa. Substituí-los integralmente por elétricos teria um efeito climático marginal, consumindo recursos que poderiam ser direcionados para soluções mais eficazes, como a renovação acelerada para Euro 6.
A tecnologia Euro 6, é um padrão internacional de controle de emissões veiculares, é regulamentada no Brasil pelo Proconve (fase P-8), que estabelece limites rigorosos para a emissão de poluentes atmosféricos. A tecnologia Euro 6 reduz em até 96% a emissão de poluentes locais (NOx e material particulado), equiparando-se aos elétricos nesse aspecto – mas com custos até quatro vezes menores.

Rubens Lessa
Para ilustrar, enquanto 2.500 ônibus elétricos custariam cerca de R$ 10 bilhões, a mesma quantidade de Euro 6 sairia por R$ 2,1 bilhões (SETRAM/SP, 2023). A escolha é clara, com os mesmos recursos, é possível renovar toda uma frota com Euro 6 ou apenas uma fração com elétricos.
A descarbonização urbana depende também da eficiência do transporte coletivo, que pode ser aumentada com corredores exclusivos, faixas e BRTs, elevando a velocidade, reduzindo o tempo de viagem e, consequentemente, a necessidade de uma frota adicional, melhorando a eficiência do sistema com impacto positivo na poluição.
Entendemos que a eletrificação prematura, poderá trazer riscos como a sobrecarga na rede elétrica, em um sistema que já enfrenta gargalos; onde uma frota elétrica ampla exigiria investimentos pesados em transmissão e geração de energia, o que redirecionaria recursos que poderiam ser utilizados para modernizar a infraestrutura existente e expandir a cobertura do transporte público.
Para a FETRAM a decisão sobre a renovação das frotas de ônibus nas grandes cidades mineiras precisa passar por uma análise criteriosa do custo total de propriedade do sistema, da disponibilidade de infraestrutura, dos incentivos e investimentos públicos e das metas de sustentabilidade de cada município.
O principal desafio é equilibrar a urgência da redução da poluição com a necessidade de atender uma população cada vez mais extensa, considerando as limitações operacionais e orçamentárias, para pavimentar o futuro do desenvolvimento da mobilidade urbana em nosso estado.
Fontes: SEEG/Observatório do Clima (2023), Proconve P-8, Secretaria Executiva de Transporte e Mobilidade Urbana (SETRAM/SP)
Imagens – Divulgação
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