Práticas sustentáveis em garagens de ônibus

No Espírito Santo, empresas do transporte coletivo urbano adotam ações e iniciativas sobre temas ambientais em suas estruturas operacionais

As operadoras do Sistema Transcol, transporte coletivo da região da Grande Vitória, ES, adotaram e promovem ações que incluem o uso correto de recursos naturais, a destinação regular dos resíduos gerados e a conscientização dos colaboradores quanto a temas ambientais. Segundo informações apuradas pela revista AutoBus, as 10 transportadoras envolvidas com o sistema adotam especificações ambientais em suas garagens.

Dessa maneira, as empresas de ônibus estão buscando seguir aquilo que está diretamente ligado às questões da sustentabilidade ambiental em seus cotidianos, visando a redução do impacto negativo causado ao nosso ecossistema. Um passo para isso é adequar as estruturas envolvidas com a operação para que elas atendam ao processo de transformação, objetivando espaços livres de contaminantes e captadores de recursos naturais (água de chuva e raios solares) para se tornarem em elementos que contribuam com os serviços nas garagens.

Dando continuidade ao tema da sustentabilidade no transporte urbano e rodoviário sobre pneus, este editorial entrevistou o diretor-executivo do GVBus, Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória, Elias Baltazar, a respeito do que está sendo feito para os serviços de ônibus possam contribuir, ainda mais, com a causa da sustentabilidade ambiental. “Com foco no cumprimento das exigências legais e no compromisso com a sustentabilidade, as operadoras realizaram investimentos estratégicos em infraestrutura, incluindo a reestruturação completa das áreas de lavagem, manutenção, abastecimento, armazenamento de resíduos e produtos químicos, além da organização de baías, laboratórios e áreas verdes”, explicou.

O executivo contou que o aproveitamento e reuso de água, além do tratamento e destinação adequada de resíduos sólidos, com procedimentos rigorosos para a separação e destinação dos mesmos, especialmente os resíduos contaminados da manutenção (óleo, filtros, baterias e pneus), seguem legislações ambientais rígidas.

Segundo Baltazar, a lavagem ecológica de ônibus é um fator adotado por algumas operadoras, onde a lavagem da frota utiliza sistemas de menor consumo de água, além de controles e testes no descarte dos efluentes. “Os produtos químicos utilizados nas atividades de manutenção e lavagem estão devidamente identificados conforme normas de segurança, e armazenados em locais adequados, minimizando riscos de contaminação e acidentes. Na Serramar Transporte Coletivo, por exemplo, foram adquiridos diluidores automáticos e máquinas turbo para lavagem de ônibus, equipamentos que otimizam o uso de produtos e eliminam o contato direto dos trabalhadores com substâncias químicas, promovendo segurança e ergonomia”, ressaltou.

Revista AutoBus – Dentre as operadoras, quais são as que investiram num completo sistema que envolve toda a capacidade para atender integralmente o contexto ambiental?

Elias Baltazar – Todas as empresas operadoras desenvolvem ações voltadas à sustentabilidade em suas instalações operacionais. O foco é a eficiência de recursos, a gestão ambiental responsável e a conscientização dos colaboradores.

Dessa maneira, as principais iniciativas incluem o aproveitamento e reuso de água, sendo que as garagens contam com sistemas de captação de água da chuva e reuso de águas cinzas (na lavagem de veículos, por exemplo), o que contribui para a redução do consumo de água potável.

Na Viação Satélite, por exemplo, a captação de água pluvial é feita por meio de calhas instaladas em todos os telhados da empresa, e há o tratamento e reutilização da água utilizada nos lavadores de ônibus.

Já a Viação Praia Sol e a Vereda Transporte realizam a captação de água da chuva e reaproveitamento da água condensada dos aparelhos de ar-condicionado, para a utilização, por exemplo, na lavagem dos veículos.

Tratamento e destinação adequada de resíduos: há procedimentos rigorosos para a separação e destinação de resíduos sólidos, especialmente os resíduos contaminados da manutenção (óleo, filtros, baterias e pneus), seguindo legislações ambientais. Todo esse procedimento é monitorado por indicadores, check-lists mensais e capacitação contínua das equipes. Os resíduos são encaminhados para empresas licenciadas, que fazem o devido descarte.

A Viação Praia Sol e a Vereda Transporte, por exemplo, promovem a economia circular, por meio da doação de material plástico reciclável para a comunidade local, fomentando a reutilização e o desenvolvimento social.

Na Unimar Transportes, por sua vez, há indicadores de sustentabilidade, como o Índice de Reciclagem, Consumo de Água, Consumo de Energia e Índice de Desenvolvimento Ambiental (IDA). Para este último, a empresa aplica um check-list ambiental, por meio do qual são analisados 34 tópicos que, dependendo dos resultados, ajudam a gerenciar as conformidades, não conformidades e ajustes que, porventura, sejam necessários.

Já a energia solar é um item aproveitado por algumas empresas, como a Viação Grande Vitória, a Viação Praia Sol e a Vereda Transporte, que contam com sistema de geração da mesma. A produção fotovoltaica reduz parte relevante do consumo de energia elétrica das empresas, gerando economia direta na conta de luz e maior previsibilidade orçamentária. Além disso, o sistema contribui para diminuir as emissões associadas à operação, com baixa manutenção e longa vida útil, por meio de uma fonte 100% renovável.

A Viação Praia Sol e a Vereda Transporte, por exemplo, substituíram os sistemas de iluminação por tecnologia LED, de menor consumo, além de priorizar o aproveitamento da ventilação e iluminação natural dos ambientes, reduzindo a necessidade de climatização e iluminação artificial.

Quanto a coleta seletiva, as empresas operadoras, também, desenvolvem programas dentro das garagens, com ações que incluem a destinação correta dos resíduos gerados e a conscientização dos colaboradores quanto ao descarte ambientalmente adequado, conforme estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei nº 12.305/2010.

Todo o lixo gerado é separado entre o que é reutilizável, reciclável, lixo comum e resíduo perigoso. Posteriormente, esses materiais são enviados para empresas terceirizadas, para serem destinados de forma adequada. As empresas do Grupo Santa Zita – Santa Zita Transportes e Nova Transportes -, a Viação Grande Vitória e a Unimar são algumas das operadoras que praticam a coleta seletiva, iniciativa esta que deu tão certo, que rendeu até prêmio ao Sistema Transcol, com o Projeto Transcol Mais Sustentável.

Já no tema da conscientização dos colaboradores, as empresas promovem campanhas periódicas de educação ambiental, com treinamentos sobre consumo consciente, descarte correto de resíduos e economia de água e energia. O objetivo é fazer com que os colaboradores repliquem, também, em suas casas, hábitos sustentáveis, como, por exemplo, separar o lixo corretamente.

AutoBus – Quais as medidas adotadas para se alcançar uma menor pegada de carbono e o reduzido impacto ambiental?

Elias – As empresas operadoras têm avançado no controle e mitigação da pegada de carbono e impactos ambientais, por meio de medidas operacionais, tecnológicas e de gestão, como a renovação de frota com veículos menos poluentes – desde 2019, as empresas operadoras, em parceria com o governo do Estado, passaram a investir na renovação da frota, com ônibus novos, mais modernos, equipados com ar-condicionado e motor com menor emissão de poluentes, que segue padrões mais rígidos.

Com isso, já são mais de 900 novos ônibus entregues à população em pouco mais de cinco anos, todos com baixa emissão de poluentes, que não soltam fumaça, fazem menos barulho e ainda são mais confortáveis. Neste pacote, estão incluídos 440 veículos do modelo Euro VI, isto é, 25% da frota do Sistema Transcol, que emitem até 80% menos gás carbônico se comparado aos modelos convencionais.

Em relação à manutenção preventiva e controle de emissão, as empresas operadoras realizam manutenções regulares para garantir o bom desempenho dos veículos, o que reduz o consumo de combustível e, consequentemente, a emissão de gases poluentes.

As ações fazem com que, anualmente, as empresas operadoras sejam destaque no Prêmio QualiAr – Prêmio Fetransportes de Qualidade do Ar -, que atesta os níveis de gases poluentes emitidos na atmosfera pelas empresas do setor de transportes. Na prática, as operadoras premiadas garantiram 100% de aprovação na frota nas aferições realizadas.

Para a medição dos níveis de poluentes são feitos testes de emissão veicular que monitoram a frota de veículos movidos a diesel para controlar as emissões atmosféricas e adequá-los às exigências do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). Quando aprovados nos testes, tais veículos recebem o Selo Despoluir de Eficiência Energética.

Esse trabalho de monitoramento faz parte do Programa Ambiental do Transporte – Despoluir -, que é encabeçado pelas 20 federações de transportes em todo o Brasil e tem as operadoras do Sistema Transcol entre as empresas assistidas. O programa realiza a avaliação de emissão de fumaça preta a cada trimestre, sendo que a legislação federal do Conama requisita apenas uma vez ao ano.

A telemetria e a gestão da condução são outros fatores fundamentais. Por meio de sistemas de monitoramento embarcados, é possível analisar e orientar motoristas para práticas de direção mais eficientes, reduzindo acelerações e freadas bruscas, ociosidade do motor e consumo excessivo de combustível.

Todas essas ações combinadas contribuem diretamente para a redução das emissões de CO₂, da poluição atmosférica e do uso excessivo de recursos não renováveis.

AutoBus – Como é o envolvimento dos colaboradores nesse quesito? Buscam-se parceiros fora da área das garagens para a promoção desse contexto ambiental?

Elias – A cultura ambiental foi incorporada à rotina das garagens, promovendo engajamento coletivo e responsabilidade compartilhada.

Nas empresas Unimar, Praia Sol, Vereda e Serramar, por exemplo, há a contribuição de uma consultoria ambiental, que auxilia as operadoras na orientação e aplicação dessas mudanças internas voltadas para a sustentabilidade.

Já a Viação Grande Vitória atua em três frentes principais na comunicação destes programas com os colaboradores: treinamentos e capacitações ambientais. Os motoristas, mecânicos e equipe de apoio recebem treinamentos periódicos sobre boas práticas ambientais, direção econômica e manuseio responsável de materiais e resíduos; campanhas internas de engajamento; são realizadas campanhas de conscientização em datas relevantes (como o Dia Mundial do Meio Ambiente), com ações educativas e reconhecimentos simbólicos para equipes que demonstram boas práticas; canal aberto para sugestões sustentáveis. A empresa estimula a escuta ativa de ideias dos colaboradores sobre melhorias operacionais que contribuam com a sustentabilidade.

AutoBus – Vemos que o conceito ESG tem sido aplicado em algumas operadoras de ônibus. Das associadas, quantas praticam de maneira regular esse aspecto e qual a importância de estar inserido em temas tão importantes na sociedade?

Elias – O conceito de ESG tem sido, progressivamente, incorporado à cultura e à gestão estratégica das empresas operadoras do Sistema Transcol, sendo os três tópicos trabalhados por meio do envolvimento dos setores responsáveis, com foco em responsabilidade, transparência e impacto positivo.

AutoBus – O compromisso ambiental é um caminho sem volta? Como as operadoras encaram isso aí na região da Grande Vitória?

Elias – Sem dúvida, o compromisso ambiental é um caminho sem volta. As garagens de ônibus das operadoras do Sistema Transcol passaram por uma verdadeira transformação ambiental nos últimos anos, consolidando um novo padrão de gestão sustentável, segurança operacional e eficiência nos serviços prestados à população da Região Metropolitana da Grande Vitória.

No entanto, mais do que adequações técnicas, o destaque está na mudança de comportamento das equipes. O GVBus reafirma que a sustentabilidade é hoje um pilar estratégico do Sistema Transcol. As ações adotadas nas garagens demonstram que é possível aliar eficiência operacional, responsabilidade ambiental e compromisso com a população capixaba, construindo um transporte público cada vez mais moderno, seguro e sustentável.

Ajuda profissional

A revista AutoBus, também, conversou com Patrícia Siqueira, gestora ambiental das operadoras Serramar, Unimar, Santa Paula, Serrana, Vereda e Praia Sol, que participou do processo de adaptação ambiental junto as estruturas das garagens das respectivas empresas. De acordo com ela, toda a ação começou com planos de adequação às garagens, tendo um mapeamento sobre o que era necessário e a verificação sobre requisitos legais envolvidos com a atividade. “Eu costumo dizer que fazemos um raio-x de toda a estrutura para mapear o que é preciso melhorar. De início, o treinamento ambiental com as lideranças das empresas, que não estão preparados para responder sobre tema ao restante dos colaboradores. Quando essas lideranças têm conhecimento da importância dessas iniciativas, as outras equipes envolvidas ficam cientes de todos os desafios”, disse.

Patrícia Siqueira

Ainda, de acordo com Patrícia, mudar o comportamento do funcionário é a prioridade para se obter sucesso nas medidas aplicadas. “Em muitos casos, o desconhecimento quanto ao que é exigido sobre a sustentabilidade ambiental é predominante nas garagens. Então, nosso trabalho é mostrar o quão de impacto as estruturas promovem à sociedade e ao meio ambiente. Levamos para dentro das garagens o treinamento de educação ambiental, de atendimento emergencial quanto ao manuseio de produtos perigosos, além de implantar o programa 5S para que os funcionários contribuam com a organização e métodos aplicados no dia a dia das empresas”, explicou.

Patrícia disse que o programa 5S é uma metodologia japonesa voltada para a organização e padronização do ambiente de trabalho e, quando aplicado em garagens de ônibus, ele busca melhorar a eficiência, segurança e limpeza do local. “Montamos uma campanha em que envolve cada setor nas garagens para que eles cumpram com o que é determinado quanto as tarefas e funções. É a corrida do Seninha, incentivando o funcionário a agir da melhor maneira dentro dos padrões de segurança e organização nas garagens. Isso mostra um compromisso do colaborador”, observou.

Quanto a gestão de resíduos sólidos, a destinação correta faz parte do dia a dia das empresas, sempre seguindo normas de acordo com o que o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR) determina.

Treinamento e conscientização, armas para se alcançar sucesso em sustentabilidade ambiental

A economia tem sido um fator preponderante quando se aplica as especificações ambientais nas garagens. Segundo a gestora ambiental, há uma expressiva redução nos valores das contas de água e de eletricidade com o uso da reciclagem e reaproveitamento da água e da captação da energia solar. “As vantagens alcançadas com os procedimentos ambientais e pelo treinamento dos funcionários são muitas. Por exemplo, algumas operadoras usam uma tecnologia de limpeza dos veículos, com um equipamento que controla o volume de água e produtos para remover as sujeiras. Além disso, há um menor impacto causado pelos resíduos da lavagem às caixas separadoras de água e óleo, com um trabalho mais eficiente no tratamento”, disse Patrícia.

Sobre a aplicação do ESG, conjunto de critérios utilizado para avaliar o desempenho de uma empresa em relação a questões ambientais, sociais e de governança, nas empresas de ônibus, Patrícia ressaltou que essas práticas serão costumaz para as boas práticas de relacionamento com o mercado. “Trata-se de um tema que não tem mais volta, até porque é uma melhoria do que estamos fazendo dentro das garagens sob os aspectos envolvidos com esse conceito. Começamos o trabalho, nesse sentido, com a operadora Unimar em virtude de ela prestar serviços para grandes empresas, como a Vale, que já promove o seu sistema ESG, que avalia se seus fornecedores têm ou não esse princípio. Para isso, montamos um programa que orienta cada departamento a seguir os principais pontos relacionados com esse conjunto de medidas”, afirmou.

Imagens – Divulgação

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