Maio Amarelo, muito mais que um símbolo

Manter-se atento não é tarefa fácil, principalmente, ao longo de viagens de grandes distâncias ou mesmo horas seguidas numa região metropolitana de tráfego pesado

Por Thyrso Guilarducci, técnico em Segurança no Trânsito

Desde a criação do Movimento Maio Amarelo, há mais de uma década, à cada ano intensificam-se no Brasil e em muitos países, neste mês de maio, diversas abordagens e apelos por um comportamento social na mobilidade urbana com mais consciência, responsabilidade e compromisso com as vidas.

Motoristas, motociclistas, ciclistas, pedestres e a sociedade de modo geral são alertados para adotarem atitudes seguras. Isso inclui os gestores de organizações públicas e privadas.

Cada pessoa no seu meio social possui impactos na questão do trânsito. Alguns se destacam por haver sob seus cuidados fatores que elevam muitas outras vidas, como se fossem um maestro regendo uma orquestra com músicos em compasso.

Refiro-me aos motoristas de ônibus. Urbanos, rodoviários, escolares, turismo, não importa, todos têm muitas vidas sob seus cuidados. Há quem possa discordar dessa afirmação, pois pode haver uma tragédia envolvendo muitas pessoas quando um motorista dirigindo um automóvel embriagado invade uma loja movimentada e atropela dezenas de pessoas e ainda causa prejuízos altíssimos.

Entendo e concordo com esse contraponto, porém é saudável um debate na busca pelas raízes das causas que tristemente elevam as mortes no trânsito que chegam bem perto de 50 mil por ano no Brasil e 1,2 milhão no mundo.

Há reações de ceticismo pela campanha do “Maio Amarelo”, pelo entendimento desse Movimento não solucionar os sinistros, haja vista que as mortes “persistem”. Porém, devemos ter em mente que por menor que sejam as reações, será possível que uma parte da sociedade reflita e adote uma postura menos agressiva, menos irresponsável e passe a dirigir seus veículos ou transitar como pedestres com mais prudência de um modo geral.

Thyrso Guilarducci

Neste artigo, considero os motoristas de transporte coletivo como peças-chaves da segurança no trânsito. Muitos passageiros estão sob seus cuidados e esperam chegar aos respectivos destinos íntegros e sem traumas, e não num carro funerário.

Por essa razão, entendo que a tela única e exclusiva para ser observada pelo motorista de um ônibus é a do para-brisa. Deixando de lado as telas de celulares e outras “telas” de distrações, atento na dinâmica do deslocamento, um motorista tem rápida visão e capacidade de reação na maioria das emergências em percurso.

Ser motorista de ônibus é lembrar o tempo todo que vidas estão sob suas ações protetoras, exigindo a prática ensinada nos cursos e treinamentos obrigatórios e complementares que muitas empresas oferecem.

Os desafios de uma condução segura não são poucos, como por exemplo, pedestres que se colocam em riscos de atropelamentos, motociclistas que fazem manobras insanas, outros motoristas que cometem imprudências etc. Por isso, um motorista atento e prevenido tem muito mais chances de evitar o envolvimento num sinistro de trânsito.

Manter-se atento não é tarefa fácil, principalmente, ao longo de viagens de grandes distâncias ou mesmo horas seguidas numa região metropolitana de tráfego pesado. Isso exige que, ao assumir o volante do coletivo para uma jornada, o condutor esteja com boa disposição e tenha um suficiente período de descanso antecedente.

Imagine um motorista de linha interestadual que foi escalado para uma viagem com saída às 23 horas e chegada no destino por volta das 6 horas do dia seguinte. Dirigir uma noite toda, mesmo com as paradas no trajeto é extremamente desafiante. Se no dia do início da viagem noturna esse hipotético motorista não dormiu pelo menos 8 horas com tranquilidade, não estará desperto para essa etapa.

Não há heroísmo em se aventurar

Se não se sentir bem devido à falta de sono antes de viajar, é prudente relatar o fato ao encarregado do tráfego para alterar a escala. Isso pode ser um transtorno para a empresa, mas muito insignificante diante de um ônibus que teve o controle perdido, causando acidente.

Se um motorista costuma reclamar de não dormir de dia, deve ser atendido por suporte médico para atuar na causa.

Em resumo, o Maio Amarelo pode sim surtir bons efeitos com as prevenções, não apenas para os condutores de ônibus, mas à todas as pessoas envolvidas na mobilidade urbana.

Se você é um passageiro de ônibus, urbano ou viajando, assim que entrar no coletivo, cumprimente o motorista e agradeça pelo acolhimento. Da mesma forma, ao desembarcar, renove o agradecimento e deseje um ótimo dia. Isso fará uma significativa diferença na autoestima do profissional e isso agrega valor que se traduz em satisfação pela atividade.

Você que dirige um ônibus, receba um abraço fraterno simbolizando a gratidão de uma sociedade que se mobiliza graças à sua dedicação e compromisso com a segurança no trânsito.

Maio Amarelo, desacelere, seu bem maior é a vida!

Imagens – Acervo pessoal e Pixabay

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