O mote do “O Brasil é Coletivo” está de volta com a nova diretoria da NTU, Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, visando um novo ciclo de fortalecimento do transporte público como política de Estado e instrumento essencial para a sustentabilidade e qualidade de vida das cidades.
De acordo com a entidade representativa, as cidades brasileiras estão à beira do colapso, caso o modelo baseado no transporte individual continue avançando, assunto que pode ser visto na Pesquisa CNT de Mobilidade da População Urbana 2024, onde os deslocamentos por carros e motos ultrapassaram pela primeira vez os realizados por ônibus, em algumas capitais.
É sabido que os sistemas de transporte coletivo são geridos por administrações públicas municipais, que determinam especificações sobre serviços, qualidade operacional e o modelo de remuneração (na maioria dos casos, baseado na cobrança das tarifas dos passageiros). Para a NTU, é preciso frear o avanço do transporte individual e promover uma transição que vá além da questão energética, reposicionando o transporte coletivo como eixo central do planejamento urbano. “Defendemos que o transporte individual não seja o modo preferencial de deslocamento, não ultrapassando 50% dos deslocamentos motorizados da matriz de mobilidade urbana. Acima disso, o risco real de colapso no trânsito e na qualidade de vida urbana é iminente”, destacou Edmundo Carvalho Pinheiro, novo presidente do Conselho Diretor da NTU.
Ainda, segundo Pinheiro, que concedeu entrevista à revista AutoBus, outros desafios, também, estão na trajetória de sua gestão frente à entidade representativa, como o resgate da imagem e a reafirmação do setor perante o atual quadro que atinge o transporte coletivo. “Após a Pandemia de Covid, ainda não conseguimos ver o retorno da demanda de passageiros que transportávamos antes. Aliás, desde 2013 a crise do segmento veio ganhando força, impactando, negativamente toda a estrutura. Vamos propor medidas para fortalecer nossas operadoras para que possam promover um transporte qualificado e recuperar a capacidade de investimentos. Também, quero fortalecer a NTU junto aos operadores e à sociedade como um centro de agregação e de organização capaz de trabalhar para a melhoria do transporte coletivo em todo o País”, ressaltou.

Edmundo Pinheiro – Precisamos de políticas públicas e investimentos em estrutura viária, operação e tecnologias ao modal ônibus, além de ações que lhes permita alcançar prioridade objetivando o retorno da sua competitividade junto aos outros modelos de transporte
O executivo informou que sua nova gestão irá estimular a aquisição de novos veículos para a renovação das frotas dos sistemas, com metas que retomem os volumes históricos e que promovam a modernização do serviço. “A meta é superar 13 mil ônibus adquiridos por ano no transporte coletivo das cidades brasileiras, aproveitando a capacidade instalada da indústria nacional”, explicou Pinheiro.
Quanto as tarifas, a NTU salienta a adoção dos subsídios públicos aos passageiros pagantes como uma política permanente para assegurar tarifas públicas mais acessíveis. Segundo a associação, atualmente, existem 395 cidades que têm subsídio para o transporte coletivo, mas apenas 148 adotam a separação tarifária, prevista na Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU). No Brasil, conforme o IBGE, há 2.703 municípios atendidos por serviços organizados de transporte público por ônibus. “Não há, no mundo, uma cidade com seu transporte público estruturado que não tenha subsídio público para as tarifas. Isso é natural que aconteça, pois quando há a necessidade de se atender toda a população urbana é fundamental ter fontes extras de recursos financeiros para remunerar todos os custos dos serviços. Hoje, no Brasil são quase 400 cidades que têm algum tipo de subsídio”, explicou o presidente da NTU.
Sobre a transição energética do modal do ônibus, com vistas no uso das tecnologias limpas de tração, Edmundo Pinheiro disse ser importante essa preocupação em torno da descarbonização do transporte e que a NTU apoia ações e medidas que levem a um resultado positivo ambiental, pois não existe uma cidade sustentável sem um transporte público eficiente e de qualidade. “É preciso destacar que os automóveis são os grandes geradores de emissões poluentes e não os ônibus. Hoje, nesse contexto, podemos conquistar essa redução da poluição por meio de uma operação estruturada, onde os motores Euro VI conseguem diminuir os efeitos nocivos dos poluentes. Além disso, a prioridade ao modal nas ruas possibilita esse ganho ambiental. A nossa visão quanto a eletrificação é muito positiva, porém, ainda há gargalos que precisam ser resolvidos, como a infraestrutura de recarga elétrica e os custos envolvidos com essa tecnologia. Se ainda temos dificuldades de financiar o transporte feito por ônibus a diesel, temos que ver que a transição precisa ser realizada de forma responsável e gradativa para que não tenhamos um resultado oposto daquilo que se quer”, concluiu o novo presidente do Conselho Diretor da NTU.

Francisco Christovam continua contribuindo com sua experiência junto à NTU
Já o diretor-executivo, Francisco Christovam, em seu discurso durante o evento de apresentação da nova composição da diretoria, disse que é preciso sensibilizar as autoridades responsáveis pela elaboração da legislação aplicável e pela gestão dos nossos contratos de concessão ou de permissão, além das condições financeiras e operacionais asseguradas para a prestação de um serviço de qualidade à população. “Queremos ser um Entidade de classe com visibilidade, representatividade e responsabilidade na realização dos debates dos temas que precisamos considerar, para que o transporte de passageiros, nas cidades brasileiras, possa ser visto, de fato, como um serviço público essencial e estratégico, conforme estabelecido na nossa Constituição Federal. Ainda, queremos nos aproximar cada vez mais dos nossos passageiros”, ressaltou.
O executivo lembrou que a missão, ou seja, a razão de existir da NTU, deve levar em conta não só a representação das empresas operadoras, mas a liderança do setor na direção de um transporte coletivo como pilar essencial da mobilidade para as cidades. “Para quem pratica o pensamento estratégico e o planejamento estruturado, essas definições são fundamentais e são a base para o estabelecimento dos projetos e das ações que precisamos desenvolver para que possamos assumir uma posição de efetiva liderança, comprometidos com a melhoria da sustentabilidade dos serviços prestados à população”, afirmou Christovam.
Imagens – Divulgação e Revista AutoBus
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