*Por Bia Lima
Nós, mulheres, representamos hoje cerca de 19,5% da força de trabalho no setor de transportes brasileiro, segundo dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT) referentes a 2024. Apesar de ainda modesto, esse percentual vem crescendo. No transporte rodoviário de cargas, por exemplo, a presença feminina saltou de 15% em 2023 para 26% em 2024. Essa evolução reflete iniciativas que valorizam a inclusão e qualificação feminina em frentes que vão da operação à gestão, da comunicação à governança corporativa. E, nesse cenário, o movimento “Elas no Transporte” desponta como plataforma estratégica de conexão entre lideranças femininas da mobilidade.
Criado por Luciana Herszkowicz (diretora Paraty Mobilidade e CEO/Founder EKHOA) e Niege Chaves (Grupo MobiBrasil), o grupo propõe fortalecer o papel das mulheres no setor por meio de trocas, capacitação e visibilidade. Mais do que discutir números, o movimento aposta em ações concretas que ampliam a presença feminina em posições estratégicas, incentivam empresas a revisarem suas estruturas de liderança e constroem uma rede colaborativa que acelera a mudança. Como destaca Luciana, “nosso papel é criar espaços de troca e construção conjunta, para que essas mulheres fortaleçam seus negócios e impactem o setor de mobilidade como um todo.” Ao seu lado, Niege — referência em gestão e sustentabilidade — une técnica, propósito e sensibilidade para tornar o transporte mais diverso, eficiente e humano.
O último encontro do grupo, que ocorreu no dia 29/10, no Varandas do Shopping Iguatemi, em São Paulo reuniu lideranças femininas de diferentes regiões e empresas atuantes no transporte urbano e rodoviário, em entidades, sindicatos e grupos empresariais. Estar presente foi testemunhar a força de uma mudança em curso. Um setor historicamente masculino começa, de fato, a abrir espaço para novos olhares e novas formas de liderar.
Como jornalista e comunicadora do setor rodoviário, que há três décadas acompanha essa caminhada — e como mulher cercada por outras mulheres que me inspiram, como minha mãe Leila e minhas filhas Julia, Luiza e Isabella — reconheço o valor de fortalecer a cultura da equidade de gênero e a presença feminina em espaços de decisão e no mercado de trabalho. Essa presença, aliás, já é tangível e transformadora.
Compartilho o trabalho diário com duas mulheres que admiro e que simbolizam essa transformação: Letícia Pineschi, amiga e parceira de jornada no setor rodoviário, é uma voz consistente na defesa da mobilidade segura e do transporte regular, mostrando que comunicar com propósito também transforma realidades; e Roberta Faria, à frente da Rodoviária do Rio S/A — a primeira mulher a ocupar a diretoria-geral da concessionária, marcos simbólicos de representatividade e de força feminina que se consolida no setor.

A diversidade não deve ser apenas uma pauta de inclusão. É, sim, um fator estratégico de competitividade
Outras lideranças reforçam essa nova geração de mulheres que impulsionam o transporte e que tive o prazer conhecer e de partilhar vivências nesse encontro, entre elas: Raíssa Santos Cruz, presidente do Setransp — a primeira mulher a comandar o sindicato das empresas de transporte de passageiros da capital sergipana, que trouxe pautas de inclusão e diálogo para a agenda institucional; Luana Fleck (diretora do Grupo Ouro e Prata e líder do belíssimo projeto Rota Feminina Move); Rebeca Leite (CEO e fundadora da Mobs2); Andréa Cavalcanti (gerente executiva de Relações com o Poder Legislativo/ CNT); Rafaela Cozar (Head de Gestão e Inovação da Roda Brasil Logística e vice-presidente do Sindicamp) e Simone Krüge Fizzo (vice-presidente de Recursos Humanos, Jurídico e Compliance da Mercedes-Benz América Latina), palestrante do painel sobre lideranças femininas na transformação da mobilidade que ocorreu no dia seguinte (30/10) no Arena ANTP 2025. Todas elas, com suas trajetórias, ampliam a pluralidade de olhares e fortalecem o papel das mulheres que hoje movimentam — com competência e propósito — o transporte nacional.
Que fique claro: o Elas no Transporte não é um evento isolado, mas uma plataforma viva de construção coletiva e que vem crescendo em seu número de adeptas, com a meta de alcançar 200 líderes engajadas até 2026. Embora não seja o único fator responsável pelo aumento da presença feminina no transporte, o movimento acelera esse processo, dando visibilidade às lideranças e inspirando empresas a repensarem suas práticas. Como lembra Niege, “cada mulher que avança abre caminho para muitas outras.”
Nesta reflexão pretendo comprovar que a diversidade não deve ser apenas uma pauta de inclusão — é, sim, um fator estratégico de competitividade. Empresas com lideranças equilibradas entre homens e mulheres tendem a ser mais inovadoras, produtivas e sustentáveis, segundo dados do Fórum Econômico Mundial. Também não nos esqueçamos do número crescente de motoristas mulheres, que exercem cargos importantes na linha de produção de montadoras ou atuam nas fábricas do setor, garantindo com técnica e precisão que cada veículo ganhe as ruas. Em síntese, a presença feminina no transporte vem se traduzindo em melhor atendimento, maior eficiência operacional e decisões mais alinhadas às demandas das cidades e dos passageiros.
Ao olhar para essa rede de mulheres, vejo um setor em pleno processo de reinvenção com a vontade genuína em cada uma delas de transformar. Quando o setor abre espaço para diferentes vozes, ele cresce. E quando as mulheres movem o transporte, o setor inteiro avança.
O que pode mudar com o movimento?
O movimento pode mudar a forma como o transporte de passageiros e cargas se enxerga e se organiza internamente. Ao reunir empresárias, executivas e sucessoras em ambientes de confiança, conteúdo qualificado e experiências marcantes, o “Elas no Transporte”:
Acelera processos de sucessão e profissionalização nas empresas;
Fortalece a voz das mulheres em debates técnicos, institucionais e políticos;
Estimula culturas organizacionais mais diversas, modernas e alinhadas às expectativas da sociedade;
Ajuda o setor a sair da defensiva para assumir seu papel de protagonista em temas como mobilidade, inclusão, sustentabilidade e desenvolvimento econômica

*Bia Lima é jornalista há quase 30 anos no transporte rodoviário. Atualmente, é editora da Revista ABRATI, atuando, também, na comunicação de empresas como a Guanabara e Rodoviária do Rio S/A, Socicam, compartilhando insights sobre mobilidade e comunicação
Imagens – Divulgação





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