Gontijo e Scania formam uma parceria longeva em ônibus

Operadora mineira reforça o bom relacionamento com a fabricante de chassis

Um negócio que vem de muito tempo, em plena Segunda Guerra Mundial, com o ideal de transportar pessoas num período repleto de desafios para tal feito, como a falta de estradas adequadas em uma operação realizada sob os efeitos da dedicação, da luta e da garra em atuar nas diversas frentes que eram exigidas. Assim foi com Abílio Pinto Gontijo, mineiro de Carmo do Paranaíba, que começou a empreender desde muito cedo por meio de sua curiosidade na área da mecânica.

O fato é que Abílio, sempre atento ao seu interesse em conhecer, iniciou seus trabalhos numa oficina mecânica, aprendendo a mexer com os motores, se tornando sócio desse comércio até que resolveu mudar de ramo, partindo para o transporte de pessoas, tendo interesse na operação entre as cidades Carmo do Paranaíba e Patos de Minas, localizadas no Triangulo Mineiro. Ao comentar o interesse pelo serviço e solicitar a cota de gasolina ao prefeito de sua cidade natal (durante a 2ª Guerra as prefeituras controlavam os volumes de combustíveis), animou-se em ter seu próprio veículo.

Após ter adquirido uma jardineira Chevrolet 1940, em Belo Horizonte, na volta descobriu que decisões políticas não se sustentam como devem ser após acordos, seja no fio do bigode ou protocolarmente. Com isso, a cota de gasolina que lhe estava prometida fora dada ao seu concorrente.

O fato lhe causou desgosto e até uma ira descontrolada, com muitos pensamentos ruins passando por sua cabeça a fim de resolver esse destrato. Mas, com os ânimos mais calmos e o conhecimento em mecânica, não se deixou abater pela negativa em obter combustível. Pelo contrário, o interesse sobre a mecânica lhe serviu de inspiração para que usasse álcool, após modificar a estrutura do motor de sua jardineira, para cumprir sua meta operacional. Assim, depois de ser bem sucedido na experiência com o biocombustível, deu a largada para aquela que foi o embrião da Empresa Gontijo de Transportes.

Abílio Gontijo – sabedoria que o ajudou na construção de uma grande empresa

Mesmo enfrentando as péssimas condições das estradas, obrigando a operação a promover muitos desafios em épocas de chuvas, Abílio conseguiu, pouco a pouco, expandir seus negócios, ligando diversas localidades mineiras, contribuindo com o desenvolvimento das regiões por onde passava. Com Juscelino Kubitscheck na presidência do Brasil, a política rodoviária ganhou contornos significativos, sendo que novas estradas foram abertas e o pavimento das existentes recebeu o asfalto.

Assim, mais um ciclo de expansão é dado pela transportadora, permitindo muitas rotas comerciais dentro do estado mineiro. “Meu pai, desde pequeno, sempre foi empreendedor, com uma coragem tremenda em crescer com seu negócio, tendo iniciativa de iniciar novas rotas operacionais, sempre atento ao fato de promover os melhores serviços, com segurança e conforto”, lembrou Marco Antonio Gontijo, um dos filhos de Abílio e que está a frente da gestão da operadora.

Em ciclo nacional, seu crescimento operacional se deu entre as regiões Nordeste e Sudeste com a aquisição de outras operadoras, como a Bonfinense e a Varzealegrense. Hoje, com grande atuação nessas linhas interestaduais, a Gontijo continua operando em ligações intermunicipais (1/3 de suas linhas), com predominância mineira. “Meu pai conseguiu transformar a empresa em uma referência de mercado depois de muito trabalho, observando as necessidades de seus clientes, sempre investindo em produtos e mão de obra para que possamos dispor dos melhores serviços. Temos 1.500 motoristas e 1.000 ônibus, além de uma cultura que busca valorizar o ser humano”, disse Marco.

Modelo de ônibus que é o padrão na operação da Gontijo

Aliás, a questão da valorização profissional tem sido um ponto importante na filosofia administrativa da empresa, que tem constantes programas de treinamento de motoristas para aperfeiçoá-los junto à operação e a tecnologia veicular. “Nós temos uma escola de formação de motoristas, com instrutores que promovem treinamentos aos profissionais do volante de outras áreas que buscam entrar em nosso quadro. Por isso investimos muito e damos condições para que esses profissionais estejam adequados aos nossos procedimentos. Nós queremos ser reconhecidos como uma empresa excelente para que o profissional possa trabalhar, que ele nos procure afim de estar em nosso quadro”, afirmou o empresário.

Nesse mesmo contexto em que busca as melhores condições trabalhos para seus condutores, em um momento de escassez de profissionais na área, a Gontijo disponibiliza em sua frota o uso de câmeras que monitoram as condições de direção nas viagens. De acordo com Marco Gontijo, a iniciativa é uma forma de conscientização para que o motorista dirija dentro dos mais seguros padrões de operação. “Não queremos punir esses profissionais, mas dar a eles a conscientização que precisa conduzir seu ônibus com toda a atenção. Nós rodamos 10 milhões de quilômetros por mês e a insegurança nos acompanha em muitos trechos. Com as câmeras conseguimos reduzir o número de problemas e acidentes, detectando fadiga e ações impróprias, como o uso de celulares. Se ele estiver cansado, por exemplo, conseguimos contatá-lo para que possa tomar uma atitude que não comprometa sua viagem. O investimento foi grande nos últimos três anos, mas posso dizer que o fato de salvar as vidas sob nosso domínio vale a pena”, ressaltou Marco.

Tudo começou com a jardineira Chevrolet 1940, há mais de 82 anos

As dores do setor são sentidas e reveladas pelo empresário sob a forma de muitos desafios que devem ser ultrapassados, como a falta do motorista no mercado, a competição com o transporte irregular e as condições das estradas, com muitos trechos que carecem de conservação. “Quando comecei a trabalhar na Gontijo, tínhamos 300 ônibus com motor dianteiros para serem operados em estradas com condições ruins. Hoje, temos, apenas, 10. Vi que o Brasil evoluiu muito nesse quesito, mas há problemas. Em nosso estado, Minas Gerais, é preciso maior investimento para que as estradas melhorem. Quanto aos motoristas, tratam-se de nosso maior desafio, pois o setor sente muito a falta desse profissional. Sobre a competição irregular, não é fácil trabalhar num mercado em que grande parte dos participantes não seguem determinadas pelo poder concedente”, observou Gontijo.

A relação com a Scania

O empresário, que é engenheiro mecânico, está envolvido com a transportadora desde 1982, quando, com 17 anos, passou a fazer parte das operações. Segundo ele, a relação comercial com a Scania começou em 1980, depois de um longo período utilizando outra marca de ônibus em sua frota. “Meu pai, lá naquela época, precisava de um produto robusto para as operações. E, naquele começo de década, tínhamos outras opções de marcas, porém, Sr. Abílio preferiu o nome Scania pelo bom atendimento, com um serviço de pós-vendas adequado às suas demandas. Assim começou essa história que dura até hoje”, lembrou Marco Antônio.

Da versão BR 116, passando pela família K, culminando com a atual geração de chassis, a convivência com a marca trouxe muitos resultados favoráveis, apesar de momentos em que problemas existiram, mas com soluções que sempre buscaram a melhoria dos produtos no decorrer do tempo. “Nossa relação com a Scania foi além de comprar veículos. Ao longo do tempo conseguimos tirar o melhor proveito dos ônibus, sempre com o apoio da marca. Temos duas curiosidades nessa relação: a fábrica sempre manteve um técnico em nossa empresa para entender toda a nossa operação, com a função de promover um atendimento dedicado quanto a ensinar o melhor da tecnologia embarcada nos ônibus”, observou o empresário.

Os primeiros ônibus Scania da Gontijo

Desde 1995, a Gontijo utiliza em seus ônibus o retarder, componente que visa ampliar a segurança, “com muita eficiência”, conforme o diretor da transportadora destacou. No decorrer desses 45 anos de parceria, a empresa usou a configuração 4×2 e 6×2, sendo esta última a mais operada neste momento. Há, também, os ônibus maiores, 8×2, com 15 metros e carroçarias Double Decker, que são utilizados em linhas específicas, desde 2020.

Porém, nem tudo foram flores nessa relação. Alguns períodos de questionamentos e de discussão da relação, assim como casados passam em suas vidas, aconteceram entre Gontijo e Scania. “Tanto meu pai, como eu, vivemos e acompanhamos toda a evolução da marca e seus ônibus. Claro, houve períodos de discórdia e algumas reclamações entre nós e a Scania, sempre com o intuito de melhorar os veículos. Um caso curioso aconteceu quando meu pai quis conhecer a Scania sueca, lá na década de 1990. Viagem acertada, ele levou junto uma caixa com diversas peças que estavam dando problema nos ônibus para serem mostradas ao presidente da Scania mundial, já que a unidade brasileira não conseguia resolver suas demandas. Meu pai sempre foi muito focado e com isso ele conseguiu que a fábrica sueca conhecesse aquilo que estava causando contratempos em nossa frota”, destacou Marco.

Outra ressalva dita pelo empresário é que em toda a linha do tempo do desenvolvimento de chassis de ônibus da marca no Brasil, a contribuição da Gontijo foi fundamental para que a estrutura dos veículos sofresse um processo de evolução contínua em relação a componentes e peças. “Nós sempre vivemos os problemas diretamente, sempre repassando à fábrica o que acontecia com nossos ônibus, pois meu pai conhecia muito de mecânica. Dessa maneira conseguimos melhorar alguns dos componentes presentes nos chassis, como eixo e o sistema de freios. Isso, foi determinante para reforçar o nosso relacionamento”, lembrou o operador mineiro.

Veículos históricos preservados pela transportadora

Também, sobre a contribuição da empresa com a evolução dos ônibus, Marco Antônio disse que neste momento vem testando um modelo da Scania, na configuração 6×2 equipado com o motor “Super”, presente positivamente nos caminhões da marca, e que poderá estar na gama de chassis. “É um veículo todo equipado com sensores, sendo monitorado constantemente, que passa por uma minuciosa avaliação e trocas de componentes pela fábrica e que estamos operando na linha Belo Horizonte a São Paulo. Neste momento posso dizer que tem apresentado resultados positivos em economia de consumo”, adiantou.

Outra curiosidade nesse relacionamento comercial, a história mostra que por um tempo a Gontijo não investiu na marca Scania, isso na época do lançamento da linha K113, quando decidiu-se pela renovação com outra marca. Contudo, a fabricante sueca não se deu por vencida e insistiu que a operadora mineira continuasse a ser um de seus principais clientes, oferecendo à ela a nova geração 124 de chassis, produto que não existia no Brasil. “A fábrica brasileira importou da Suécia 100 unidades desse chassi, incorporado de muita modernidade e uma nova geração de motor, com alto rendimento. A marca nos antecipou a novidade quando ainda não tínhamos nada igual em tecnologia. Assim continuamos com a parceria, na qual estamos satisfeitos até hoje”, lembrou Marco.

Ônibus Double Decker em operação pela Gontijo

Para finalizar, o empresário ressaltou em suas memórias o processo de sucessão promovido por seu pai, que em vida procurou deixar seu legado para que seus filhos (hoje, são quatro no quadro administrativo) dessem continuidade ao especial trabalho desenvolvido por Abílio Gontijo. “Meu pai foi muito dedicado e tinha prazer em trabalhar. Com isso ele nos deixou esse gosto para que continuemos a trajetória da empresa. Hoje, já temos a terceira geração de nossa família envolvida com a empresa visando nossa sucessão”, finalizou.

Imagens – Acervo revista AutoBus e Divulgação

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *