Sob os olhares que visam a modernidade e o desempenho

Mais uma vez, o transporte coletivo urbano ganhou destaque dentre o setor que realiza seus serviços em que a determinação para o resgate de sua imagem desgastada e a reversão da perda de competitividade são fatores fundamentais

Sustentabilidade foi uma palavra mencionada durante a realização do 38° Seminário Nacional da NTU, evento que aconteceu, recentemente, na Capital Federal, Brasília. O termo, ressaltado ao transporte coletivo, não levou em consideração, apenas, o contexto ambiental, mas foi tratado de uma forma genérica, em que a necessidade pela sinergia entre economia, operacionalidade e acesso social favoreçam a mobilidade e o desenvolvimento das cidades.

Dentre os muitos painéis que trataram dos diversos assuntos relacionados com a atualidade do setor, com foco nos serviços de ônibus, o financiamento a operação, o planejamento de uma rede extensa composta por infraestrutura específica em importantes e grandes regiões urbanas, formas para trazer de volta o cliente perdido e a transição energética realista e adequada com às muitas peculiaridades de nossas cidades protagonizaram as conversas, as apresentações e as cobranças.

Num momento em que o modal sofre questionamentos sobre sua eficácia perante os outros modais de transporte que ganharam força nos últimos anos, como os aplicativos de transporte, as motocicletas e um concorrente conhecido de outroras – o automóvel -, a necessidade por transformações ganha novos contornos e traços numa tela rebuscada pela falta de interesse governamental na promoção de sua modernidade.

Todos os anos, a NTU, entidade que reúne as operadoras nacionais de transporte coletivo, chama para si a responsabilidade de mostrar os desafios, os problemas, a evolução e a disrupção do setor, visando uma comunicação direta com governos (municipais, estaduais e o federal), com o seu público (passageiros) e as muitas organizações da sociedade para que o modal ônibus possa ter seu conceito revisto e valorizado, onde quem ganha não é a transportadora ou a cidade, mas todos num ambiente salutar em que a infraestrutura segue em paralelo com as inovações em propulsão (variadas, como o Brasil tem) e os recursos tecnológicos que proporcionam a otimização dos serviços e da gestão.

E, mais uma vez, a revista AutoBus foi convidada a participar e teve a satisfação de acompanhar os desdobramentos em propostas, ideias, estudos e casos operacionais. De acordo com a NTU, o transporte coletivo urbano é um dos pilares para enfrentar a emergência climática. E, responsável por transportar milhões de brasileiros todos os dias, o ônibus urbano consome menos energia e emite menos gases de efeito estufa por passageiro do que os modos individuais de deslocamento (carros e motos). No entanto, para cumprir seu papel como vetor de sustentabilidade, precisa de políticas públicas robustas, financiamento estável e inovação tecnológica.

O tema do financiamento ao setor foi, novamente, evocado quanto a tarifa pública e de remuneração para alcançar a rentabilidade e a sobrevivência do setor e a promoção de um transporte acessível, que não impacte, negativamente, a quem mais precisa usar, que é o passageiro.

Nisso, o Seminário trouxe alguns números até expressivos quanto a aplicação de recursos econômicos, por parte de 400 cidades brasileiras, que resolveram apoiar toda a dinâmica dos serviços dispondo de subsídios públicos e, até mesmo, da tarifa zero. Para o diretor-executivo da NTU, Francisco Christovam, esse fato é muito significativo, pois o transporte tem um fundamental papel na vida das pessoas e do desenvolvimento urbano. “As pessoas precisam se locomover, ir às escolas, ao médico e ao trabalho. No pós-pandemia o que estamos tendo é uma nova visão de transporte, do seu significado social, numa estratégia para manter na ativa os serviços de ônibus”, disse o executivo.

Porém, segundo ele, os recursos financeiros precisam vir de fontes que não comprometam os orçamentos municipais. Receitas extraordinárias devem ser criadas para o escopo, orientada em fundos que possam dar sustentabilidade às essas políticas públicas.

Também, no contexto econômico, os investimentos em infraestrutura para que o ônibus possa ter desempenho, com uma gestão tecnológica, maior velocidade e conforto, foram pautados no evento. De uma forma genérica, o Estudo Nacional de Mobilidade Urbana do BNDES, prevê um cenário ambicioso, com investimentos de mais de R$ 500 bilhões até 2055 para ampliar em 120% a rede de transporte público coletivo de média e alta capacidade no Brasil, atingindo 21 regiões metropolitanas com população conurbada acima de 1 milhão de habitantes. De acordo com levantamento, a ideia é ter 2.400 km de novos eixos estruturais, cobertura ampliada para 40% da população e prioridade para áreas de menor renda, com aumento projetado de até 136% no número de passageiros em cenários de operação otimizada.

Contudo, isso depende do interesse dos governantes, da continuidade das gestões e de que forma isso será implantado. Sabemos, muito bem, que são as cidades as responsáveis por gerir os serviços de transporte público e que a maioria dos prefeitos não se atentam ao fato de que a mobilidade coletiva organizada e planejada traz muito mais benefícios à sociedade.

Outro assunto que esteve presente nos debates do Seminário 2025 foi sobre a transição energética de nossos ônibus urbanos, questão que tem sido ressaltada nos últimos anos para que as cidades alcancem seus ambientes mais limpos. Porém, apesar de esforços para que o processo de descarbonização seja feito o mais rápido possível, é preciso lembrar que esse modal não é o vilão e muito menos o grande responsável pelas emissões poluentes diretas ao meio urbano.

O que se vê, neste momento, é uma corrida por uma tecnologia, eleita a solução para os problemas ambientais. O Brasil não pode se atentar à um modelo de propulsão capaz de atender todas as demandas nesse quesito. Como foi destacado no painel sobre a transição energética do transporte, com as falas de especialistas e representantes da indústria de chassis para ônibus, é preciso ser realista quanto a investimentos em tecnologia (que custa bem mais caro em relação ao atual veículo com motor de combustão) e na infraestrutura.

Todos foram unânimes em afirmar que há variadas possibilidades para obtermos a tão desejada propulsão limpa, mas que os ônibus representam, apenas, 1% nas emissões de CO2 do País, motivo pelo qual é possível ter um processo planejado para que isso ocorra de maneira adequada às condições dos sistemas de transporte.

A própria NTU concorda com isso, sempre se posicionando a favor de um programa consistente e sustentável que leve em consideração uma mudança energética cadenciada por estudos, avaliações e investimentos sensatos.

Edmundo Pinheiro, presidente do Conselho Diretor da NTU, ressaltou os desafios que as cidades têm e que a falta de políticas públicas locais compromete a qualificação dos sistemas de transporte público. Segundo ele, investir é a única maneira de reverter uma imagem negativa que afeta toda a mobilidade. “Temos um papel relevante nesse processo de resgatar essa imagem do transporte coletivo, trabalhando em conjunto com poderes públicos, as associadas e a sociedade. Queremos ser uma liderança nesse sentido, atuando com outras entidades que entendam o mesmo propósito que temos que é a promoção de uma mobilidade eficiente. Não temos, também, a intenção de procurar culpados nesse sentido, mas, sim de encontrar e aplicar soluções que favoreçam a modalidade”, salientou o executivo.

Imagens – Divulgação e revista AutoBus

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