O ônibus leva vantagem na menor emissão de CO2

Em recente abordagem sobre a análise comparativa das emissões entre transporte rodoviário coletivo e individual, ponto positivo para o ônibus

A CNT, Confederação Nacional do Transporte, destacou, há poucos dias, a nova edição do Radar CNT do Transporte que compara as emissões de dióxido de carbono (CO₂) por tonelada por quilômetro útil (TKU) no transporte rodoviário de passageiros, contemplando os veículos leves e ônibus, tanto os aplicados em rotas estradeiras, quanto os urbanos, equipados com propulsores de combustão interna.

De acordo com o estudo realizado pela entidade representativa, enquanto a população brasileira teve um crescimento de aproximadamente 4,9% ao longo dos últimos 10 anos, a frota de veículos leves teve um salto expressivo de 41,9%. E, de acordo com os resultados da Pesquisa CNT de Mobilidade Urbana, realizada em 2024, há uma tendência de modelo de urbanização orientado ao transporte individual, impondo desafios ambientais e logísticos ao Brasil.

Fernanda Rezende, diretora-executiva da CNT, comentou que essa análise mostra uma realidade que só é reforçada a cada dia no País, que adota o estímulo ao transporte individual em detrimento à mobilidade coletiva. “Vemos políticas voltadas para o incentivo ao transporte individual, enquanto o transporte coletivo é deixado de lado. Veja o caso do IPI verde que permite uma redução dos valores dos automóveis populares. Não há planejamento para que o transporte coletivo tenha priorização para melhorar a mobilidade nas cidades”, observou.

Na visão da executiva, a elaboração desse estudo levou em consideração a comparação das emissões de forma per capita dentre os ônibus, as motocicletas e os automóveis, procurando saber quanto há de emissão por pessoa nos veículos. “Utilizamos o parâmetro do TKU para chegar aos resultados que favorecem o transporte coletivo. O ônibus urbano emite, apenas, 16% de forma per capita em relação a poluição gerada pelo automóvel e 50% menos na comparação com as motos. Nisso, é preciso repensar as políticas públicas, com maiores investimentos nos sistemas de transporte público”, disse Fernanda.

De acordo com a CNT, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que há um crescimento populacional nos grandes centros urbanos que tem impulsionado a necessidade de deslocamentos. Contudo, apesar desse contexto, as viagens de ônibus têm diminuído em 44,1% nos últimos dez anos, grande parte em função da migração do transporte coletivo para o individual. E, embora o ônibus permaneça sendo a opção predominante no transporte rodoviário de passageiros, o uso de veículos leves tem aumentado por diversos fatores, como o crescimento do uso de aplicativos, que tinha uma participação sua fase embrionária, em 2017, de 1,0%, mas que em 2024, alcançou o patamar de 11,1%.

Fernanda Rezende

Fernanda afirmou que a participação da entidade junto à propagação das informações voltadas às necessidades de se qualificar o transporte coletivo e promover a mitigação das emissões poluentes oriundas do transporte na forma geral, é um trabalho constante em meio aos envolvidos com as gestões públicas, associados e mídia. “Há uma política desiquilibrada que vem impactando, negativamente, toda a mobilidade urbana. Nossa missão é destacar isso para que sejam alteradas. Infelizmente, a realidade brasileira mostra o compromisso dos poderes públicos com o transporte individual, deixando de lado uma mobilidade eficiente e atrativa”, disse.

Conforme mostra a edição do Radar CNT, um ônibus urbano com capacidade de 70 passageiros emite, aproximadamente, 0,24 kg CO2/TKU, enquanto um automóvel, com ocupação média de 2 pessoas, emitiria 1,49 kg CO2/TKU, o que corresponde a valor cerca de 520,8% maior em relação ao ônibus. Na visão do estudo, isso significa que, quando um ônibus urbano, com 70 passageiros, ao percorrer 100 quilômetros, a sua emissão é de 126 kg CO2. Para transportar a mesma quantidade de indivíduos em automóveis seriam necessários 35 veículos, totalizando a emissão de 782,25 kg CO2. Isto é 6,21 vezes superior à emitida por um único ônibus urbano para o mesmo trajeto.

O ônibus mostra seu potencial em promover a redução das emissões poluentes em meio ao processo de descarbonização do transporte

A CNT salienta que a priorização da utilização do transporte público de passageiros se mostra como uma importante alternativa perante os desafios ambientais da poluição atmosférica, em virtude de consumir menos combustível por passageiro que automóveis e motocicletas e ao se considerar o transporte por quilômetro útil, ocasionando uma menor emissão de gases do efeito estufa (GEE). “A CNT irá mostrar, durante a COP 30, todos esses efeitos negativos ocasionado pela individualização do transporte. Nossa presença no evento destacará diversas ações e estudos no que diz respeito sobre a necessidade por políticas públicas que favoreçam o transporte público e a sua eficiência na mobilidade das pessoas. Além disso, a pauta do meio ambiente será observada e divulgada por meio de um inventário de emissões do setor, informando quanto ele emite, de fato, para que haja um balizamento de decisões a serem tomadas”, explicou Fernanda.

A executiva lembrou que, em relação às fontes energéticas que podem ser desempenhar um importante papel na redução das emissões poluentes, a CNT vem elaborando diversos estudos que mostram a capacidade brasileira em dispor de alternativas viáveis. “Desde 2021 publicamos estudos que destacam as opções energéticas para um transporte mais limpo, como os biocombustíveis. Entendemos que as soluções para o Brasil estão na diversidade, seja pelo biometano, diesel verde, HVO, hidrogênio verde. Temos condições de incentivar todas essas opções para que os transportadores possam escolher a mais viável para seus negócios”, afirmou Fernanda.

A substituição da frota, dos modelos mais antigos pela geração com motores Euro VI (P8), também, pode trazer benefícios ambientais, com ganhos na redução das emissões locais – material particulado e óxido de nitrogênio. A CNT desenvolveu um estudo relacionado com o transporte de carga, num cenário em que a renovação dos veículos com motores Euro V ou até mais antigos, para o que há de mais moderno, hoje, no mercado, haveria uma redução de 85% do que é emitido em poluição. “Não fizemos um estudo específico para os ônibus, mas posso dizer que esse resultado seria muito semelhante, com ganhos ambientais para toda a sociedade”, finalizou Fernanda.

Para a CNT, a alternativa para conciliar o equilíbrio e a necessidade de investimento é o escalonamento. Ou seja, fazer investimento por etapas, providenciando recursos para a saída dos veículos mais antigos, substituindo-os pelos de menor emissão. Ainda, a entidade A análise evidencia que um dos maiores desafios para a renovação de frota é o desenvolvimento de políticas públicas de incentivo econômico para acelerar esse processo, sendo que a defesa da descarbonização pelo setor transportador deve ser um dos principais fatores que impulsionam o transporte sustentável, garantindo o suporte às especificidades de cada segmento. Outro ponto a ser considerado é a forma de promover equidade nos incentivos a autônomos e empresas de transporte de carga.

A Confederação Nacional do Transporte defende a utilização e a promoção do transporte coletivo de passageiros como uma alternativa vantajosa para a sociedade e propõe as seguintes medidas:

  • ampliação de incentivos financeiros visando o aumento da oferta e da melhoria da qualidade do transporte coletivo;
  • integração intermodal dos sistemas de transporte público, promovendo conexões eficientes entre ônibus, metrô e trens urbanos, de forma a ampliar o alcance e a conveniência do transporte coletivo para os usuários;
  • desenvolvimento de políticas públicas e planos de implementação orientados à promoção do uso de veículos coletivos; e
  • readequação de alíquotas de Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) para veículos individuais antigos e poluentes.

Imagens – Agência Brasil e Revista AutoBus

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