Não é de hoje que conceitos modernos em segurança, conforto e gestão operacional se tornaram pragmáticos, favorecendo os serviços e as viagens feitas em ônibus. Isso já vem de há muitos anos, entre 30 e 40 anos atrás quando os principais nomes da indústria do modal passou a disponibilizar o maior volume em tecnologia embarcada e configurações inovadoras para proporcionar novas experiências em deslocamentos com ônibus e a adequação às demandas ambientais.

Atualmente, por exigências que ultrapassam uma simples viagem, temos visto que o setor do ônibus encontra desafios consistentes que o determina a estar num desenvolvimento contínuo, seja em propulsões limpas ou novas formas para inserir o modal nesse contexto de avanço. E, ao falarmos de Busworld, o encontro mundial em que as tendências se transforam em ofertas comerciais, percebe-se, perfeitamente, que todos estão antenados para o que o mercado quer.

Na edição de 2025, além da tecnologia de baterias com promessas para grandes autonomias operacionais e os efeitos dos desenvolvimentos da propulsão elétrica, pode-se ver algo mais nas estratégias adotadas pelas fabricantes em busca de seus clientes (por enquanto europeus), como a oferta amplificada de serviços de suporte ao operador para que ele possa realizar suas operações de maneira satisfatória e tenha rendimento em seu negócio.

A revista AutoBus participou, mais uma vez, dessa que é a mais expressiva feira mundial voltada para o ônibus, num mercado competitivo, ávido por novidades e ponto de partida para futuros negócios com outras partes do mundo. É na Busworld que vemos o interesse frenético de um público que olha a mobilidade motorizada como agente essencial do desenvolvimento sustentável e figura responsável pelo contexto social em ambientes cada vez mais urbanizados, conectados e modernizados.

O evento europeu destacou uma série de projetos, concepções, propostas, tendências e produtos com vistas ao transporte urbano, rodoviário, em regime de fretamento, transfers de curta distância, serviços que focam a gestão operacional, modelos de tração e suporte ao transportador. Os muitos expositores que lá estiveram (os chineses em grande número) reforçaram seus conceitos comerciais ou apresentaram inovações, com estratégias diferenciadas de negócios. Lembrando que, o que estava em exposição em Bruxelas, tinha como finalidade o operador europeu, mas, com vocação para ser usado em outras partes do Globo, tudo, é claro, dependendo de processos de adaptação ao mercado local.

As tecnologias a disposição da descarbonização

Assim como o Brasil, a Busworld é um grande laboratório para os países menos evoluídos. Se temos expertise em como proporcionar um transporte coletivo em consonância à nossa realidade, onde os desafios são enormes, a competição com outros modais cresce e o apoio quanto a sustentabilidade financeira é escasso, a feira belga revelou que os muitos ideais e desenvolvimentos que lá são mostrados podem, de certa maneira, ser aproveitado por aqui.

E é o que estamos vendo em termos de propulsão limpa, que aos poucos tem chegado em solo brasileiro. A eletrificação (a baterias) é a sensação do momento, porém há outras opções, que nós brasileiros, podemos cultivar e colocar em prática para que alcancemos a mobilidade livre de emissões poluentes (a Busworld, também, deu espaço para motores a gás e o próprio diesel Euro VI).

Mesmo que a eletricidade tenha sido uma protagonista no salão europeu, o contexto, ainda, gera expectativas e dúvidas a respeito da infraestrutura de recarga e de fornecimento. Fontes que lá estiveram concordam que são necessários muitos investimentos e políticas específicas para um mercado que vem crescendo e exige respostas rápidas.

Uma importante figura desse cenário do transporte é o presidente mundial da Daimler Buses, Till Oberwörder, que relatou as dificuldades em promover a eletromobilidade ante o processo de estabelecimento comercial sem levar em consideração os muitos investimentos em infraestrutura e melhores maneiras em atender o operador nessa transição. “As metas de redução de CO2 no setor de transporte devem ser atendidas com produtos e veículos cada vez mais sustentáveis. Vemos que a demanda por ônibus elétrico tem crescido na Europa nos últimos anos. Porém, para que haja sucesso na operação é preciso resolver as questões envolvidas com a geração de energia, o fornecimento e os sistemas de recarga elétrica. Essa abordagem requer políticas e gestões públicas orientadas com regulamentações e investimentos que favoreçam um modelo de transporte limpo”, destacou o executivo.

Em se tratando de negócios, Till disse que a Daimler Buses, vem, ao longo dos anos, se adaptando às demandas do mercado, seguindo um ritmo constante de desenvolvimento na transição energética. Por isso, o setor tem que receber suporte vindo da indústria para que ele consiga operar seus veículos da melhor forma. “Não podemos desanimar frente aos problemas e desafios do segmento, mantendo nossos planos de proporcionar um transporte livre de CO2 e ao mesmo tempo sendo competitivos num mercado dinâmico dispondo de uma ampla plataforma de serviços, soluções e veículos para todos os nichos operacionais. Trata-se de termos um ecossistema em que o cliente possa receber total atenção em seus negócios”, avaliou Oberwörder.

Till Oberwörder

Sobre o transporte rodoviário, em longas distâncias, o presidente da Daimler Buses disse que esse assunto requer uma concepção ainda mais desafiadora quanto a eletrificação do segmento. “Ainda não temos uma resposta prática que nos orienta a que tipo de tecnologia ofereceremos ao mercado. Neste momento, a Daimler Buses vem investindo no projeto do H2, o hidrogênio como combustível para a tração elétrica, uma opção que vemos ser a tendência para o transporte de longas distâncias. Contudo, se em ambientes urbanos temos sentido as dificuldades em recargas elétricas, a operação rodoviária passa por isso, também, com a falta da infraestrutura de abastecimento, tanto em eletricidade, como em hidrogênio”, afirmou Till.

Sobre biocombustíveis, o executivo observou que mais essa alternativa pode contribuir com os objetivos ambientais no setor. Contudo, o que não pode haver são conflitos dentre as áreas energéticas e alimentar, quando se pensa em usar determinadas culturas para se produzir combustíveis, como a soja e o milho, por exemplo, em detrimento aos alimentos. “Não podemos comprometer o processo de alimentação das pessoas em virtude da descarbonização veicular”.

Novidades operacionais

A Daimler Buses aproveitou seu significativo estande na Busworld para lançar o modelo intermunicipal eIntouro (elétrico a baterias), dando continuidade no aperfeiçoamento de sua linha de produtos para a eletrificação dos sistemas. O referido veículo, que em sua versão a diesel, teve mais de 20 mil unidades comercializadas, chega para reafirmar a competência da empresa alemã, por intermédio da marca Mercedes-Benz, sobre a experiência de dispor de tecnologia e eficiência na eletromobilidade.

De acordo com Till Oberwörder, o eIntouro é um modelo refinado, resultado de um processo de testes extensos em várias condições de clima e operação, trazendo confiabilidade e desempenho em serviços realizados nas linhas de curtas e médias distâncias, como em traslados turísticos ou mesmo no transporte escolar. Ele conta com baterias de lítio, ferro e fosfato, LFP, (com dois packs de 414 kw total) que lhe conferem autonomia de até 500 km.

Lançamento para o segmento intermunicipal, fretamento e escolar

O modelo pode ser construído em duas versões, com 12,20 e 13,10 metros de comprimento, sendo possível levar até 63 passageiros. Seu sistema de recarga elétrica permite que a operação seja feita em 90 minutos, algo bem atrativo. Numa comparativa entre pesos com a versão a diesel, o modelo elétrico é duas toneladas mais pesado, em função das baterias.

Além disso, o veículo pode contar com vários recursos que aumentam a segurança nas viagens, como o sistema de câmeras 360°, ABA 6 Plus, retrovisores com câmeras digitais, dentre outras tecnologias. E, segundo a Daimler, pela primeira vez em um ônibus europeu traz atualizações de software via OTA (over the air), ou seja, remotamente, sem necessidade de visita à oficina.

Quanto a bateria, a fabricante alemã atualiza seu portfólio apresentando a quarta e mais recente geração, a NMC4 (Níquel, Manganês e Cobalto) para ser utilizada nos modelos Mercedes-Benz eCitaro, eCitaro G, eCitaro K e eCitaro Fuel Cell a partir de 2026. A nova bateria combina alta densidade energética, que permite autonomias maiores, com uma vida útil muito longa. Segundo informações, a durabilidade estendida é alcançada não apenas por meio de carregamento suave com potência máxima de 150 kW, como também por meio de recargas rápidas regulares com capacidade de até 300 kW.

Walter Barbosa, vice-presidente de Vendas, Marketing e Peças & Serviços Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, acompanhou o lançamento do modelo e comentou sobre suas peculiaridades, que ainda só estarão disponíveis para o mercado europeu. Em sua visão, o eIntouro nasceu com uma proposta inovadora para confirmar a competência da Daimler Buses em desenvolver e produzir veículos incorporados da melhor tecnologia existente. “Também, como novidade, o modelo conta com motor central CeTrax dual com alto desempenho para o segmento de fretamento e intermunicipal. Quanto as baterias de LFP, essa opção foi pelo tipo de operação em que o eIntouro estará presente, sendo que a tecnologia é ideal para velocidades maiores e tem um valor menor em relação a NMC4. Isso tudo sem perder sua capacidade e alta durabilidade, de até 15 anos”, informou.

Walter Barbosa

Em relação à bateria NMC4, Walter disse que a novidade começa a ser comercializada na Europa em 2026, mas que, num futuro próximo, poderá chegar ao Brasil, sem precisar uma data. “A Daimler Buses focará, neste primeiro momento, no mercado europeu objetivando a substituição das gerações mais antigas que chegam ao seu limite de vida útil. Esse novo tipo de baterias pode substituir, perfeitamente e de forma eficaz, a tecnologia que já vem sendo usada desde 2018. O cliente pode escolher pela atualização das células ou por um conjunto totalmente novo”, explicou.

Suporte ao cliente

E não é, somente, em inovações tecnológicas que a Daimler vem atribuindo sua experiência na eletrificação do transporte. A fabricante passa a ressaltar os serviços sob a marca Omniplus Charge, atuando como consultoria às operadoras de transporte na transição para a eletromobilidade.

Em linhas gerais criou-se um ecossistema que reúne consultoria, planejamento e construção de infraestruturas para a eletrificação por intermédio das baterias e hidrogênio, a partir de uma única fonte, mediante solicitação. Isso inclui desde a análise da viabilidade até a configuração personalizada de ônibus elétricos e a infraestrutura completa, como obras civis, instalações elétricas, sistemas de recarga, armazenamento de baterias, gerenciamento de carregamento e diversos serviços digitais.

Nova geração de bateria promete maior desempenho nas operações

Outra solução inovadora é o Omniplus On monitor tracking services plus, voltado para geofencing (cerca virtual) com controle de velocidade, que permite configurar zonas com limite máximo de velocidade, ativadas automaticamente, impedindo que o limite definido seja ultrapassado.

Walter Barbosa comentou que a versão Omniplus Charge dá ao operador uma gestão dedicada das baterias, com um monitoramento em tempo real das condições operacionais das mesmas, o que favorece o desempenho e a maior vida útil. “Deixamos de vender ônibus, apenas, para contribuirmos com a operação, viabilizando ao transportador as condições para que ele alcance rendimento e o uso com desempenho da tecnologia que dispomos. E, para a mobilidade, damos nossa contribuição para que os impactos ambientais negativos sejam o menor possível”, contou o executivo.

Recarga elétrica garantida

Para poder dar continuidade ao seu processo de eletrificação das frotas de ônibus urbano, com o fornecimento de produtos competitivos e eficientes, a Daimler Buses instalará suas próprias estações de recarga públicas para ônibus elétricos, com foco em destinos turísticos de alto tráfego na Europa. A rede poderá ser instalada, por exemplo, em estacionamentos de ônibus em parques de diversões ou outros pontos das cidades.

A informação foi dada na Busworld 2025 e é mais um passo para que a marca impulsione a expansão da infraestrutura de recarga de alto desempenho para além das rodovias nos próximos anos. Essa iniciativa terá início com um projeto-piloto lançado pela agência regional de energia e proteção climática NRW.Energy4Climate em cooperação com a cidade de Colônia. Como decorrência, quatro pontos públicos de recarga rápida para ônibus elétricos serão instalados perto do centro da cidade no próximo ano.

Com isso, as operadoras que têm ônibus elétricos poderão recarregar rapidamente seus veículos, independentemente da marca, com eletricidade verde. As quatro novas estações de recarga rápida fornecerão uma potência nominal de 400 kW cada uma e estarão acessíveis ao público 24 horas por dia, 7 dias por semana. “O futuro do ônibus é elétrico. No entanto, a construção da infraestrutura pública de recarga necessária está demorando muito. Queremos dar um impulso importante com nossas estações de recarga. Nosso novo ônibus intermunicipal elétrico à bateria, o eIntouro, já conecta cidades e áreas rurais. Ele também é adequado para viagens mais curtas. Estas são atualmente as aplicações mais práticas para ônibus elétricos fora do transporte público urbano. O veículo já se beneficiará da expansão da infraestrutura pública de recarga. No entanto, para viagens de longa distância, é necessária uma rede abrangente para que as operadoras de ônibus possam utilizar ônibus elétricos de forma econômica e sem comprometer o conforto dos passageiros”, destacou Till Oberwörder.

Imagens – Revista AutoBus

A revista AutoBus viajou até Bruxelas a convite da Mercedes-Benz do Brasil

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