Conceito verde e amarelo

A propulsão híbrida tende a ser mais uma opção no cardápio de tecnologias para a descarbonização do transporte coletivo urbano

É chover no molhado dizer que a fabricante gaúcha de ônibus, Marcopolo, se diferencia no mercado por proporcionar uma visão empreendedora que objetiva o melhor do transporte de passageiros. Porém, nunca é demais ressaltar que a marca deixou de ser uma mera produtora de carroçarias para se tornar uma referência no desenvolvimento de ônibus, onde a preocupação é atender às diversas demandas, sejam operacionais ou ambientais.

E, dentre os mais diversos projetos que trabalha, com uma equipe altamente gabaritada em promover novos conceitos e ideais tecnológicos por meio de propulsões limpas, inovadoras e realistas com cada nicho operacional, um tem chamado a atenção em meio ao que se imagina de solução para a descarbonização do transporte coletivo. Falamos da tração híbrida, aquela que combina um pequeno motor de combustão interna e o propulsor elétrico, além de um banco com baterias de lítio.

Depois de criar um modelo menor, com a versão do Volare equipado com a tração híbrida (etanol/eletricidade), a empresa apresentou, recentemente, o protótipo de um ônibus maior, nesta primeira unidade, com a carroçaria do Torino para aplicações urbanas, também, com o mesmo conceito, reforçando o seu pioneirismo no setor. Para a Marcopolo, sua solução Híbrida Etanol é Carbono Net Zero, ou seja, o CO2 emitido pelo veículo é neutralizado pelo resgate de CO2 no plantio da cana-de-açúcar ou outras fontes de etanol, como milho, sorgo ou trigo.

O foco principal é demonstrar a viabilidade da tecnologia híbrida com etanol como uma solução viável para todos os municípios brasileiros e para os operadores, sendo que a inovação pode ser de implementação quase imediata. Renato Machado Florence, gerente de Engenharia de Planejamento e Desenvolvimento da Marcopolo, disse que a empresa vem trabalhando, com muita vontade, no desenvolvimento de tecnologias alternativas ao diesel que visam a descarbonização do transporte. “Estamos desenvolvendo muitos projetos voltados para a descarbonização dos ônibus, com foco em biocombustíveis, com o intuito de aproveitar o potencial brasileiro para uma renovação sustentável da frota nacional, além da eletrificação que já estamos inseridos no mercado”, observou.

O conceito, ainda, passará uma extensa prova de avaliação, testes e de homologação

De acordo com a Marcopolo, a mobilidade sustentável é essencial para a descarbonização e a qualidade de vida urbana, sendo que o deslocamento das pessoas nas cidades é um dos principais desafios para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Por isso, acreditar que um único ônibus pode transportar dezenas de passageiros emitindo até oito vezes menos CO2 por pessoa do que o transporte individual motorizado, é essencial nos dias de hoje. O dado está no estudo completo da Coalizão dos Transportes, liderada pela CNT (Confederação Nacional do Transporte).

O Volare híbrido foi exposto até na Europa, mais precisamente na edição deste ano da Busworld, mostrando ao mundo nossa capacidade em poder desenvolver veículos sustentáveis e eficientes. Agora, com o Torino híbrido, mostrado na COP 30, em Belém, a marca gaúcha dá mais um passo rumo à um completo portfólio de produtos com propulsão limpa.

Florence comentou, em entrevista exclusiva, que esse novo projeto utilizou um veículo que já estava em operação nas ruas de Caxias do Sul, tendo o chassi Agrale a diesel como base do ônibus. Após as modificações necessárias ele recebeu um motor elétrico de tração central, no conceito serial, mais um motor de combustão a etanol e as baterias de lítio. “O gerador elétrico, que é o motor 1.0 turbo a etanol, fará a função de recarga elétrica a bordo. Assim, as baterias que seguem todos os protocolos de especificação do estado de carga, colocam o motor elétrico para ser tracionado. Em linhas gerais, o veículo que estamos desenvolvendo tem piso alto e as baterias ficam instalados junto ao quadro do chassi”, explicou o gerente da Marcopolo.

Esse novo modelo, que não é um híbrido plug-in, diga-se de passagem, irá passar por um processo extenso de avaliação, testes e adequação da sua tecnologia ao que será exigido em termos comerciais. “Nosso trabalho, neste momento, será avaliar toda a eficiência do sistema de propulsão, bem como da recarga das baterias e o comportamento das mesmas na operação. A Marcopolo desenvolveu um software que gerencia eletronicamente a arquitetura elétrica do veículo. Também, calibramos o ponto de funcionamento do motor de combustão interna para que trabalhe de forma correta ao gerar energia para as baterias. Além disso, estamos conversando com o Ibama sobre a homologação do Torino Híbrido quanto as emissões poluentes, que deverão atender a norma Proconve P8”, informou Florence. Por enquanto, disse ele, o projeto tem uma perspectiva muito positiva sobre sua sustentabilidade ambiental.

Detalhe do sistema elétrico

Com o objetivo de aumentar a recarga elétrica às baterias, o veículo conta, ainda, com o sistema regenerativo das frenagens, que é capaz de gerar eletricidade assim que o motorista aciona os freios no para e anda das cidades. Outro detalhe informado é que há a possibilidade de se adotar uma transmissão, com pequeno número de marchas, para que a eficiência, tanto em potência, como em consumo energético, possa ser melhorada nas operações.

Para o gerente da Marcopolo, essa sinergia criada pela engenharia da fabricante gaúcha vai ao encontro com os anseios ambientais tão debatidos neste momento, quando o transporte tem sido um dos temas centrais quanto ao alcance da redução das emissões dos gases poluentes. “Apesar da eletrificação ganhar força em muitos lugares, com os ônibus 100% elétricos, nós da Marcopolo acreditamos nas diversidades tecnológicas em tração limpa, seja nesse protótipo de híbridos, nos biocombustíveis e no biometano. Costumo dizer que o futuro não será elétrico, mas eclético”, reforçou Florence.

A expectativa da fabricante é que seu Torino Híbrido possa ter seus protótipos de avaliação comercial no segundo semestre de 2026.

Finep assina contrato com a Marcopolo para projeto pioneiro de mobilidade sustentável

A Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), assinou contrato com a Marcopolo, para financiar seu projeto inovador voltado ao desenvolvimento de dois modelos de veículos com tração híbrida (etanol/eletricidade). O projeto, no valor de R$ 115,4 milhões, dos quais R$ 80,8 milhões serão recursos da Finep, representa um avanço estratégico para a descarbonização do transporte coletivo no Brasil.

Ao longo do prazo de 24 meses para execução do projeto, serão desenvolvidos protótipos e veículos-piloto de quatro modelos de micro-ônibus e um modelo de ônibus urbano, além dos sistemas produtivos necessários para sua fabricação inicial. Pablo Freitas Motta, CFO da Marcopolo, disse que a empresa dá mais um passo em direção à mobilidade sustentável com o lançamento de um projeto inovador de propulsão híbrida etanol-elétrico, sendo a iniciativa um objetivo de acelerar a descarbonização do transporte coletivo, especialmente em regiões com infraestrutura limitada para recarga de veículos elétricos. “Por utilizar etanol proveniente da cana-de-açúcar — uma fonte renovável que absorve CO₂ da atmosfera durante o cultivo — o projeto contribui para um ciclo de carbono neutro, reduzindo de forma significativa o impacto ambiental em comparação aos combustíveis fósseis. A iniciativa reforça o protagonismo da Marcopolo em soluções de mobilidade, promovendo sustentabilidade, geração de empregos, capacitação técnica e fortalecendo a competitividade do Brasil no cenário global”, ressaltou.

Formalização do apoio à tecnologia

Imagens – Divulgação

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